35°

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Continuação...

Ana Luz

Eu o olhava descrente, o que deu nele? Antes que começasse a brigar e gritar comigo, eu me adiantei.

— O que foi?— ele subiu o olhar pros meus olhos e expressou ainda mais raiva.— foi você que fez!— ele ergueu uma sobrancelha— No hotel. Você fez tudo isso!— um desespero me bateu e eu me soltei dele me virando e pegando sabão líquido na pia e passei no meu pescoço, peguei água e esfreguei rapidamente ainda assustada, se esse louco achar que foi outro ele me mata— Olha aqui, tudo isso foi você! Lembra?!— com o medo evidente, me virei novamente mostrando as agora pequenas manchas de chupão que ele tinha feito em mim e que eu tive a maior dificuldade pra cobrir ontem.

Ele os analisou minuciosamente sem se aproximar muito, depois fechou os olhos ao mesmo tempo que soltava o ar forte de sua boca.

— Só entra— apontou pro box, caminhei até lá— tira a calcinha— suspirei tirando a última peça e
liguei o chuveiro, definitivamente não queria ele aqui mas precisava muito de um banho, sem contar que minha cabeça estava latejando, então apenas entrei debaixo do chuveiro forte e de temperatura gostosa, fechei os olhos sentindo a água cair por todo meu corpo.

Permaneci lá tentando ao máximo cobrir minhas partes íntimas com meus braços e mãos, sabia que ele iria entrar e já estava desconfortável desde já, não quero transar, não quero ser tocada por ele, tenho medo do quão bruto ele vai ser por causa da raiva e tenho medo de não superar isso.

A água caia e eu sentia um pouco de relaxamento com isso, a minha cabeça finalmente estava diminuindo a tensão e consequentemente a dor, ouvi ele fechando o box e senti sua aproximação, ele tocou de forma delicada em mim, no meu rosto, e sinceramente era a última parte em mim que eu achei que ele tocaria agora, ele segurou meu rosto com as duas mãos e seu polegar fez uma espécie de carícia nos meus lábios.

— O que você está fazendo comigo?— as palavras saíram baixinhas da sua boca mas não tinha certeza se ele estava falando pra mim ou pra ele mesmo.

Permaneci de olhos fechados e embaixo d'água apenas ouvindo o som da água caindo, da respiração pesada dele e involuntariamente uma de minhas mãos acabou tocando o seu peito nú pra manter uma certa distância e pude sentir seu coração acelerado, automaticamente fazendo com o que meu coração também acelerasse, saí um pouco da água para que pudesse abrir os olhos.

— Eu não fiz nada.— minha voz também saiu em um sussurro e nossos olhares estavam 100% conectados, mas dessa vez eu também sentia essa necessidade e por isso não desviei o olhar nem por um segundo.

— Não faz mais isso, não sai mais assim — meu olhar se intensificou, talvez por causa do seu tom mais baixo e agoniado ao mesmo tempo— Não sei se iria conseguir me controlar de novo.

— Está dizendo que me machucaria mais?— ele não esboçou reação a minha pergunta — está dizendo que me mataria?

— Eu tô dizendo que não sei o que seria capaz de fazer.— nossos olhares eram intensos e eu me assustava a cada palavra mas ao mesmo tempo estranhava a maneira confusa que ele estava falando, assim como com seu carinho desengonçado em cada lado do meu rosto era como se a conversa dele fosse mais interna do que comigo, pelo visto ele procurava se entender tanto quanto eu.

— Por que você enlouquece tanto com isso?— foi a minha vez de questionar em total confusão.

— Eu não sei— ele então parou a carícia estranha e me largou, imediatamente senti falta, preferia o seu carinho a sua grosseria e estupidez, que eu sabia que estavam prestes a voltar— só entende a tua situação de uma vez por todas, não quero te machucar, então colabora comigo!— seu olhar já vacilava entre meus olhos e meu corpo, já eu me recusei a olhar pra qualquer lugar que não fosse seus olhos naquele momento, o vi engolir em seco no mesmo momento que eu.

Aqueles olhosOnde histórias criam vida. Descubra agora