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Fazia um bom tempo que Beatriz estava debruçada sobre os livros, estudando para as provas na faculdade, que em breve teriam início. Ela e Vítor, o namorado, estudavam comunicação social na PUC, só que ele, dois anos mais velho, estava prestes a se graduar e tentar carreira como repórter esportivo. Vítor era o carioca típico: moreno, queimado de sol, porte atlético e muito simpático. Praticava surf e adorava esportes. O pai, Gilson Betuel, era dono do jornal Mundo Econômico, especializado em bolsa de valores, negócios e tudo o mais que pudesse interessar ao mundo da economia e das empresas.

Com ar cansado, Beatriz esfregou as têmporas e consultou o relógio: já passava das sete horas, e ela precisava se arrumar. 

Colocou o livro de lado e foi tomar um banho demorado. Levou cerca de vinte minutos embaixo do chuveiro, deixando que a água se derramasse intensamente sobre sua cabeça, para desanuviar um pouco a mente dos estudos. Depois, desligou a torneira e saiu para o quarto. 

á estava praticamente vestida quando o irmão mais novo, Nícolas, de nove anos, bateu na porta e chamou sem abrir:

- Beatriz! Abra. Ele já chegou.

Tornou a olhar o relógio e constatou que Vítor estava dez minutos adiantado.

- Diga a ele que já vou - pediu. Enquanto corria para o armário em busca de algo apropriado para vestir. - Papai e mamãe já chegaram? 

- Ainda não. 

- Pois então, faça companhia a ele até eu terminar de me arrumar. 

Ela ouviu os passos do irmão se afastando pelo corredor a galopes e foi terminar de se arrumar. Estava tranqüila com aquele encontro. Os pais eram pessoas simpáticas e avançadas, e também estavam ansiosos para conhecer Vítor, de quem muito pouco sabiam. Beatriz não era o tipo de pessoa de fazer comentários sobre a vida do namorado e detestava interrogatórios, principalmente aqueles relacionados à família, que era a preocupação de todos os pais. 

Ainda tinha vívida na memória à lembrança do dia em que o  conhecera. Era uma sexta-feira chuvosa, e ela estava sem carro e sem guarda chuva. 

 As amigas já tinham ido embora, e ela sentou-se a uma mesinha da cantina para esperar a chuva passar. Pediu um refrigerante light e ficou mordiscando o canudinho, bebericando a goles curtos enquanto se distraía com o barulho dos pingos de chuva pipocando no chão. 

- Acho que essa chuva não vai parar tão cedo - disse uma voz a seu lado. Levantou os olhos e fixou-os no rapaz. Ele estava vestido com uma capa de chuva engraçada, tinha uma corcova na altura das costas, provavelmente a mochila, e um capacete preso debaixo do braço.

 - É... - divagou ela. - Faz algum tempo que estou aqui, e ela nem diminuiu. 

- Posso sentar-me ao seu lado? - tornou ele, já puxando a cadeira e sesentando, colocando o capacete em outra. 

- Você está de moto - a constatou. ― Mas tem uma capa impermeável. Está com medo de enfrentar a chuva? 

- Não. Na verdade, eu já estava saindo quando a vi sozinha aqui e resolvi me aproximar.

- Por quê?

- Sabe, já faz algum tempo que venho reparando em você. Você faz comunicação social também, não faz? 

Ela assentiu e retrucou interessada: 

- Como assim, também? É o que você estuda?

- É, sim. Estou no último período, mas sei que você está no quarto. 

- Como é que sabe? 

- Já disse que tenho reparado em você. Vejo-a entrar na sala do quarto período com suas amigas. 

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora