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A preocupação era uma constante agora na vida de Gilson. Sentia que o inevitável estava para acontecer e não podia fazer nada para impedir a torrente que ameaçava se derramar sobre a sua vida e inundar a sua felicidade. No que estava pensando ao marcar aquela entrevista do filho com Amélia? Estava arriscando muito, apostando bastante além do que poderia bancar. Mas não tinha jeito. O plano estava articulado, e tudo se resolveria rapidamente. 

O encontro com Suzane fora decisivo. Achava-se velho para se submeter a uma atitude vergonhosa feito aquela e jurou a si mesmo que jamais tornaria a desempenhar um papel tão desagradável e indigno. Não queria ser preso, mas tinha que assumir os riscos pelo que fizera. Se algo acontecesse, a responsabilidade era sua. Tinha em mãos o endereço da mãe verdadeira de Beatriz, mas não se atrevia a procurá-la. A experiência com Suzane já fora suficiente. 

De onde estava, Gilson ouvia o filho falar ao telefone com Beatriz, fingindo não prestar atenção ao que ele dizia. Só lamentava por ele. Não queria vê-lo envolvido em tamanha sordidez, mas não tinha mais jeito. Vítor comentava algo sobre o rapaz que confundira Beatriz com Suzane no outro dia, na praia, e Gilson cerrou os olhos, derramando lágrimas silenciosas enquanto escutava tudo. Não. Decididamente, não havia outro jeito. Pelo bem de todos, tinha que fazer aquilo.

- Vai sair? - o indagou, assim que Vítor passou pela sala.

- Vou me encontrar com Beatriz.

- Está tudo bem?

- Está.

Ele saiu, e Gilson se entregou novamente a seus pensamentos. Lembrava-se de Lorena e de tudo que fizera por ela. Fora um fraco que se deixara arruinar por amor, mas agora estava decidido. Lorena partira de vez e não poderia impedi-lo nem ser prejudicada pelos seus atos. Ao contrário do que pensava, Lorena estava a seu lado, pronta para aceitar as conseqüências do que ele fizesse. Se perdesse seu lugar na casa, não fazia mal. Aquele não era mais o seu mundo, e ela começava a tomar consciência disso. Não que estivesse feliz com a perspectiva de perder sua pousada, mas pensava em como fazer para iniciar novos rumos. Será que, se pedisse, alguém viria buscá-la? Resolveu sair ao encalço do filho, para afugentar o desânimo. Beatriz desligou o telefone e ficou alguns minutos fitando o vazio, procurando não pensar no encontro que tivera com René. Foi para o quarto que a mãe transformara em ateliê e onde se entretinha a desenhar um novo modelo de jóia.

 Carminha levantou os olhos quando ela entrou e sorriu.

- Algum problema, minha filha?

- Nenhum... - Beatriz deu a volta na mesa e deu uma espiada no desenho, indo sentar-se num pequeno sofá embaixo da janela. 

- Você se lembra de quando estava grávida de mim? - indagou de repente. 

Carminha gelou. Como podia se lembrar de algo que não vivenciara?

- Por que a pergunta?

- Gostaria de saber se a sua gravidez foi parecida com a minha. Você ficou enjoada?

- Um pouco.

- Eu não sinto enjôo algum.

- Que bom, Beatriz.

- E eu nasci de parto natural ou cesariana?

- Normal.

- Vocês ficaram felizes?― O que você acha, minha filha? Não está feliz com o seu filho?

- Estou. Mas por que você e papai esperaram tanto para ter filhos? Do jeito que você adora crianças, não faz sentido terem esperado quase dez anos para ter o primeiro.

- Eu... - ela começou a gaguejar e acrescentou com cautela - na verdade, perdi três bebês antes de você nascer.

- Perdeu? Por que nunca me falou sobre isso?

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora