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Nos últimos tempos, a lembrança de Lorena se tornava cada vez mais vivida na mente de Gilson. Era como se a mulher, de uma hora para outra, houvesse ganhado vida e estivesse sempre ao seu lado. Havia vezes em que ele sentia, realmente, sua presença, e, não fosse tão cético, diria que o espírito dela o estava acompanhando.Uma suave batida na porta desviou os seus pensamentos, e Vítor entrou sorridente. 

- Meu filho! - exclamou Gilson. ― Que agradável surpresa. 

Vítor o beijou no rosto e sentou-se na poltrona defronte à mesa do pai. 

- Queria falar com você. 

- Pode falar. O que é?― É sobre a minha carreira e o meu futuro.

-  Você sabe que tem um lugar garantido aqui no jornal. Você é que não quer. 

- Não gosto da área econômica, pai. Mas se você começar a introduzir outras seções em seu jornal, com certeza, faria parte de sua equipe. 

- Sobre o que gostaria de escrever? 

- Esportes. 

- Eu já devia saber. Um filho surfista não poderia gostar de outra coisa. 

- Esporte é legal, pai. É uma área tão séria e de tanta responsabilidade quanto qualquer outra. 

- Sei disso, meu filho. Respeito muito os repórteres esportivos e admiro o seu trabalho. 

- Pois então, pai? Por que não inauguramos uma coluna esportiva no seu jornal? Eu poderia me encarregar disso. 

- Não sei. O Mundo Econômico tem uma tradição no ramo econômico.

- E daí? Ninguém está falando em mudar a sua linha editorial, mas acrescentar algo novo pode dar um impulso ao jornal. É sempre bom estar renovando. 

- Hum... Pode ser que você tenha razão. Esporte sempre agrada a todos, inclusive aos empresários. Quem é que não assiste a uma partidinha de futebol? Posso pensar em uma seção esportiva, se é o que você deseja. 

- Eu ia adorar! Poderíamos manter os executivos informados sobre partidas de futebol, campeonatos de tênis e tudo o que possa interessar ao mundo dos esportes.

- Vou pensar no assunto, Vítor, mas já posso lhe adiantar que você tem uma grande chance de conseguir o que quer. Os outros diretores vivem dizendo que precisamos nos modernizar. Eu é que ainda resisto às mudanças. Nosso jornal é sério e de grande prestígio, mas concordo que é um pouco austero demais. 

- Os tempos hoje são outros, pai. Seriedade não exclui prazer e entretenimento. Ainda mais agora, com a internet mantendo todo mundo informado com tanta rapidez. 

- Tem razão. Vou marcar uma reunião com a diretoria e, mais tarde, volto a falar com você.

- Obrigado. Se me der esse crédito, garanto que não vou decepcioná-lo.

- Confio em você, meu filho. Vai ser um excelente jornalista. 

Vítor deu um abraço no pai e mudou de assunto:

- Não gostaria de almoçar comigo e Beatriz hoje? Para conhecê-la. 

- Hum... Está bem. A que horas? 

- A uma, está bom? Viremos da faculdade direto para cá. 

- Está ótimo. Aguardarei vocês.

 Apesar de temer aquele momento, Gilson conseguiu manter o controle por todo o almoço. Beatriz era simpática e inteligente, além de muito bonita. Simpatizou com ela de imediato, apesar da revolta de Lorena e do perigo da situação. Se Lorena estivesse viva, se teria aliado a Renato para impedir o namoro dos dois. Ele, contudo, não tinha mais ânimo para aquilo. No momento em que a mulher morrera, tinha enterrado o passado junto com ela. 

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora