"Liberdade"

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Querido Steve, 

falar sobre a França deveria ser algo fácil, simples e descomplicado, mas isso é tudo o que nossa vida não era durante o período que essa carta retrata.  

Os dias na capital francesa foram incrivelmente tediosos. Ficamos aos arredores da cidade, em um hotel pequeno e discreto, que na verdade foi quase impossível de achar. Ocupamo-nos basicamente de assistir televisão, retocar as raízes dos cabelos que eu havia pintado e jogar baralho, o que era complicado de se fazer com quatro pessoas muito competitivas, e talvez - só talvez - eu fosse a mais obcecada por ganhar do grupo. 

Entretanto, os quatro primeiros dias que passamos lá não é o que importa, mas sim a chegada do dia 14 e todo o impacto que trouxe em nossa vida. Pelo menos daquela vez era algo bom. 

14 de julho de 2016 começou como qualquer outro dos nossos dias, estava ensolarado, podíamos ver através da cortina e havíamos decidido que iríamos embora na manhã seguinte. Viu só? Mais um dia normal - ou tao normal quanto dava para ser quando se está fugindo do governo - sem quaisquer expectativas de melhoras. 

Porém, enquanto conversávamos no banheiro sobre maneiras de fazer a França memorável, ela resolveu fazer isso por conta própria. Acho que nunca seria capaz de esquecer os eventos que aconteceram em seguida, por mais que estivesse em choque, eles estariam eternizados em minha memória.

Sam nos chamava desesperado do lado de fora e ao sairmos demos de cara com Wanda estática encarando a televisão, enquanto Wilson não conseguia parar quieto. Ao me dar conta de que era o Obama fazendo um discurso fiquei tensa, quando se está fugindo e o presidente do país que iniciou essa caça faz um pronunciamento ou era algo muito bom, ou estávamos muito ferrados, não existia meio termo. Considerando o que havia acontecido em Arenillas, admito que apostava mais na segunda opção. 

Ainda bem que não era uma aposta de vida ou morte, se não teria me ferrado. 

"e estive na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque junto com os principais líderes, para tentarmos chegar em um acordo sobre o Tratado de Sokovia. Não foi fácil. Foram dias e noites intensos pra chegar aqui hoje e anunciar que chegamos numa decisão. Ficou decidido que a partir de hoje, quatorze de julho de dois mil e dezesseis, o Acordo de Sokovia não tem mais valia. Tendo em vista todas as provas de que nenhum dos heróis realmente fizeram algo de errado, além de todas as vezes que arriscaram suas vidas por nós. A ONU sabe que todas as vezes que eles salvam algumas pessoas, acabam matando outras, mas se colocarmos isso na balança, se os Vingadores não existissem ou não fizessem nada por nós, não haveria ninguém para ser salvo, porque estaríamos todos mortos. Devido ao exposto anteriormente também, deixo aqui o aviso oficial de que o tratado não está mais sendo válido nos Estados Unidos da América, e em nenhum outro dos cento e sete países. O acordo chegou ao fim e não será permitido ou tolerado qualquer tipo de recriminação contra os Vingadores que estão aqui e nem aqueles que estão espalhados pelo mundo. E se vocês estão me vendo, Steve Rogers, Natasha Romanoff, Sam Wilson e Wanda Maximoff, compareçam à sede do governo do país que vocês estão para que isso seja oficializado. Vocês podem sair das sombras." 

Era isso que ecoava no nosso pequeno quarto de hotel. Admito que peguei o diário para escrever essa parte, não lembrava com exatidão das palavras, mas lembrava da sensação delas. Estávamos livres. Podíamos voltar a ter uma vida sem precisar ficarmos nos preocupando o tempo todo em ser reconhecidos ou em sermos mortos - talvez ainda precisássemos nos preocupar com esse último, e há quem diga que ser super herói é fácil. 

Wanda e Sam basicamente começaram a rodar abraçados, gritando em comemoração, nós três deixávamos as lágrimas caírem, mas você... Ah meu amor, você só estava paralisado. Coloquei seu rosto entre minhas mãos após te tirar do transe. Nós finalmente poderíamos voltar para casa e naquele momento em queria muito te beijar, mas não era o momento. Agora precisávamos comemorar em grupo, tínhamos todo o tempo do mundo para algo mais privado depois. 

Cartas para Steve RogersOnde histórias criam vida. Descubra agora