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Por mais que se esforçasse, Beatriz não conseguia simpatizar com Graziela. Havia algo nela que não lhe agradava. O jeito como dançara com o pai na festa a deixara intrigada. Sentia uma ameaça velada e indefinível, algo fantasmagórico, sem forma e sem sombra. Apenas uma vaga impressão que não encontrava razão no mundo dos vivos. 

- Em que está pensando? - perguntou Vítor, enquanto acariciava sua mão por cima da mesa. - Você está distante. 

- Na Graziela Martins. Não gosto dela. 

- Por quê? Achei-a bem simpática. 

- Pois eu a achei detestável. Tem algo nela que não me agrada. Sinto que ela não é confiável. 

- Será que você não está com ciúmes? Só porque seu pai dançou com ela? 

- Não sou idiota, Vítor. Não sinto ciúmes por besteira. 

- Será que não? Você não tem motivo nenhum para não gostar dela. Graziela nunca lhe fez nada.

- Sei que não tenho motivo, e é justamente isso que me incomoda. Por que não gosto dela se mal a conheço?

- Quem vai saber? Seja o que for, deixe para lá. Ela não pode fazer nada para atingir você. 

Beatriz concordou com a cabeça, mas, no fundo, não sabia se acreditava naquilo. Sentia o perigo no ar, contudo, achou melhor não insistir no assunto. Concentrou a atenção no namorado, até que ele pagou a conta, e foram embora. 

Quando chegou a casa, Carminha estava de saída, e Beatriz indagou sem malícia: 

- Aonde é que você vai, mãe? 

- A um chá em casa de Amélia. 

- Sozinha?― Graziela vai comigo. 

- Que Graziela? 

- A única Graziela que conhecemos: Graziela Martins. 

- Por que ela não vai de táxi? 

- Não sei, não perguntei. Qual o problema, hein, Beatriz? 

- Nenhum. Por que ela não arranja um emprego? 

- Ela não precisa trabalhar


- Você também não, mas tem o seu próprio negócio. 

- Faço o que faço por prazer. 

- E Graziela não tem prazer em trabalhar, não é mesmo? Só gosta de ficar por aí à toa, gastando o dinheiro do marido.

Carminha olhou-a surpresa e considerou: 

- Por que essa implicância com Graziela? Ela lhe fez alguma coisa? 

- Não me fez nada.― Então pare com isso. É muito feio ficar julgando e criticando os outros. Ela perdeu o marido e está sozinha. Precisa de amigos. 

Beatriz não disse nada, e Carminha saiu. Estava atrasada e ainda tinha que pegar Graziela. Pontualmente às cinco horas, chegaram à casa de Amélia. Estavam no horário de verão, e o dia claro e ensolarado permitiu que o chá fosse servido à beira da piscina. 

- Fico muito feliz que tenham vindo! - exclamou Amélia, beijando as duas nas faces. 

Da janela de seu quarto, Leandro as observava e declarou: 

- Minha mãe adora uma fofoca. 

- Deixe-a - falou Suzane. 

- Faz bem conversar com as amigas. 

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora