Nós e a Rússia

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Querido Steve,

Quando eu pedi a ajuda da minha família para arrumar um esconderijo fiquei extremamente surpresa que o local escolhido tenha sido a casa onde eu passei minha infância. As memórias me atingiram como um soco no estômago, todas elas, as boas e principalmente as ruins. Apesar de estar me reaproximando de Melina e Alexei, não era tão fácil como me relacionar com Yelena, mas estávamos trabalhando nisso, eles tentavam com mais vontade do que eu, isso é verdade, entretanto juro que estava fazendo meu melhor. 

Tentei disfarçar o incomodo de estar ali novamente e acho que consegui muito bem, pois apesar de tudo, ninguém percebeu. Fiz a divisão dos quartos e apesar de desejar desesperadamente estar com você e poder dormir abraçada, tendo um pouco de paz por um minuto que fosse, sabia que isso não seria possível. O estado de Wanda me preocupava demais para que eu fizesse qualquer coisa além de deixá-la sobre minha vigilância quase que constante. Eu e Wanda ficamos com o quarto maior, deixei que você e Sam ficassem com o quarto que um dia eu havia dividido com Yelena, e Clint e Scott foram obrigados a dividirem um sofá cama, e quantas reclamações tivemos que aturar vindas dos dois. 

"Isso não é justo", "Por que eles ficam o quarto?", "Só por que é seu namorado?", fingi não ter ouvido a última pergunta saindo da boca de Clint, aquele desgraçado, como se já não bastasse as coisas que havia me dito no Quinjet, porque sim, nós conversamos enquanto você explicava para Sam que podia confiar em mim e sobre nosso... relacionamento. Engraçado que quando eu ameacei jogar os dois na prisão de novo, o sofá cama parecia que havia virado uma king size super confortável. 

Lembro de ter revirado os olhos para a estupidez deles, Wanda estava muito fraca e com o sedativo que demos, demoraria a acordar, por isso instruí que você a deixasse no quarto, repousando. Estranhei sua demora para voltar, mas preferi ficar com os meninos por um tempo, tendo certeza que estavam confortável na medida do possível, pelo menos com eles o clima ainda era leve, apesar de tudo. Eu iria atrás de você assim que os acomodasse, era o máximo de distancia que podia aguentar no momento, além de que, sentia lá no fundo que você também precisava de mim. Quando disse que ia atrás de você, Clint e Sam me olharam de maneiras bastante sugestivas, só consegui revirar os olhos e repassar os fragmentos da conversa que havia escutado entre você e Sam, e a conversa que eu mesma havia tido com Clint. 

Assim que me sentei ao lado dele no quinjet, ele me olhou com um sorriso que ao mesmo tempo que significava "você está de volta!", também significava "então, você e o capitão?" da forma mais infantil possível. De todos, Clint foi o único que não duvidou em momento algum sobre minha lealdade, até Scott me lançava uns olhares preocupados vez ou outra, era bom sentar ao lado de alguém que não iria fazer um interrogatório sobre minha súbita mudança de lado, mas em compensação o interrogatório foi sobre outra coisa, mais especificamente, sobre eu e você.

Foram tantas perguntas sobre, quanto tempo estávamos juntos, se realmente estávamos juntos, porque ninguém sabia, se eu estava realmente apaixonada por você e se você me fazia feliz. Ele também perguntou como me sentia em ser uma fugitiva de novo, mas Clint me conhecia bem o suficiente para saber que não deveria insistir em alguns assuntos. Na verdade, eu praticamente desconversei todas as perguntas dele e então você gritou perguntando se estávamos juntos e eu paralisei, sem saber o que responder, querendo jogá-lo do quinjet, e apesar de você não ter visto, sorri quando respondi que sempre estivemos juntos, porque era verdade. Eu entendia agora. 

Lembro que fui até o quarto conferir Wanda, ao vê-la acordando e meio sonolenta, pedi a Clint que ficasse vigiando-a e me dispus a procurá-lo, o que não demorou muito, afinal a casa era pequena. Escutei o barulho do chuveiro e entrei no banheiro sem pedir permissão, tranquei a porta que você havia esquecido aberta, retirei minhas roupas e você estava muito absorto em sua dor para me ver chegar.   

Partiu meu coração perceber que você estava chorando, que estava fazendo a mesma coisa que eu fazia o tempo todo, estava se culpando, se julgando e se torturando por coisas que nem eram somente responsabilidade sua. Tentei quebrar o gelo com uma brincadeirinha, mas sabia que não adiantaria, você estava machucado demais para isso, então só consegui dizer o que se passava pela minha cabeça "nada disso foi sua culpa". 

Percebi naquele momento, que você não precisava de muitas palavras, só precisava de mim e por isso entrei naquele box com você, deixei que a água gelada nos molhasse, o abracei e permiti que você desabasse em meus ombros. Cuidei de você, mesmo que fosse difícil, porque Steve Rogers sempre quer pôr outra pessoa acima de si mesmo... 

Acho que isso é outra coisa em que combinamos, então? 

Por fim, terminamos aquele banho juntos, me permitiu cuidar de você naquele momento. Bem ali eu sabia exatamente como estava se sentindo e por isso não era difícil adivinhar o que você precisava, principalmente precisava que você aceitasse, mesmo que um pouco, as minhas palavras de que tudo aquilo não era sua culpa. 

Ao longo dos dias, você tentava desesperadamente descobrir países em que o acordo estivesse enfraquecendo, não era como se nós dois pudéssemos fugir, mas pelo menos um lugar onde Clint e Scott, Sam também se ele quisesse, pudesse ficar com a família. Era complicado para os dois primeiros, porque haviam crianças envolvidas, e assim como você, eu também desejava que eles pudessem reencontrá-los. Eu mesma gostaria de poder encontrá-las. Abraçar Lila e os meninos era algo que sempre fazia um dia ruim ficar um pouco melhor, mesmo que eu não os visse com frequência, sentia falta dos meus "sobrinhos", mas a prioridade agora era devolvê-los o pai. 

Era difícil conseguir um momento realmente a sós para nós dois, algumas conversas ainda estavam inacabadas, mas em geral, estávamos bem, havíamos voltado ao que éramos antes, na verdade nosso relacionamento estava melhor, diferente. Você não comentou sobre Sharon e eu também não o fiz, não falamos sobre qualquer ressentimento que ainda podia existir ou não. Estávamos juntos, e no momento isso era tudo o que importava. 

As coisas foram esquentando no "sotão" que você basicamente passou a usar de escritório, eu também gostava de ir ali quando era pequena, era meu pequeno refúgio. Finalmente depois de meses estávamos podendo ter um pouco de ação de um jeito divertido e prazeroso, mas claro que a paz não duraria tanto tempo, afinal estávamos falando sobre nós dois. 

As vozes de Sam e Clint nos deixaram assustados, você pegou um objeto aleatório e se posicionou de forma a me proteger, caso alguém tivesse nos descobertos. Só não digo que minha surpresa foi maior que a do restante de vocês ao ver nossos visitantes, porque seria mentira, afinal eu pelo menos os conhecia. 

Aquela era uma cena que eu jamais imaginei que veria: minha primeira família encarando parte da nova, armas sendo apontadas, enquanto minha irmã avaliava meu namorado dos pés a cabeça. 

Sim, parei a cena no meio que nem a Ana

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Sim, parei a cena no meio que nem a Ana. Beijos, até terça 💙

Cartas para Steve RogersOnde histórias criam vida. Descubra agora