02 - Olhos azuis.

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                 Lanny

Na manhã seguinte, eu acordei animada. Meu humor foi nítido, quando esfreguei os olhos e percebi um grande sorriso em meu rosto. Aquele era o último ano. Depois eu me formaria em letras e pensaria sobre o meu futuro.
Ansiava para que aquele ano fosse alegre, bom e que meus sonhos se realizassem. Iria me esforçar nos meus estudos, continuar lendo meus queridos romances e esperar o meu próprio romance acontecer.

Saltei dos cobertores e observei o despertador. Acordei mais cedo uns quinze minutos, ou seja: eu estava adiantada quinze minutos.
Mas até que era bom. Assim eu teria mais tempo para aproveitar o café da manhã e o percurso até a escola.
No banho, digerir tudo que estava prestes a acontecer: meu ano mudaria, eu teria que conviver mais uns meses com aqueles barulhentos da sala de aula.

Lavei os cabelos e enrolei-me em uma toalha branca.
Vesti um cropped de mangas até os pulsos, uma calça jeans rasgada nos joelhos e nos pés um tênis preto da Adidas.
Eu não gostava de usar muita maquiagem. Eu tinha um pouquinho de sardas negras nas minhas bochechas e eu não queria, de forma alguma cobri-las com uma maquiagem.
Depois de colocar todos os materiais na mochila, eu saí do quarto.
Senti um maravilhoso cheiro de manteiga derretida e fixei o olhar para ver quem estava preparando o café. Vi uma senhora se mover pela cozinha e vi dona Ana.

- Bom dia. - Me pronunciei e Ana deu um pulo para trás de susto. - Desculpe. O que temos para o café? - Perguntei e me sentei a mesa.

- Bom dia menina Lanny. - Sorriu. - Preparei o seu café do jeito que você gosta. Também preparei ovos, bacon, panquecas, waffles, pães de queijo e várias outras coisas.

- Ah, que delícia! - Passei a mão involuntariamente pela barriga e ataquei um waffles e mastiguei, sentindo o gosto na minha boca.

- Como está indo sua família? Nunca mais ouvi você falar deles! - Puxei assunto com Ana. Gostava de o fato de termos intimidade o bastante para falarmos de nossas famílias.

Ana é uma senhora doce e inteligente. Eu a conheci quando era pequena. Quando Ana começou a trabalhar aqui, ela era apenas minha babá e ainda era novinha. Hoje, ela já é avó e fala da família com tanto orgulho. Ana me criou praticamente.
Mas depois dos meus quinze anos, minha mãe queria despachá-la, só que eu não deixei. Minha mãe acabou cedendo, mas com a condição de que Ana fosse a empregada. Eu não gosto muito do termo " empregada", ao contrário, falo com ela normalmente. Para mim ela é como uma mãe.

- Ah, sim. Estão bem! - Se virou para mexer na panela. - Carlinhos começou a aprender a ler. A mãe, está animada demais com a nova professora. - Percebi o enorme sorriso de orgulho em seu rosto.

Eu não conhecia família mais unida e humilde que aquela.

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Depois de muito esperar, a professora de português entrou na sala. Aquela era a primeira aula ainda. Parece que a professora tinha atrasado uns dez minutos.
Português era aula que eu mais prestava atenção e que eu mais gostava. Sentia a necessidade de escrever tudo e estudar para passar nas provas e avaliações que surgissem dali para frente.

Observei os alunos que estavam na sala. As garotas " populares" estavam reunidas em um grupo perto da mesa da professora e os garotos mais bonitos da escola estavam agrupados em um canto no fundo da sala.
Reconheci alguns: Lucas, um garoto MUITO lindo sorria mostrando os aparelhos verdes. Benjamim também sorria de braços cruzados, Vitor e mais alguns dois que eu não sabia o nome de ambos.

- Bom dia, alunos! Desculpem o atraso, tive um problema no trânsito. Mas para adiarmos o  acontecido, vamos preparar a uma redação  sobre o que ambos desejam para o futuro. Quero para agora. - A professora iniciou ofegante. Parecia que ela tinha corrido uma maratona.

Peguei o caderno na mochila e o estojo. Comecei a escrever o que eu desejava.

" O que eu quero ainda não sei se posso explicar em tantos detalhes. Tenho tantos desejos e sonhos que seria incapaz copiar em apenas uma folha. Sei que a vida é cheia de surpresos, altos e baixos; então, não diria nada até ter certeza. A sensação é de que temos mais a perder do que ganhar. Eu por exemplo, tenho um sonho de um dia escrever livros por e inspirar outras pessoas a terem coragem e nunca desistirem dos seus sonhos. Desejo no futuro, escrever livros e apreciar o dom do amor.
Encontrar uma pessoa que valha a pena sorrir boba; uma pessoa que valha a pena eu vai e me machucar. Queria uma pessoa que me beijasse mesmo que meu nariz estivesse escorrendo; uma pessoa que esfregasse meus ombros depois de um longo dia de faculdade. E eu lutaria até meu último suspiro a tentar conseguir avançar mais. Porque... por que existem sonhos a serem seguidos".

Quando terminei, li e reli. Parecia que eu tinha posto meus sentimentos naquele papel, então aquilo era mais do que suficiente.
Entreguei a folha para a professora assim que me levantei. Percebi que um par de olhos azuis me obsevava. Virei me de relance e vi Lucas me olhar atentamente.
Minha barriga começou a esfriar. E aquilo era frio na barriga.

***

Seguinte...

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