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Beatriz terminou de se arrumar em frente ao espelho e sorriu para si mesma, satisfeita com a sua aparência. 

Achava-se uma moça interessante: não muito alta, tez morena e corpo bem-feito. Os cabelos lustrosos e alourados, resultado de sucessivos reflexos, desciam até o meio das costas, encaracolando nas pontas levemente douradas de sol. Era bonita, embora, por vezes, achasse seu corpo um tanto cheio de curvas, mas era contra a "ditadura da magreza" e procurava se manter em forma sem transformar o corpo numa tábua ossuda e esquálida. E Vítor adorava. 

Quando chegou à sala, encontrou Graziela sentada no sofá, bebericando um copo de Martini e conversando com Nícolas. 

Beatriz franziu a testa involuntariamente, imaginando o que aquela mulher estaria fazendo ali. Já ia dar meia-volta sem ser notada, mas o irmão foi mais rápido e a chamou:

- Venha cá, Beatriz. Graziela está contando histórias engraçadas da Itália. 

Beatriz parou onde estava e retrucou com antipatia:

- Obrigada, Nícolas, mas não estou interessada. Se quiser saber da Itália, entro na internet e vejo tudo. 

- Que mau humor, hein? Está na TPM, é? 

- Que coisa feia, Nícolas - censurou Beatriz. - Onde é que está aprendendo a ter esses modos? 

- Deixe estar, Beatriz - interveio Graziela. 

- Ele não disse nada de mais. 

- Pode ser que na Itália ninguém ligue para essas grosserias, mas aqui no Brasil costumamos ter mais educação. 

Graziela sentiu o rosto arder e quase se levantou para ir embora. Como passara muito tempo na Europa, não compreendia o real significado do gracejo de Nícolas, mas deduziu que deveria ser alguma coisa ofensiva ou de mau gosto. 

- Acho que Beatriz não gosta de mim - comentou. 

- Não é verdade! - objetou Nícolas, horrorizado ante a possibilidade de a irmã vir a dizer o que realmente sentia. 

Os dois cravaram os olhares em Beatriz, mas ela não disse nada. Estava furiosa porque o irmão, aparentemente, simpatizara com Graziela. 

- Você não tem nada para estudar, não, Nícolas? - irritou-se. - Não tem trabalho de casa? 

- Não. E se tivesse, não seria da sua conta. 

- Malcriado. 

- Vocês estão brigando? - era Carminha, que acabara de entrar na sala.  -Não acredito. Meus filhos, brigando? Mas vocês sempre foram tão amigos! 

- Para você ver o que uma estranha faz na vida da gente - disparou Beatriz, passando direto pela mãe e abrindo a porta da rua. 

- Perdão, Graziela - desculpou-se Carminha, envergonhada ante a atitude de Beatriz. -

Não sei o que deu nessa menina ultimamente. Ela deve estar com algum problema. 

- Ela ficou toda estressadinha só porque eu falei que ela devia estar na TPM - contou Nícolas. 

- Não devia ter dito isso, meu filho - repreendeu Carminha. - É feio. 

Beatriz atravessou o condomínio furiosa. Além de ter que agüentar a desagradável surpresa de encontrar Graziela sentada confortavelmente em sua sala, Nícolas estava todo animadinho conversando com ela. Estava quase chegando à portaria quando o carro de Vítor surgiu. De tão furiosa, nem viu que era ele, até sentir os faróis cegando os seus olhos. Ia levantar a cabeça e reclamar, mas ele parou a seu lado e abaixou o vidro. 

- Aonde vai? - o indagou, notando o seu semblante fechado. 

- Ia esperar você na portaria - respondeu ela irritada, abrindo a porta do carro e se jogando no banco ao lado dele. 

- O que você tem? - perguntou Vítor, sentindo a exasperação nos lábios que o tocaram. 

- Nada! - gritou ela. 

- Então, por que está assim? Eu fiz alguma coisa? 

- É aquela mulher! - vociferou Beatriz. ― Não suporto aquela mulher. Resolveu aparecer lá em casa sem ser convidada. E até meu irmão, conseguiu colocar contra mim. 

Nesse momento, o espírito de Lorena, atraído pela raiva de Beatriz, aproximou-se dela e começou a instigar-lhe pensamentos de antipatia por Graziela. 

O carro de Vítor ganhou a avenida, e Lorena se acomodou no banco de trás, colocando as mãos na nuca de Beatriz . 

- De quem está falando? - prosseguiu Vítor. ― Da Graziela? 

- E de quem mais poderia ser? - explodiu ela, provocando gargalhadas em Lorena. 

- É muito fácil influenciar essa tonta - afirmou ela com ironia. ― É boazinha, mas se deixa levar facilmente pelo ciúme e a irritação. Gente irritadiça e ciumenta é ótima para a gente se fartar. 

- Acho que você está exagerando na antipatia - rebateu Vítor, sem imaginar a presença da mãe. - Afinal, ela não lhe fez nada. 

- Tem algo nela que não me agrada. Ela não me engana. Está de olho no meu pai, só pode ser. De dinheiro, ela não precisa. Então, só pode estar querendo sair com ele. 

- Não acha que está imaginando coisas? 

Sob a influência de Lorena, Beatriz prosseguia praguejando: 

- Acho que ela é uma sem-vergonha e dá em cima de qualquer homem. O marido morreu, e ela deve estar a perigo. Aliás, devia trair o marido adoidado. Uma mulher jovem feito ela, cheia de fogo, casada com um velho... Não sei, não. 

- Não acha que a está julgando muito mal? Você nem a conhece, não sabe nada sobre sua vida.― Sei o suficiente para afirmar que ela não presta - rebateu Beatriz, cada vez mais irritada, para satisfação de Lorena. ― Minha mãe que se cuide, ou vai perder o marido. Tentei avisá-la, mas ela não me dá ouvidos.

 O sinal ficou vermelho, e Vítor freou o carro, puxando-a para junto de si: 

- Deixe disso, Beatriz - falou ele mansamente, envolvendo-a numa aura de amor que afastou Lorena por instantes. - Por que não esquece Graziela e se concentra só em nós? Podemos ir a um lugar especial. 

Ele a beijou com ternura, e ela correspondeu, intensificando a energia de amor, que começou a se espalhar pelo carro. Beatriz ainda estava enraivecida, mas a vibração de ódio, que a envolvera até ali, começava a se dissipar diante da atitude amorosa do namorado. 

Foi Lorena quem se irritou e teria investido contra Vítor, não fosse ele o seu filho. Incomodada com a aura de amor que ia se disseminando no pequeno ambiente, fez um muxoxo desanimado e desapareceu. 

Livre da influência de Lorena, Beatriz esfregou as têmporas e respirou mais aliviada. Virou o rosto para o lado e se distraiu vendo alguns rapazes que bebiam cerveja e riam alto, sentados à mesa de um quiosque no calçadão da praia. Um deles olhou para ela e fez cara de assombro, erguendo a lata de cerveja e dizendo alguma coisa que ela não compreendeu. O sinal abriu e Vítor acelerou o carro e, um segundo depois, Beatriz já não pensava mais no rapaz que lhe dirigira aquela suposta paquera. 

 (N.A) Na nuca existe um chakra subsidiário, bastante influenciável energeticamente, pó onde penetram as energias mais densas e de vampirização, causando dores de cabeça na pessoa assim atingida. 

Gêmeas - Não se separa o que a vida juntouOnde histórias criam vida. Descubra agora