06

183 14 1
                                    

Os convites já haviam sido enviados s para a recepção de bodas de pratade Carminha e Renato, caso contrário, ele teria suspendido a comemoração.Não sentia a menor animação para festas. A novidade com que a filha o surpreendera estragara o seu humor, e ele só pensava em como encontrar umamaneira de afastá-la daquele rapaz.

Evitou encontrá-la durante os dias que se seguiram e não tocou maisno assunto com a mulher, embora Carminha lhe perguntasse várias vezes oque havia acontecido. 

Descobrir o telefone do jornal de Gilson não foi difícil, e Renato ficoucom o número no bolso até tomar coragem para ligar. Não gostaria de falarcom ele novamente, mas não havia outro jeito. O interesse em afastar os doisdevia ser mútuo. 

Do celular, ligou para o jornal, e a secretária que o atendeu informouque Gilson ainda não havia chegado. Renato conseguiu estacionar o carronuma vaga próxima e postou-se em frente ao prédio em que funcionava ojornal. Não demorou muito, e Gilson apareceu. 

Estava mais velho, mas aindaera o mesmo, e Renato facilmente o reconheceu. Quando Gilson seaproximou, logo notou o outro parado ali. Abordou-o com ar cansado e, sem estender-lhe a mão, disse calmamente: 

- Renato...  Já faz mais de vinte anos. 

- Vinte anos que vivi sem nem lembrar de sua existência. Mas agora... 

- Agora... Sei por que está aqui. 

- Imagino que sabe. Depois de tantos anos, só um assunto deextrema gravidade como esse para me colocar em contato com vocênovamente. 

- Entendo. 

- Já pensou a respeito? - ele assentiu. 

- E que atitude vai tomar? 

- Nenhuma. 

- Nenhuma? Ficou louco? Não sabe em que esse namoro pode dar?

- Se não falarmos nada, eles acabarão se afastando normalmente. Ésó um namoro de juventude sem maiores consequências. Agora, se fizermosalarde, eles vão se unir ainda mais.

- E deixá-los à vontade para que descubram tudo? Jamais! 

- Eles vão descobrir se nós nos comportarmos de forma a levantarsuspeitas. Vítor já andou me fazendo perguntas sobre você. Está desconfiadode que nos conhecemos e que existe alguma animosidade entre nós. E apostocomo sua filha tem a mesma desconfiança.

Renato concordou com a cabeça e retrucou cheio de fúria: 

- Mais um motivo para impedir que aqueles dois namorem. Já pensouse eles resolvem se casar?

- Você está antecipando as coisas. Não creio que isso vá acontecer... 

- Tudo é possível, e precisamos nos cuidar. Ou será que você estápronto para enfrentar a cadeia? 

- Você tem motivos para temer a prisão mais do que eu. 

- Não tenho, não! E o proíbo de tocar nesse assunto. É coisa dopassado, acabou. 

- Esse não é um passado que se possa esquecer facilmente. Todavia,concordo que o mais importante é nos concentrarmos nos meninos. Eu aindaacho que, se não dermos importância ao fato, eles acabam terminando onamoro naturalmente. 

- Não posso confiar nisso. Preciso fazer alguma coisa. 

- Toda trama requer uma boa dose de frieza e dissimulação. Se suafilha perceber, tudo vai por água abaixo, e só o que você conseguirá é que elafique com raiva de você. 

- Não quero tramar contra a minha filha - protestou ele com raiva. ―Quero apenas a felicidade dela. 

- E eu, a do meu filho. Só que não é assim que conseguiremos isso. 

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora