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Mais do que a indiferença de Suzane, doía em René a mentira que ela inventara, fingindo-se passar por outra pessoa só para dizer que não o conhecia. Além de mudar o cabelo e até engrossar um pouco a voz, trocara de nome e insistia que se chamava Beatriz. E, o pior de tudo, estava grávida e não lhe dava o direito de saber se o filho que carregava era dele. Apesar de uma voz interior lhe afirmar que não era, precisava se certificar. 

René terminou mais cedo as apostas do jogo do bicho e foi postar-se diante do condomínio de Beatriz. Uma hora ela teria que aparecer, e ele não perderia a oportunidade de falar-lhe. Esperou até o final da tarde, quando ela surgiu sozinha em seu carro. No momento em que embicou o veículo na entrada da garagem, ele se aproximou pelo lado do motorista, antes que acancela de acesso se levantasse completamente. 

Beatriz levou um tremendo susto e instintivamente olhou para o segurança que ficava na guarita de vigia, e o homem, percebendo o seu temor, começou a se aproximar rapidamente.

- Por favor, Suzane, não faça isso - pediu René com tranqüilidade, deixando transparecer que viera em paz. - JEu só quero falar com você.

-Já disse que não sou essa Suzane - protestou Beatriz, de repentes e sentindo uma onda de simpatia por ele, como se soubesse que ele não seria capaz de lhe fazer nenhum mal. 

O segurança se aproximou e indagou com voz autoritária:

-Tudo bem aí, Dona Beatriz? 

Ela olhou do homem para René e respondeu com certa hesitação:

-Tudo bem, Reginaldo, obrigada. 

O segurança se afastou, mas permaneceu olhando para René, desconfiado, mantendo uma posição de alerta

- Não quero discutir nem brigar com você - continuou René. - Eu só peço que fale comigo um pouco.

- Onde?

- Pode ser ali, do outro lado da rua, naquele quiosque. Está cheio de gente. Por favor, vamos. 

Ela se perdeu num minuto de hesitação, até que acabou por concordar. Voltou de ré com o carro e estacionou em frente ao condomínio. Iria acabar logo com aquele mal-entendido. 

Sentaram-se a uma mesa mais para perto da rua, de onde ela podia enxergar o condomínio e o segurança na guarita. Pediram um refrigerante, e ela foi logo dizendo:

- Não sou quem você está pensando.

- Então quem é? - revidou René com ironia. - Um clone da Suzane?

- Se isso fosse possível, muita gente acreditaria. Ou que eu tenho uma irmã gêmea. Mas a verdade é que a sua namorada é alguém que se parece muito comigo, mas não sou eu. - René a fitou incrédulo. - Eu sinto muito.

Beatriz abriu a bolsa e retirou sua carteira de identidade, estendendo-a para René. Ele a apanhou e fitou a fotografia, onde Suzane lhe aparecia séria e linda. Leu o nome, e a frustração o dominou. Aquela moça, efetivamente, não se chamava Suzane, mas Beatriz. No entanto, algo em particular lhe chamou a atenção. A data de nascimento.

- Vocês nasceram no mesmo dia... - o estranhou.

- Como? - tornou Beatriz perplexa.

- Você e Suzane nasceram no mesmo dia. Como me explica isso?

- Não posso explicar. E não acredito que você esteja falando sério.

- Estou, sim. Quando vi o seu nome, quase acreditei em você. Mas a data de nascimento é a mesma. É muita coincidência, não acha? O que você fez? Falsificou uma carteira de identidade?

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora