A primavera trouxe sol e muitas flores que desabrochavam nos jardins do engenho de cana-de-açúcar do barão Valverde. O barão, de nome Abelardo, se tornara um homem muito rico. Casado com dona Ismália das Dores, tinha um filho, Euclides, o futuro promissor de todos os seus
negócios.Euclides era um rapaz inteligente e bonito, embora desligado do trabalho e dos assuntos da fazenda. Gostava de farras e de bebida, mulheres e jogos de azar. Não demorou muito para Euclides se encantar com uma das escravas da fazenda. Era uma menina de seus dezesseis anos, a quem cabia o serviço doméstico de arrumar as camas e limpar os quartos. Aparecida era filha de uma escrava e de um ex-capataz da fazenda, um português beberrão que perdeu o emprego quando o barão de Valverde descobriu o caso entre os dois. Mas ficou com a menina, para ajudar as criadas de dentro nos cuidados com a casa. Quando Euclides a viu, não pôde pensar em mais nada nem ninguém. Apenas Aparecida ocupava seus pensamentos e seu coração.
Mandou que ela fosse ao seu quarto à noite e ordenou que se deitasse com ele. Chorando e
com medo, Aparecida obedeceu, mas logo se afeiçoou ao rapaz e ia aos seus aposentos praticamente todas as noites depois disso. Um dia, porém, Aparecida engravidou, e Euclides destruiu todos os seus sonhos. Ao contrário do que ela esperava, ele se afastou horrorizado, do, principalmente, da reação do pai. Se o barão não aceitara a relação entre o capataz branco e a mãe de Aparecida, o que diria de um relacionamento entre seu próprio filho e uma escrava? Quando o ventre de Aparecida começou a inchar, Euclides logo tratou de se desvencilhar dela. Mandou-a de volta para a cozinha e trancou a porta do quarto, de forma que ela não pudesse mais entrar à noite. Em alguns meses, não foi mais possível ocultar a gravidez.Ao perceber a gestação, Ismália e Abelardo pressionaram a menina para que lhes contasse a verdade. Ela só chorava e não dizia nada, com medo da reação do barão.
Mas a ameaça do chicote acabou convencendo-a, e Aparecida terminou revelando:
- Foi o sinhozinho Euclides...
- O que!? - disparou a baronesa, indignada. ― Não minta, menina!
― Não estou mentindo. Foi o sinhozinho Euclides, já disse.- Mentirosa! - berrou Ismália. - Meu filho jamais se deitaria com uma negra!
- Ele se deitaria sim - falou o barão entre os dentes. - Euclides é jovem e não pode ver um rabo-de-saia.
- Não pode ser - protestou Ismália. - Euclides é um rapaz de princípios.
- Vá chamá-lo.
- Não. Recuso-me a crer numa barbaridade dessas.
- Vá chamá-lo, já disse!
Ismália obedeceu.Euclides estava no quarto ressonando, às dez horas da manhã, porque havia voltado tarde de mais uma de suas noitadas. Apareceu na sala esfregando os olhos, em mangas de camisa, no rosto o sinal da farra da noite anterior.
Olhou para Aparecida ali parada, segurando o ventre volumoso, a cabeça baixa, o peito arfante dos soluços reprimidos, e entendeu tudo.
- Sente-se - ordenou o pai secamente.Euclides fez como ele mandou. Queria fugir correndo dali, mas não podia. O pai estava diante dele, aos berros, apontando o dedo acusador para ele e para a barriga de Aparecida. A mãe, a um canto, chorava de mansinho, o nariz enfiado no lenço bordado de cambraia.
Depois de dado o sermão, Abelardo se acalmou. Mandou que Aparecida saísse e sentou-se ao lado do filho, que temia até encará-lo.
- Vou mandá-lo estudar em Coimbra - anunciou ele incisivo. - Dentro de, no máximo, um mês, você parte para Portugal.
- Não! - protestou Ismália, toda chorosa. - Não pode me separar de meu único filho.
- Nós falhamos na educação desse menino. Dezenove anos e não faz nada da vida. Só quer saber de se deitar com as negras e ficar na cidade, farreando até tarde da noite. Isso tem que acabar.
- Mas nós podemos dar um jeito nisso. Não o mande para longe, Abelardo, ou morrerei de tristeza.
- Deixe de bobagens, mulher. Ele pode vir nos visitar nas férias e no Natal. E vai ser bom para ele. Já é um homem, tem que tomar um rumo na vida.
Um mês depois, Euclides se foi, sob o pranto sentido da mãe e o desespero de Aparecida. Seu futuro era incerto, e ela temia pelo bebê.
― O que faremos com a menina? - interrompeu Ismália.
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Gêmeas - Não se separa o que a vida juntou
SpiritualLivro escrito pela autora Mônica de Castro, apegada ao espiritismo e foi nesse mundo onde conhece Leonel, um espírito que mostra a ela história que teve com seu amor ainda em vida. Acreditando ou não em espiritismo eu peço que se permita ler essa n...