02

213 15 2
                                    

Assim que chegou à casa de Cosme, Suzane entrou sem ser anunciada. A criada que veio abrir a porta deixou-a passar como um furacão, e ela irrompeu pela sala bem na hora do jantar. 

A família toda a olhou espantada, e Suzane começou a gritar: 

- Seu miserável, cafajeste, ordinário! Como pôde atraiçoar o seu próprio irmão? Ladrão! Vai viver a vida toda com essa mancha. Ladrão!Ladrão!

Suzane estava tão transtornada e fora de si que ninguém conseguiudizer nada. Os primos, alheios à realidade da situação, ainda tentaram acalmá-la, mas Cosme mandou que todos se retirassem e os deixassem a sós. 

- Com que direito você vem a minha casa me ofender? 

- Ofender? Com que direito você se sente ofendido? Você é umladrão vagabundo e maquiavélico. Velho nojento, safado, hipócrita! Não sentevergonha de passar por cima da memória do seu próprio irmão e trair asobrinha que confiou cegamente em você? 

- Eu não traí você, Suzane. Muito menos traí meu irmão. 

- Como é que você chama isso então? 

- Estava apenas defendendo os meus direitos. 

-- Essa é muito boa! Que direitos você tem sobre o patrimônio demeus pais? Como advogado, você sabe muito bem que não possui direitoalgum. Tanto que armou aquele teatrinho para usurpar o que é meu. 

- Não fale do que não sabe, menina! Você mesma é que não temdireito algum. 

- Você está sendo ridículo. Sabe muito bem que eu, como filha única,herdo tudo sozinha. E como você não podia colocar as mãos em nada daherança, inventou essa história de procuração, e eu, confiante, assinei sem aomenos questionar. Como pôde fazer isso, tio Cosme? Eu confiava em você.Você é meu tio, irmão de meu pai. Devia me proteger, não me roubar. 

Ela estava à beira das lágrimas, e Cosme aproveitou o momento paraespezinhá-la ainda mais:― Teoricamente, Suzane, você até que teria direito a alguma coisa sefosse realmente filha de meu irmão. Mas acontece que você não é. 

Suzane não entendeu direito o que ele falou e franziu a testa,rebatendo com indignação:

- O que foi que disse? 

-  É isso mesmo que você ouviu.

- Você não é filha de meu irmão. 

- Está sugerindo que minha mãe transou com outro homem... 

- Não é nada disso - cortou ele, abanando as mãos. - Marcos e Elzacompraram você de uma pobre coitada e a criaram como sua filha.

Suzane quase caiu para trás. Levou a mão ao coração e repetiuincrédula: 

- Me compraram de uma pobre coitada? Que brincadeira de maugosto é essa? 

- Não é brincadeira. Você não é filha legítima de Marcos e Elza. 

- Está querendo me dizer que eu fui adotada? 

- Pode-se dizer que sim, embora não pelos meios legais. 

- Isso é um disparate, tio Cosme! 

- Não é, não. Você não tem o sangue de meu irmão nas veias e, porisso, não merece receber um tostão do dinheiro que pertence à minha família. 

- Mentira! - esbravejou Suzane. ― Devia se envergonhar de tentar sedefender com uma infâmia dessas! 

- Se não acredita, faça um teste de DNA. Deixe que a ciência lheconfirme a verdade. 

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora