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O ônibus seguia pela avenida ensolarada naquele final de tarde, e Suzane via sua vida passar correndo diante da janela. Tudo acontecia tão rápido que ela mal tinha tempo de refletir se aquilo era mesmo o que o seu coração queria. Colocara na cabeça que precisava recuperar o dinheiro roubado para se vingar de Cosme, mas será que valeria a pena? Se arranjasse sua vida no Rio de Janeiro, por que voltar a Brasília e reviver toda aquela humilhação? E depois, o que poderia fazer contra Cosme? 

Quando o ônibus parou no ponto em que deveria descer, o coração de Suzane deu um salto. René estava parado lá, provavelmente à sua espera, e ela experimentou uma alegria conflitante, feliz e contrariada ao mesmo tempo. Saltou calmamente e fingiu que não o viu, pondo-se a caminhar em direção a sua casa, sabendo que ele a seguiria. 

- Seu namorado não costuma trazer você em casa, não? - perguntou ele atrás dela, carregando na ironia. - Prefere deixá-la vir de ônibus a gastar a gasolina da sua Ferrari?

Ela se voltou indignada, sentindo toda a alegria por vê-lo esvair-se naquele sarcasmo. 

- Para início de conversa, ele não tem uma Ferrari. E depois, ele não me traz em casa porque eu não quero. 

- Por que não? Gosta de sentir a fornalha de dentro do ônibus? 

- Pare com isso, René. Está sendo inconveniente e chato. 

- Não fique brava comigo - retrucou-o, em tom mais conciliador. - Essa é a forma de demonstrar o meu ciúme e a minha inveja. Queria ter o que ele tem para que você fosse minha. 

- Eu não sou dele, não serei sua nem de ninguém. 

- Mas é com ele que você transa. 

- Isso não me torna propriedade dele. 

- Eu não me importaria em ser propriedade sua. Queria mesmo que você fosse a minha dona para fazer de mim o que bem entendesse. 

- Que coisa horrível, René! 

- Não é horrível. Esse é o ponto a que minha paixão por você chegou.

Ele a apanhou pelo pulso, tal qual fizera da outra vez, e beijou-a com ardor e volúpia. Ao contrário do que esperava, ela não o repeliu, mas devolveu o beijo com a mesma intensidade. O beijo logo deu lugar ao desejo, e ele a empurrou contra a parede, colando seu corpo ao dela e acariciando-a por inteiro, buscando o seu sexo por debaixo do vestido. 

- Aqui não - sussurrou ela, com medo de que alguém os visse. - Vamos para a minha casa

Chegaram ao seu apartamento em poucos minutos, ainda mais consumidos pelo desejo. René levou-a para o quarto, e os dois se amaram com paixão. Depois que terminaram, ele ficou olhando-a com ar apaixonado, puxando as pontas de seus cabelos e levando-as às narinas para absorver o seu perfume suave. Suzane sentia vontade de se entregar àquele deleite, mas a lembrança de Leandro transformava o encanto daquele momento em um tormento sofrido de culpa, embora sem arrependimento

- Em que está pensando? - perguntou René. 

- Em nada. 

- Mentirosa. Aposto como está pensando naquele carinha rico, não é? 

- Aquele carinha rico é meu namorado - a retrucou, esforçando-se para parecer zangada. 

- Você não o ama. 

- Amo... 

- Mas então, por que me trouxe para cá? - ela não respondeu. ― Porque você gosta de mim, mas está tentando se convencer de que ama o ricaço. 

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora