Eu não sabia se havia dito aquela frase baixa, por que Lucas me olhou com um sorrisinho torto, como se pudesse destruir a minha frase por completa.- Não acho que você deve estar pedindo isso.- Lucas disse, antes de soltar uma risadinha.
- Por que está pensando isso? - Perguntei, subindo alguns degraus da escada.- Por acaso não ver que estamos sozinhos aqui? Claro que seu pai e minha mãe iam pensar merda.
Lucas riu, me acompanhando até o banheiro mais próximo. Esperei paciente por sua resposta, que demorou bastante.
- Claro.- Concordou.- Você tá certa, Lanny. Ainda não esqueci que você disse que ia me contar aquelas coisas, não é mesmo?
Droga. Era aquilo eu tinha planejado a falar, mas tipo, eu só achei que aquele não era o momento bom pra falar sobre mim.
Nós estávamos em um almoço, com minha mãe e o pai dele lá embaixo.
Se eu começasse a falar sobre a minha vida, eu não ia parar até que eu conseguisse falar tudo que tava entalado em minha garganta por anos.
- Não me lembre disso, imbecil! - Brinquei, abrindo a porta do meu quarto.
Não que eu quisesse que ele entrasse em meu quarto, mas tipo, aquele era o banheiro mais próximo.
Ainda bem que o meu banheiro estava limpo e bem organizado.
Cara, Lucas é rico. A casa dele é quase uma mansão. Nem se compara com a minha, mas eu gostava das coisas simples.
- É por aqui.- Alertei, mostrando com a mão a porta do banheiro.- Não ligue e não leia as minhas coisas.
- Pode deixar, madame.- Ele riu, abrindo a porta e fechando logo em seguida.
Eu não queria ter que ficar esperando ele lá fora, então, só abri a porta a porta e afastei um pouco, querendo não ficar constrangida com aquela situação.
Roi umas das minhas unhas grandes, ficando um pouco triste. Cara, mó tempão que elas demoram pra crescer e quando cresce, acaba quebrando.
Depois de uns minutos, Lucas apareceu, sorridente como sempre. O mesmo caminhou em passadas pequenas até mim.
- Obrigada.- Ele disse, sem pensar muito naquilo.- Queria conversar com você. Podemos?
- Que assunto? - Eu perguntei, olhando pra ele com a sobrancelha arqueada. Lucas fez um biquinho super fofo e eu não tive como reagir direito com aquela carinha.- Tá. Essa carinha me convenceu.
- Ótimo.- Ele exclamou sorridente.- Pode ser aqui no seu quarto mesmo? - Assenti.
Andei até a cama e sentei na mesma, enquanto Lucas sentou-se em uma cadeira que estava lá na minha escrivaninha. Eu gostava de usá-la para desistir minha cabeça um pouco.
A mesma estava tão linda. Eu tinha a péssima mania de interferir nas minhas coisas. Eu havia pintado a cadeira toda de amarelo.
Colei algumas coisinhas nela, e a mesma tava engraçada demais.
Lucas começou a rir, olhando pra minha cadeira.
- De que você tá rindo? - Perguntei, cruzando os braços e fazendo beicinho.- Não tem nada de engraçado.
- Ah não? - Lucas riu, apontando pra minha cadeira.- Isso aqui tá parecendo o pintinho amarelinho morrendo. - Ele disse e riu.
Eu não tava gostando nada dele rindo da minha cadeira preferida.
- Calado! - Repreendi o mesmo, dando um tapinha no braço ele.
- Ai, Lanny. Isso doi.- Lucas reclamou, esfregando o braço, que havia ficado vermelho com o meu tapa.- Quer saber? Essa cadeira aqui merece ser jogada no lixo.
- Não.- Discordei, sem pensar muito. - Essa cadeira é a minha amiga. Eu a reformei, então, não vou a jogar a minha bichinha no mato.
- Você que sabe.- Ele disse, meio incerto sobre a minha cadeira.- Cara, você é estranha mesmo. Olha o quanto de papéis que tem colado nessa parede. O que são isso?
Respirei fundo. Era ali que começasse a minha história.
Só Ana, Michelly e a minha mãe sabiam da minha história. Só elas sabem pelo que eu passo e sempre passei.
Eu não gostava de tocar naquele assunto, por que eu começava a pensar em coisas pra não morrer e deixar minha família sem a minha presença.
Elas precisavam de mim. Elas precisam de mim a todo tempo. E se caso um dia eu morrer, elas vão sofrer demais e isso eu não quero.
- Caraca, Lucas. Você sabe que eu tenho problemas com controle.- Ri dele, inclinando um pouco pra frente, pra olhar para os meus papéis.- Tipo, sou obcecada. Totalmente obcecada.
- Obcecada? - Lucas perguntou, fingindo estar espantado com a minha confissão.- Tipo, você necessita? Você tem que ser assim?
- Olha, você tem que prometer que não vai rir de mim, ok? - Perguntei.
- Ok.- Assentiu.- Pode começar, linda.- Corei com suas palavras. Eu soube disso, pois minhas bochechas esquentaram.
- A um tempo atrás, eu tive uma crise se síndrome do pânico.- Respirei fundo, tentando não ficar nervosa.- Minha mãe me levou ao médico, e eles não queriam conversar na minha frente. Eu era bem pequena, mas já sabia de tudo. Minha mãe saiu pra fora com o médico especialista, mas eu fiquei curiosa e fui atrás. Eles conversavam sobre mim. O médico disse que meu caso era difícil e doloroso. Parecia que eu tinha uma rara doença de BULIMIA NERVOSA. Ele disse que os casos eram raros e que poderiam interferir na minha vida. Então, ele disse que era pra minha mãe cuidar certamente de mim. Que era pra mim fazer tratamentos. A última parte, ele sussurrou. Ele disse que se um dia eu tivesse outra crise daquelas, eu poderia entrar em coma e demorar tempo demais pra sair. Talvez até perder a memória.- Dei uma espiada nele e vi que ele prestava atenção em minhas palavras.
- É por isso que você é obcecada por fazer as coisas certas? - Ele perguntou, me olhando fixamente.
- Sim.- Assenti. - Eu não quero ter que passar por isso de novo. Minha família e Michelly vão sofrer, e eu não quero isso.- Acabei deixando uma lágrima escapar.
- Não fica assim. Eu to aqui. Eu vou cuidar de você!
•••
Continua...
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The Boy From Tickets| O GAROTO DOS BILHETES|✔
Ficção AdolescenteLanny estuda em uma das escolas mais populares do Rio de Janeiro e por sempre estudar nessa escola desde muito nova, ela sabe exatamente quem é cada pessoa. Vítima de um bullyng constante, ela só queria um lugar onde ela pudesse ser ela mesma, sem s...