Os olhos de Rodolfo encontraram o rosto fechado de Rafael.
A exatas duas semanas o homem havia sido preso, suspeito de assassinar o próprio sogro.
Como prometido a Miranda, o advogado acompanhou de perto as investigações do caso e infelizmente todas as provas apontavam para o empresário.
No entanto não havia motivo para Rafael conte tal crime. Não havia fundamento.— Com os autos determinados pelo júri e a investigação realizada pela polícia civil do Estado de São Paulo, eu, Gustavo Almeida Junior, juiz titular da segunda vara criminal da terceira estância do município de São Paulo, declaro o réu culpado pelo assassinato de Cleber Marcondes Albuquerque. O réu, Rafael Rodrigues Sanches será detido até o fim da investigação, por tempo indeterminado.— o juiz disse antes de fechar o arquivo dos autos assinados pelos oficiais de justiça.
Rafael apoiou o corpo na mesa e respirou fundo. Acusado e preso por um crime que não cometeu.
Seus olhos encararam suas mãos.
Sua mente estava ruindo lentamente.O juiz se retirou do auditório seguido pelos promotores e oficiais de justiça.
O advogado se aproximou de Rafael e tocou seu ombro.
O homem se recusou a olha-lo. Não sabia o que fazer. Não poderia fazer nada.Dois policiais se aproximaram, afastando Rodolfo de Rafael.
O empresario foi algemado.— Rafael!?— Rodolfo chamou em vão.
Rafael estava em silêncio. Sentia que se abrisse a boca poderia sucumbir a sua própria raiva.
Teria que ter paciência.Os policiais conduziram Rafael pelo corredor.
O empresário permanecia quieto, porém seus olhos estavam abertos e seus ouvidos escutavam o burburinho que surgia por entre o corredor.Pelo canto de olho observou o sobrinho se aproximar com velocidade e agarrar o paletó do tio, puxando-o.
— Porque estão levando meu tio? Ele não é culpado! Meu tio não faz o mal!— Guilherme chorou alto, perseguindo o tio.
Eloise tomou o corpo do menino nos braços e o afastou dos policiais.
Guilherme chorava alto observando o corpo do tio sumir pelo corredor.— Vamos resolver isso, Gui. Rafael vai voltar pra casa!— Eloise murmurou tentado conter as próprias lágrimas.
No fim do corredor, Miranda cruzou a escada do fórum com um copo de café em mãos, que logo despencou no chão quando encontrou os olhos de seu marido.
O coração de Rafael pareceu ser esmagado quando encontrou as lágrimas da esposa.
Miranda chorava em silêncio enquanto observava Rafael caminhar algemado em direção ao saguão do fórum.O silêncio perfurava sua mente como facas afiadas.
Seu corpo tremia, sua respiração estava fraca.Caminhou atrás dos policiais e agarrou o ombro de Rafael, fazendo-o virar-se para olha-la.
O rosto de Miranda estava inundado em lágrimas. Nunca pensou que fosse possível sentir tanta angustia quanto naquele momento.
O empresário apenas a fitou e suspirou cansado.
Miranda era sua esperança e não a veria tão cedo.— Eu vou esperar você. Por favor, não desista!— a morena murmurou ao fitar os olhos de Rafael.
Nunca havia encontrado tanta escuridão dentro das íris negras de seu marido.Foi então que entendeu que Rafael estava lutando. Mesmo que nada aconteça, mesmo que seu corpo não suportasse, sua mente estava lutando contra ele.
Rafael foi conduzido até o camburão estacionado em frente ao fórum.
Nunca iria se perdoar por permitir que Guilherme o visse de forma tão despressivel.
Não iria permitir que seu sobrinho o visse como um criminoso.O camburão demorou cerca de quarenta minutos para chegar até a penitência local.
Rafael conhecia bem o lugar.
Muitas das vezes ele mesmo acompanhava Ana para uma visita mensal a Hugo.O lugar parecia um fortaleza histórica, como as dos contos de fadas que Miranda costumava contar a Guilherme.
Não é era nada parecido com os filmes ou as séries de televisão.A prisão tinha cheiro de dor.
Dor essa comparada as marcas que tinha em suas costas.O homem seguiu em silêncio pelo corredor após vestir o uniforme cinza com o número 1705, que por coincidência quase o fez rir. Era a data de seu casamento.
A porta da cela foi aberta e Rafael adentrou encarando as paredes negras, cobertas por anotações com giz.
O empresário encarou os três homens sentados em uma mesa no centro da cela, jogando poker.
— Prisioneiro 1705 ficará na cela 40 até o cumprimento da sentença.— um guarda disse antes de fechar a porta e tranca-la.
Um bufar soou alto na sala.
Os olhos de Rafael encararam o homem de cabelos negros longos se levantar e se aproximar.— Sou Almirante Ramos.— o homem disse estendendo uma das mãos enquanto encarava firmemente o empresário.
— Rafael Sanches.— o empresário balbuciou antes de apertar a mãos do almirante.
Pelo canto de olho observou os dois homens se levantarem e o encararem.
— Seu irmão morreu faz cinco meses, né?— o homem de óculos perguntou curioso.
— Não idiota! Foi ele que casou com a mulher que foi estuprada!— o segundo homem balbuciou coçando a barba.
Rafael cerrou os dentes e avançou sobre o homem.
Queria entender como as notícias corriam rápido por chegarem em uma penitenciária.Almirante alcançou o ombro de Rafael, o impedindo de se aproximar do homem.
— Segure a língua, Joaquim, ou eu mesmo ajudo ele a te dar uma surra!— Almirante ameaçou.
Joaquim assentiu com a cabeça e suspirou envergonhado.
— Me desculpe. — o homem murmurou coçando a barba novamente.
O homem de óculos se aproximou estendendo a mão para Rafael.
— Carlos Castro.— ele balbuciou.
Rafael apertou a mão do homem e assentiu.Almirante virou-se tara Rafael e suspirou cansado.
Queria saber o que um homem como ele fazia em um lugar como uma penitênciaria.— Pegue a cama de baixo.— almirante disse apontando para a beliche. — Tente ficar confortável o tempo que estive aqui. Bem vindo ao inferno!— o homem disse antes e se sentar novamente.
Rafael encarou os homens voltando a jogar.
Sua batalha se iniciaria naquele momento.Sabia que não era apenas Joaquim que sabia da história de Miranda.
Entendia que aquela era a vitória dela, mas ouvir qualquer questionamento sobre sua inclusão no caso, seria uma morte a mais a sua alma.

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Amor Meu
RomanceDuas histórias. Dois traumas. Duas almas que, em um beco, presenciam um rumo diferente de seu futuro. Até onde você iria por amor? Rafael Sanches é um empresário forte no ramo da tecnologia em São Paulo. O Leão corporativo não abaixa a cabeça para n...