Capítulo 36 - 1° Carta (R)

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" Não sei o que fazer.
Acho que nunca escrevi uma carta antes. Enfim, espero que esteja a altura de quem receba.

Estou bem, na medida do possível.

Hoje de manhã encarei o céu pela janela e me lembrei do dia em que me acordou para a audiência.
As vezes acho que tudo é um sonho e que quando eu acordar vou te encontrar do meu lado dormindo ou lendo um livro de romance.

Sinto falta de ser acordado por Guilherme. A propósito espero que ele esteja bem.
Não consigo me perdoar por tê-lo feito chorar. Por ter feito você chorar.

Prometi algo a mim mesmo quando me casei com você e não consegui cumprir ainda. Não quero que chore por mim.
Não queria e nem quero ser o motivo de sua dor.
Quero ser sua cura, Miranda.

Só de imaginar você sozinha, tenho vontade de surrar o primeiro que me aparece. Mas eu acredito em você.
Você não precisa de mim.

Já faz três semanas, mas parece que foi ontem.
O tempo não parece passar aqui. O tempo não passa pra mim.

Não sei se devia dizer isso, mas tenho sonhado muito com aquela maldita noite.
As memórias voltam como água corrente em minha mente.
Á dias não consigo dormir. Sempre acordo ouvindo seus gritos. Seu choro.

Espero que tudo esteja bem.
Se sentir minha falta, abrace Guilherme. Ele nem imagina a falta que sinto dele.

Por favor diga a Ana que estou morrendo de saudades da culinária dela, a comida aqui é horrível.
Diga a Haroldo para ficar de olho em Arthur, e ao jardineiro para cuidar bem da Roseira de minha mãe.
Peça a Eloise que não se irrite com Arthur.
E por favor ameaçe Hugo, se ele fizer algo de ruim.
Diga a Alan que quando voltar quero provar uma das massas de sua família.

E a Guilherme, lembre ele quem eu sou. Não deixe ele esquecer que os Sanches não são apenas um nome. Somos uma família.

Cuidem-se e por favor, Miranda, espere por mim.

Nanda, sinto a sua falta.
Sinto falta do seu cheiro, do seu riso, até mesmo de sua forma irritante de contradizer tudo que eu faço e digo.
Nunca pensei que pudesse te amar tanto quanto agora.

Eu amo você. Estou lutando, meu amor.

Rafael Sanches"

Os soluços soavam alto pelo escritório.
As lágrimas inundavam seu rosto inchado por não dormir.

Não havia acreditado quando Eloise havia a acordado a cinco da manhã para dizer que uma carta de Rafael havia chegado. Levando em conta que ela não dormia, seu corpo já estava acostumado.

Encostou-se na cadeira de couro preta e suspirou ao abraçar a folha de papel.

Um mês havia se passado e investigação corria lentamente, o que estava irritando Miranda.
Todas as vezes que perguntava algo a Rodolfo, o advogado dizia para ter paciência, no entanto estava cansada de ter paciência.

De início conseguia ter esperança.
Dormia com o pijama de Rafael em mãos, sentindo o perfume do marido, mas logo as roupas de cama foram trocadas e as peças de roupas foram lavadas.

Passou a ficar mais tempo no escritório de Rafael, tentando ser útil para a empresa e para o patrimônio que era dela.

Um batida soou fraca na porta, fazendo com que Miranda enxugasse as lágrimas com presa e autorizasse a entrada.

O garoto de seis anos abriu a porta e observou a tia com o rosto vermelho.

- Você tava chorando de novo, tia?- Guilherme balbuciou em meio ao bocejo.
O garoto fechou a porta e caminhou até a tia, ainda sentada.

Um riso surgiu por entre os lábios de Miranda. A mulher colocou a carta sobre a mesa e puxou o corpo do sobrinho sobre o colo.

- Seu tio mandou uma carta pra nós.- a morena disse tocando os cachos desgrenhados do garoto de olhos castanhos.

Guilherme desviou os olhos por alguns minutos e suspirou encarando a chuva cair pela janela.
Seu coração doía todas as noites quando deitava na cama do tio e obsevava o travesseiro vazio.

Era tão acostumado a ficar longe, mas saber que agora que aquele era seu lar e uma das pessoas que mais amava não estava onde devia estar, ao seu lado, fazia com que se sentisse ainda mais solitário quanto os outros anos.

- Porque de ainda está lá? Você disse que ele não é mal. Porque pessoas boas sofrem assim?- o garoto perguntou deixando as lágrimas caírem.

Os braços de Miranda envolveram o pequeno corpo, trazendo-o para junto ao peito.

- Lembra da história da princesa presa na torre?- Miranda perguntou ao acariciar os cabelos do menino sonolento.

- Meu tio é uma princesa?- Guilherme perguntou franzindo o cenho.
Miranda riu do comentário do sobrinho.

- A princesa não sabia o porquê estava trancada na torre. Não sabia que a mulher que ela chamava de mãe, havia amaldiçoado os verdadeiros pais dela.- Miranda sussurrou próximo ao ouvido de Guilherme.- Seu tio está la porque homens maus o fizeram ir pra lá. Mas não se preocupe, seu tio vai voltar pra gente.- a morena disse cansada.

As palavras que seus lábios proferiram pareciam ser mentira para ela mesma.
Seu peito apertava todas as vezes que imaginava que Guilherme pudesse culpar Rafael.

- Vamos esperar quanto tempo?- o garoto perguntou em meio a um suspiro casado.

Miranda abraços seus ombros e virou-se para a janela.
Seus olhos encontraram a chuva que caía sem cessar.

A vaga memória da última noite que dormiu com Rafael voltou a sua mente.
Conseguia se lembrar de sentir os braços de Rafael apertando seu corpo enquanto a barba por fazer roçava contra seu pescoço.
Lembrava-se bem de cada palavra e de como admitiu a si mesma que o amava.

- Vamos esperar o tempo que precisarmos para tê-lo de volta. Enquanto isso, nunca se esqueça, querido, um Sanches nunca desiste da família.- a mulher murmurou permitindo que algumas lágrimas voltassem a seus olhos.

Guilherme sorriu. Lembrou-se de como o tio dizia aquelas coisas para o confortar e certificar que voltariam a se ver.

- Mesmo que dure anos, um Sanches não desiste da família.- o garoto murmurou antes de fechar os olhos e afundar o rosto nos cabelos da tia.

Um raio rasgou os céus, fazendo com que novas lágrimas brotassem de seus olhos.

A força que pensou que havia sumido de seu corpo, voltou ao seu coração.
Tinha a certeza de que Rafael voltaria.

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