Foi com imensa surpresa que Graziela recebeu em sua casa a visita de Carminha e Beatriz. Eram as duas pessoas mais improváveis de encontrar ali, e o seu espanto só não foi maior do que a sua alegria. A decisão de procurar Graziela partiu de Beatriz, e Carminha a acolheu com certa relutância. Por mais que compreendesse e desse razão a Graziela, tinha medo de perder o amor da moça que amara como filha durante a vida inteira.
- Isso não vai acontecer - garantiu Beatriz. - Já não sou mais criança e sei muito bem o que quero e o que pensar. No começo, fiquei decepcionada, triste e revoltada... muito mais com a mentira do que com o fato de ter sido adotada. E ser filha de Graziela, para mim, também não foi fácil. Afinal, eu nunca simpatizei com ela. Mas não adianta querer torcer a vida para que ela seja do jeito que desejamos. Tenho que aceitar as coisas como são e venho procurando compreender Graziela.
Carminha abraçou-a com efusão e acariciou o seu ventre volumoso:
- Meu neto vai sentir orgulho da mãe.
No dia em que tiveram aquela conversa, Beatriz estava muito segurado que pretendia fazer, e a segurança se transformou em certeza quando viu Graziela sentada no sofá, diante dela, com toda a emoção estampada no olhar, e o rosto de Suzane virado para ela como uma réplica de si mesma.
Perto delas, invisíveis, os espíritos de Roberval e Aécio compartilhavam daquele momento de reconciliação
- Sei que vocês não esperavam a nossa visita - disse Beatriz -, mas tínhamos que vir mesmo assim.
- Não esperávamos, mas ficamos muito felizes - rebateu Graziela. - Vocês não sabem o quanto desejamos a sua vinda.
- Acho que tenho que me desculpar com você, Graziela - afirmou Carminha. ― Fui egoísta e mesquinha, mas nunca lhe quis mal.
- Você não precisa se desculpar. Sou mãe e entendo perfeitamente o seu desespero. Também eu tudo faria para proteger os meus filhos.
Carminha olhava de Graziela para Suzane, sentindo pela gêmea de sua filha uma simpatia que até então não percebera.
- A semelhança entre vocês duas é incrível - observou ela.
- Somos gêmeas univitelinas, mamãe - falou Beatriz. - Não podíamos ser diferentes.
- Mas tão iguais assim...
- Se você observar bem, verá que há umas pequenas diferenças entre mim e Beatriz - avaliou Suzane. - E acho que ela é uns dois centímetros mais alta.
- Será?
Enquanto ficavam comparando as semelhanças e diferenças, Graziela as fitava com intensa emoção, imaginando que aquela era a realização de seu sonho: ver suas duas filhas juntas em harmonia.
Depois de algum tempo, Beatriz tornou a falar:
- Sei que o passado é doloroso, Graziela, mas eu gostaria de saber o que realmente aconteceu.
Ante o olhar de ansiedade de Beatriz, Graziela lhe contou tudo, sem ocultar nem falsear a verdade. A narrativa era muito mais dolorosa para Beatriz do que fora para Suzane, porque não fora o pai adotivo de Suzane quem matara seu verdadeiro pai. Contudo, Beatriz ouviu com coragem, tentando não emitir qualquer julgamento a respeito da conduta de Renato.
Ao final, todas estavam chorando, inclusive Carminha.
- Eu jamais desisti de procurá-las. Aécio, meu segundo marido, me ajudou de todas as formas, mas não foi possível localizá-las. Vocês haviam desaparecido sem deixar rastro, porque a operação de Gilson era muito bem montada, e não havia documentos nem testemunhas.
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Gêmeas - Não se separa o que a vida juntou
SpiritualLivro escrito pela autora Mônica de Castro, apegada ao espiritismo e foi nesse mundo onde conhece Leonel, um espírito que mostra a ela história que teve com seu amor ainda em vida. Acreditando ou não em espiritismo eu peço que se permita ler essa n...