Capítulo 28

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Um raio rasgou o céus quando o padre terminou de dizer suas últimas palavras.

Quatro homens desceram o caixão de Vanda, o colocando no fundo da cova.

Como tradição da família da mulher, os homens da família cobriram sua sepultura.
Mesmo estando sozinha no mundo, Vanda tinha um família.
A família que estava ali.

Haroldo tomou uma pá nas mãos encheu-a de terra, jogando sobre o caixão.
Logo em seguida Cristian e Vitor passaram a o ajudar.
Por fim Rafael também tomou uma pá e passou a cobrir o caixão.

Seu coração doía. Havia perdido uma das poucas pessoas que confiaria a vida.
Nem mesmo seu irmão de sangue havia tido tanto apreço.

As pás foram finalmente cravadas na terra ao lado do túmulo e os homens se entreolharam em silêncio.

O padre fechou a Bíblia e suspirou, indicando que já iria.
Haroldo tratou de acompanhar o líder religioso até o lado externo do cemitério.

Como a chuva sua forte, poucas pessoas haviam comparecido no enterro e somente os funcionários da mansão permaneceram até o enterro.

As lágrimas de Eloise caiam sobre as rosas brancas que haviam sido colocadas sobre o túmulo.
Tinha a certeza de que Vanda a xingaria se a visse naquele momento.

— Ela dizia que a morte era apenas o primeiro passo para a eternidade.— a loira murmurou antes de se levantar e encarar a lápide.

Vanda Santiago Sanches
En la eternidad

— Os ciganos não acreditam em morte eterna.— a voz de Arthur surgiu preocupada.

Miranda aproximou-se do túmulo com uma rosa vermelha entre as mãos.
Colocou-a próxima a lápide e sorriu.

— Espero que ela esteja feliz em sua eternidade.— a morena murmurou ao observar a loira.

Eloise e Arthur observaram o corpo da patroa se distanciar ao lado do marido. A dupla se encarou por alguns minutos e sorriram.

— E agora?— Eloise pergunta ainda enxugando as lágrimas.

Arthur observou com atenção cada movimento de Eloise.
Ambas suas mãos procuraram o rosto da loira, ajudando-a a livrar-se das lágrimas.

A loira fitou a expressão curiosa do jardineiro e suspirou sentindo os poucos toques dos dedos em seu rosto.

— Agora nos seguimos em frente, loirinha!— o homem murmurou ao descer os dedos pelos longos fios dourados de Eloise.

A mulher permitiu que o forte perfume de rosas envolvesse seu nariz.
Havia lutado tanto para não se envolver, porém percebeu que passava mais tempo com o jardineiro do que com seu próprio irmão.

— Eu não sei se consigo!-— Eloise murmurou sentindo as mãos firmes de Arthur em seus ombros.

Seus olhos estavam perdidos na íris claras do homem.
Seu peito doía. Estava confusa.

Arthur tomou uma das mãos de Eloise e a puxou para fora do cemitério.
Em frente aos portões, um enorme ipê amarelo derramava suas flores em conjunto com a chuva.

O homem se pôs atrás de Eloise e tocou seus ombros.
Embriagou-se com o perfume de baunilha dos cabelos de Eloise. Gostaria de ter a oportunidade de afundar o rosto nos longos fios e senti-lo ainda mais.

— Em todo fim há um começo. Você não está sozinha. A família só cresceu, precisamos florescer!— o homem murmurou próximo ao ouvido de Eloise.

A loira suspirou ao sentir o hálito quente de Arthur próximo a seu pescoço.
Queria que não fosse tão difícil dizer que o queria.

Os olhos de Eloise encontraram a face de Hugo escondido entre algumas árvores mais a frente.
Bufou incomodada.
Odiava ser vigiada.

— Não devíamos ficar aqui!— Alan murmurou ao lado de Hugo.
O homem virou-se pra o mais novo e riu de sua expressão.

— Está com medo de seu irmão te pegar espiando, pequeno?— Hugo o provocou.

Alan encarou firmemente os olhos azuis de Hugo e bufou.
O homem o irritava.
Apenas de estar respirando ao seu lado tinha vontade de soca-lo.

— Você é um idiota! Não sei porque ainda aceito essas loucuras!— a praguejou cruzando o braços e encostando-se na árvore.

Hugo levou uma das mãos ao lado da cintura de Alan e aproximou-se, prendedo o rapaz.

—  Você aceita porque quer. Ninguém te obrigou a vir, pequeno!— Hugo murmurou cerrando os dentes.

Logo sentiu duas mãos puxando suas costas para trás, o afastando de Alan.

Arthur empurrou Hugo para longe do irmão e aproximou-se de Alan.

— Ele fez alguma coisa? Está ferido?— o jardineiro pergunta preocupado tocando os ombros do irmão.
O caçula suspirou e tocou o braço do irmão o acalmando.

— Calma. Estou bem. Não vai acontecer de novo! Ele foi preso!— Alan suspirou lembrando-se de seu passado.

O jardineiro puxou o irmão, unindo seu corpo com um abraço.

— Eu não me perdoaria se acontecesse de novo!— Arthur murmurou segurando as lágrimas.
Eloise tocou o braço de Arthur o fazendo soltar o irmão.

— Está tudo bem?— a loira pergunta preocupada.

O jardineiro encarou Hugo atrás da loira, que o olhando nervoso.
Não entendia o que havia acontecido, mas mesmo assim estava nervoso.

— Me desculpe. Eu só achei que você fosse...— Arthur ia dizendo incomodado.
Alan tocou o ombro do irmão o fazendo parar de falar.

— Não se preocupe, ele não é!—caçula murmurou nervoso.
Arthur encarou o irmão e suspirou cansado.

Havia movido a terra para afastar Alan de mas companhias e más relacionamentos, mas seu irmão atraia isso.

— Não sou o que, porra?— Hugo vociferou alterado.

— Você não é gay! Eu sou! Satisfeito! Agora podemos ir por favor.— Alan praguejou encarando o loiro.

Os olhos de Arthur encontraram as íris de Eloise, que entendeu o que o homem a pedia.
A loira envolveu os ombros de Alan e o conduziu pela rua, deixando Hugo e Arthur sozinhos.

Hugo apoiou-se em uma árvore tentando assimilar o que acabava de acontecer.

— Apenas um aviso, Hugo. Se você importunar o meu irmão com esse assunto, não sou eu quem vai ter que enfrentar. Rafael está assumindo uma responsabilidade muito grande sobre ele. Não sou seu único problema!— o jardineiro cerrou os dentes antes de caminhar até a dupla mais a frente.

Arthur ardia em raiva.
Já havia visto inúmeras vezes o irmão enfrentar preconceito sobre sua sexualidade, mas Rafael e Miranda haviam lhe dado uma nova chance e uma família que o aceitava, assim como aceitaram Vanda.

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