A primeira vez que te vi

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Querido Steve,

Você disse no seu diário, sim eu ainda dou risadas ao usar essa palavra junto do pronome possessivo seu, que a primeira vez que me viu foi no dia 23 de Abril de 2012. Você disse que foi nesse dia que conheceu a pessoa que viraria sua vida de cabeça para baixo: eu. Bem, sinto lhe informar que o senhor está errado meu caro Rogers, mas vou perdoá-lo porque seria impossível que você se lembrasse do nosso primeiro encontro.

A primeira vez que te vi pessoalmente, foi no dia 29 de Julho de 2011, e para ser franca eu também sabia que você iria virar minha vida de cabeça para baixo, não pelos mesmos motivos que os seus, é claro. Na verdade, eu sabia disso porque você estava virando a vida de todo mundo de cabeça para baixo, sério tinha que ver como ficou a S.H.I.E.L.D. quando te encontraram no gelo. 

Sim, esse foi o dia que descobrimos que Steve Rogers não havia morrido afinal de contas, e foi um alvoroço daqueles, trabalho dobrado para todo mundo principalmente para os principais agentes. Sabia que fui eu que fiquei responsável de te proteger enquanto você não passava de um picolé gigante? É eu também não sei por que não te contei isso antes, acho que era uma daqueles momentos que você gosta de guardar para si. Quão irônico era aquilo? A agente russa, antiga inimiga do governo americano, estava responsável de proteger o grande Capitão América.

De qualquer forma, eu não tenho uma história bonita para contar. Eu não posso dizer que no momento em que meus olhos encontraram toda aquela beleza congelada eu estava imediatamente apaixonada, você sabe que as coisas não funcionam assim comigo, mas se serve de consolo eu sempre te achei gostoso desde o momento em que te vi pela primeira vez, mesmo que ainda usasse aquele uniforme ridículo. Felizmente deu uma melhorada em soldado? Enfim, só queria deixar registrado a primeira vez que nos vimos antes de voltar para a primeira vez que nos conhecemos apropriadamente.

Então, vamos lá, 23 de abril de 2012, praticamente um ano depois. Fury estava preocupado com o fato de você se manter recluso, afinal ele queria trazê-lo para a S.H.I.E.L.D. desde o momento em que nós o encontramos, é nisso que dá ser um super soldado famoso. Nick tinha projetado essa ideia da iniciativa Vingadores, e ele precisava de um líder, achava que você faria um papel excelente nesse quesito e bem... Nós dois sabemos que ele não errou nesse ponto. Fury foi atrás de você pessoalmente, Coulson atrás de Tony, deveria ser eu, mas Tony ainda estava chateado com o fato de eu trabalhar para Fury escondida fazendo o meu melhor papel de agente dupla, como sempre, sendo assim sobrou para eu ir atrás do Banner – prefiro não recordar certas coisas, principalmente por não serem relevantes agora – eu havia chegado com Bruce há pouco tempo no porta aviões quando você desceu do quinjet, com aquelas roupas do século passado, desconfortável com todas as novidades ao seu redor, um pouco perdido também, como se simplesmente quisesse sair correndo dali o mais rápido possível, mas aquele olhar de reconhecimento ao perceber que algumas coisas não tinham mudado tanto assim. O mundo ainda precisa de soldados afinal de contas.

Você afirmou no caderninho cheio de corações na capa, que o meu nome inspira medo. Meu nome inspira medo? Seu nome carrega um legado, um legado muito melhor que o meu e não queria admitir mais uma vez a ironia de toda aquela situação. Eu era uma assassina russa, querendo ou não ainda é o meu passado, e fui convocada para trabalhar junto com a pessoa mais bondosa que o mundo teve o prazer de conhecer, e pare de tentar negar, você sabe que é verdade. Eu odeio admitir, mas também estava nervosa para conhecê-lo, a diferença é que diferente de você eu sei disfarçar o que estou sentindo.

Seus olhos azuis encontraram os meus e eu podia jurar que você já sabia de tudo o que eu tinha feito de errado na vida, era como se eles lessem minha alma, queria quebrar essa conexão esquisita e falar das vergonhosas figurinhas do Coulson me pareceram a melhor saída.

E então teve toda aquela bagunça, mas eu e você formamos uma bela dupla, sejamos francos, na nossa primeira luta em Nova York parecíamos que já tínhamos lutados juntos desde sempre. Enfim, nós conseguimos vencer, e era isso o que realmente importava. Os Vingadores foram criados e ao final da batalha cada um foi para o seu lado. Clint voltou para a família, mesmo que ninguém soubesse disso lógico, Thor e Loki foram para Asgard, Tony estava reprojetando a torre junto com a Pepper para enfim termos uma sede descente e Bruce... Acho que ele foi conhecer o laboratório do Stark, mas também não tenho certeza.

O que realmente importa é que você ficou. Você aceitou o emprego na S.H.I.E.L.D. e entre uma missão e outra, eu sabia que nossa amizade estava crescendo. Eu não sou uma pessoa medrosa, você sabe disso, mas isso me assustou para caramba. Conhecíamo-nos há tão pouco tempo, como podia parecer que fazia anos?

De qualquer forma, era extremamente divertido fazer piadas com a sua idade, ainda é na verdade, não que eu faça isso pelas suas costas, claro que não. Devo confessar uma coisa, sobre aquele menino que te chutou por você não ter conseguido virar o Hulk, tecnicamente a culpa foi minha. Eu o vi fazendo birra com o pai e você tinha questionado a minha idade, então enquanto você não estava olhando falei para o garoto que você era o Hulk. Sinto muito amor.

Era difícil ver você tão triste, e eu sei como é sentir que não pertence ao lugar em que está, senti isso por anos até vocês se transformarem na minha família, mas me doía te ver desamparado e eu não sabia o porquê, afinal não costumo me importar tanto assim com os sentimentos dos outros, mas com você as coisas eram diferentes. As piadas com sua idade eram o suficiente para te distrair, eu via que apesar de reclamar os seus olhos brilhavam enquanto tentavam controlar o sorriso e eu me sentia orgulhosa de ser eu a responsável por esse brilho.

Acho que foi a partir desses momentos juntos que soube que você não seria só mais um colega de trabalho, e nada poderia ser mais assustador. Fui criada para não ter sentimentos, fui criada para ser uma máquina mortífera, e lá estava você, criado para ser uma representação do poder americano, para mostrar uma onda de esperança no meio da guerra. Percebe a diferença entre a gente? Naquela época, a conta não batia na minha cabeça, parecia impossível uma amizade e quem dirá algo a mais, mas pela primeira vez em anos eu me vi ansiosa para uma noite de pizza, para um momento de filmes clássicos que você não conhecia porque foram lançados enquanto você só era uma pedra de gelo, eu me vi ansiosa por qualquer momento desde que fosse com você. Felizmente os anos de treinamento me tornaram capaz de esconder minhas emoções, afinal que loucura seria meu coração descompassado por conta do queridinho da América. 

 

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Cartas para Steve RogersOnde histórias criam vida. Descubra agora