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Carminha quase não conseguiu dormir naquela noite, assolada pela ansiedade, o medo e a dúvida. Renato, a seu lado, também não conciliava o sono, mas os dois evitavam falar, guardando as energias para o encontro do dia seguinte. 

Logo pela manhã, telefonou a Graziela, que não pôde deixar de esconder a surpresa ao ouvir a voz de Carminha.

- Sei que não temos nos falado muito - justificou Carminha -, mas preciso mesmo me encontrar com você. É um assunto de extrema importância para nós duas. 

Não foi nem preciso perguntar do que se tratava. Graziela já sabia.

- Terei o maior prazer em recebê-la em minha casa - afirmou Graziela. - Quando é que vem?

- Pode ser hoje?

- Pode.

- A que horas é melhor para você?

- Depois do almoço, está bom?

- Está ótimo. 

Quando Carminha tocou a campainha da casa de Graziela, foi Suzane quem veio atender.

 Aquela recepção foi proposital, e Carminha sentiu imensa vertigem pelo fato de que Graziela já conhecia Suzane. Oferecer ajuda agora seria desnecessário, porque Graziela, sozinha, conseguira se aproximar da filha. Restava-lhe apenas lutar por Beatriz.

- Queira entrar, Carminha - convidou Suzane, chegando para o lado e lhe dando passagem. - Graziela já vem. 

Não foi surpresa para Carminha que Suzane a conhecesse. O encontro no zoológico ainda a aterrava dia após dia, e ela dispensou a farsa do assombro. À falta do que dizer, permaneceu calada, sentindo as faces arder em com o olhar insistente de Suzane. Foi um alívio quando Graziela entrou.

- Como vai, Carminha? - cumprimentou Graziela. 

- Há quanto tempo, não é mesmo?

- Bastante.

- Acho que já conhece Suzane.

 - De vista.

Suzane sorriu para as duas e pediu licença para se retirar.

- Quer beber alguma coisa? - indagou Graziela.

- Não, obrigada. 

Graziela se sentou na poltrona em frente a ela e esticou as pernas. Acionou um pequeno controle remoto, e uma música suave se espalhou no ambiente.

- Para relaxar - anunciou, e Carminha sorriu. - Muito bem, aqui estamos. O que você queria falar comigo?

- Acho que você já sabe por que vim. Por isso, podemos dispensar os preâmbulos.

- Excelente. Gosto de ir direto ao assunto.

- Noto um tom hostil na sua voz, Graziela, mas quero que saiba que não estou aqui como sua inimiga.

- Em momento algum pensei uma coisa dessas. Caso contrário, não a teria recebido.

- Muito bem. Você está mesmo um tanto hostil, mas não lhe tiro a razão.

- Eu teria motivos para ser hostil?

 Carminha abaixou a cabeça e não respondeu, mas falou com um sofrimento visível e genuíno:

- Você sabe o que é perder um filho... Pode imaginar como me senti com a perspectiva de perder os meus.

- Eu não perdi um filho. Tive duas filhas roubadas e um marido assassinado. Não é uma situação muito semelhante à sua, é?

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora