Quando Renato saiu da prisão, era outro homem. Deixara, na cela que fora a sua moradia nos últimos meses, toda a arrogância e o orgulho de uma vida inteira. Saía modificado e com nova perspectiva da vida e do mundo, pensando apenas em dedicar-se ao trabalho e à família. Queria passar mais tempo com a mulher e o filho. Carminha foi buscá-lo na saída do presídio e levou-o para sua nova casa, onde ninguém os conhecia nem os olhava com olhar de pena ou de acusação.
Renato gostava de montanha, e foram para Friburgo. Era perto do Rio e um bom lugar para recomeçar. Quando chegaram, Renato se sentiu renovado. A casa era maravilhosa, num condomínio cheio de árvores e flores, e ele inspirou o ar puro como quem respira pela primeira vez.
Ao ouvir o barulho do carro, o filho veio correndo e se atirou em seus braços. Estava um rapazinho, e ele o beijou com amor.
- Você está um homem, rapaz! Não havia percebido que crescera tanto.
A pedido do próprio Renato, Nícolas nunca fora visitá-lo na cadeia. Queria poupar ao filho a lembrança de um pai criminoso, preso num lugar fétido e cercado de maus elementos.
Beatriz e Vítor também estavam presentes, e Renato se surpreendeu ao ver o neto correndo pelo gramado ao seu encontro, gritando vovô, vovô, com sua vozinha fina e alegre. Ergueu o menino no colo e o estreitou, surpreendendo-se com o fato de a criança o conhecer.
- Nós dissemos a ele quem você é - esclareceu Beatriz meio sem jeito, beijando o rosto do pai.
Renato se sentiu reconfortado com os filhos e o neto, e buscou Carminha com o olhar. Ela se aproximou e se aninhou em seu braço, dividindo com o menino o abraço do marido. Ele estava feliz. A companhia da família era tudo o que podia desejar. Durante o tempo em que passara na cadeia, o que mais lhe doía era a ausência de seus entes queridos.
Agora, no entanto, iria começar tudo outra vez. Um trovão soou ao longe, e gotas de uma chuva grossa e fria começaram a se derramar sobre eles.
- Vamos entrar! - chamou Carminha, correndo para dentro, com os outros logo atrás.
Apenas Renato permaneceu parado no jardim, recebendo na face aquela chuva que, há anos, não sentia.
- Você não vem, pai? - era Beatriz.
- Vamos, vovô - falou o neto, puxando-o pela mão.
Renato se deixou conduzir, caminhando devagar para poder sentir o frescor dos pingos da chuva, naquele momento reconhecendo o verdadeiro valor que tinham a liberdade e a vida. Não apenas a sua, mas como todas as outras que destruíra.
Estava chorando, mas os pingos de chuva espalhados no seu rosto não permitiam que ninguém percebesse. Entrou em casa pela mão do neto e abraçou a esposa novamente, fitando Beatriz e Vítor com uma emoção nunca antes sentida. Afinal, para ele, não era isso o que importava?
Como de costume aos domingos, Suzane ia com Leandro e Graziela almoçar em casa de Amélia. Após um delicioso churrasco à beira da piscina, Suzane esticou-se na espreguiçadeira para ler o jornal. Apanhou-o e começou a folheá-lo distraidamente. Foi correndo os olhos pelo periódico, até que uma foto lhe chamou a atenção. Nela, um homem muito parecido com seu tio Cosme, ao lado de outro, igualzinho ao doutor Armando, entravam, algemados, numa delegacia de polícia. Acima, a manchete, em letras garrafais: Presos em Brasília o famoso advogado Cosme Brito Damon e seu sócio, Armando Ribeiro, acusados de estelionato, tráfico de influência elavagem de dinheiro.
- Graziela! - gritou Suzane, correndo ao encontro da mãe.
- O que foi?
- Veja isto.
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Gêmeas - Não se separa o que a vida juntou
SpiritualLivro escrito pela autora Mônica de Castro, apegada ao espiritismo e foi nesse mundo onde conhece Leonel, um espírito que mostra a ela história que teve com seu amor ainda em vida. Acreditando ou não em espiritismo eu peço que se permita ler essa n...