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Um trem parecia ter atropelado a cabeça de Beatriz, que segurava nas mãos o resultado do exame de sangue que fora buscar naquela manhã. Achava praticamente impossível que aquilo tivesse acontecido, mas era verdade. Com todas as suas precauções e cuidados, algo em seus métodos preservativos falharam, e ela estava grávida. E uma gravidez, naquele momento  representava uma mudança brusca em seus objetivos

A dor de cabeça era resultado da raiva contundente de Lorena, que via naquela gravidez todo o fracasso de seus planos. Lorena a rodeava furiosa, praguejando contra ela e dando socos violentos na mesa. A moça nada percebia, mas o mal-estar foi-se acentuando, até que viu Vítor se aproximar.

- Desculpe-me a demora, meu bem - falou ele, beijando-a com ternura e jogando ao seu redor folículos cor-de-rosa carregados de amor. Percebendo que ela não ia bem, Vítor a abraçou com efusão, e uma chuva rósea se derramou sobre ambos, causando uma sensação de desconforto em Lorena. O espírito se afastou contrariado. Não podia suportara aquelas vibrações de amor puro e sincero, que não se casavam com os seus propósitos mesquinhos

- Você pegou o resultado do exame? - perguntou ele ansioso. 

- Peguei. 

- Deu positivo, não foi? - ela assentiu. - Só podia ser, pela sua cara. 

- E agora, Vítor, o que vamos fazer? - ele passou a mão pelos cabelos e não respondeu. - Precisamos contar aos nossos pais. 

- Calma. Vamos pensar primeiro. 

- Mas não tem outro jeito! Já estou grávida de seis semanas, e abarriga logo vai crescer. 

Ele coçou a testa e considerou: 

- Como é que isso foi acontecer? Nós sempre tomamos cuidado. 

- O que vamos fazer? Meu pai vai ficar furioso. 

- Existem meios mais fáceis de se resolver isso - gritou Lorena à distância. - Faça-a abortar, Vítor! Eu estou mandando! 

Beatriz captou a sugestão distante de Lorena, mas Vítor com ela não sintonizou: 

- E se nós tirássemos o bebê? - perguntou ela em lágrimas. 

- De jeito nenhum! Você sabe que sou contra o aborto. E você também nunca foi a favor.

- Tem razão, Vítor, perdoe-me - rebateu ela aos prantos.

- Pense bem, Bia. Você não tem motivos para estar assim. Tudo bem que não estava nos nossos planos. Estou me formando, implantando a coluna esportiva no jornal do meu pai, e você ainda está na faculdade. Mas aconteceu. Sei que vai ser difícil, mas podemos lidar com isso. 

Beatriz chorava, mais pela influência de Lorena do que pelo seu próprio desespero. As palavras sensatas de Vítor, contudo, jogaram uma luz sobre a sua aflição, e ela pôde raciocinar com mais clareza. 

- Acho que você tem razão - concordou, enxugando as lágrimas. - Na verdade, não sei bem o que me deu. 

- Você é muito jovem e ficou apavorada. É compreensível. Mas vai dar tudo certo. Quando o bebê nascer, já estarei formado e poderei pagar uma babá e uma empregada. E você vai continuar estudando. 

- Será que vai ser assim tão fácil? 

- Vai depender de nós. Afinal, um filho não é nenhum bicho de sete cabeças. Somos jovens, mas não somos crianças. 

Percebendo que perdia terreno, e sem poder se aproximar, Lorena os ficava rodeando, buscando uma brecha por onde pudesse se infiltrar e romper aquela aura de proteção com que o amor de Vítor encobria Beatriz. De longe, esbravejou: Você vai ser péssima mãe, sua bruxa! 

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora