Malditas Inseguranças

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Querido Steve, 

essa carta é sobre um momento bastante específico das nossas pseudo férias. Eu havia dito que ia comprar um biquíni, que você finalmente ia me ver em um, mas quando vi aquelas peças minúsculas na loja, entrei em desespero. 

"Ah, você tem um corpo tao bonito, como é não precisar se preocupar em relação a isso?", eu odeio quando escuto esse tipo de coisa. Primeiro que, todos os corpos são bonitos, o importante é que você aprenda a amar o seu próprio. Segundo, todas as mulheres sofrem de insegurança, não importa o quão elevada seja sua auto estima, em algum momento da sua vida você irá duvidar se é bonita o suficiente para usar alguma peça de roupa, ou coisa parecida, e isso é culpa da maldita sociedade em que vivemos. 

Infelizmente, eu era uma mulher que apesar de me sentir bastante segura com relação a minha aparência, e usar disso em algumas missões, detestava ser o centro das atenções, detestava quando as pessoas viam as cicatrizes e as marcas que traziam lembranças de todas as coisas que eu já havia feito. 

Homens podem ser superficiais, não verem nada além do "corpo escultural perfeito", que eles definiram como perfeito (enfim, a maldita sociedade machista que eu falei anteriormente), mas as mulheres reparavam em muito mais, e sejamos sinceros tem umas cicatrizes e marcas espalhadas pelo meu corpo que até o mais imbecil dos homens não poderia ignorar. 

É diferente quando você está com pessoas que levam a mesma vida que você, que sabem dos machucados e que são só os oficios da profissão, mas usar um biquíni no meio de civis e sentir as pessoas me olhando? Não ia rolar. Por isso em vez de um maldito biquíni, comprei um maiô.

Eu me senti ridícula naquele maiô, não porque não estivesse bonita (eu estava, sua cara deixava bem claro isso), mas odiava o fato de que só estava usando aquele maldito maiô por não ter coragem o suficiente para usar um biquíni, essa era a parte ridícula. 

O dia na praia foi muito divertido, ficamos mais afastado da multidão, nenhum de nós pronto para enfrentar tanta gente, não após Dhaka, e foi surpreendentemente fácil fingir que estávamos ali como se fossem realmente férias planejadas e não um "esconderijo" forçado (nós dois realmente parecíamos recém casados em lua de mel, extremamente melosos e insuportavelmente românticos, tenho quase certeza que Sam e Wanda adquiriram diabetes durante esse período). De todos os lugares em que ficamos durante o período de fuga, Conveñas foi o único que nos trouxe um pouco mais de conforto e paz. 

Entretanto, de noite, quando finalmente ficamos sozinhos no quarto, percebi sua hesitação, percebi sobre o quê você queria falar e torci mentalmente para que não chegássemos nesse ponto, óbvio que minhas preces não foram atendidas. 

"Achei que usaria um biquíni", e aí estavam as palavras que eu vi estampadas em sua cara desde que percebeu o maiô preto de manhã. É estranho o fato de que eu sentia estar te desapontando quando na verdade só estava desapontada comigo mesma?

Esse comentário não trazia nada além da mais pura curiosidade, eu sabia que você só queria me entender, mas fiz o que sei fazer de melhor: entrei na defensiva. Escutar você me dizer que eu ficava bonita de qualquer forma despertava certa raiva e angústia, porque parte de mim sabia que você tinha razão, mas a outra ficava realmente furiosa. Essa era sua opinião, e você já conhecia lados obscuros demais da minha vida, sabia a história de algumas cicatrizes e outras até estava junto comigo quando foram feitas, só que o resto do mundo, ou melhor, eu, não concordava com essa afirmação.

O problema não eram as cicatrizes, não era algo mesquinho e só questão de estética, era a forma como eu adquiri a maioria dessas marcas. A história da maioria delas eram pesadas demais, e a que eu mais odiava era praticamente invisível. A marca, que não passava de uma linha fina como um fio de cabelo, havia ficado daquela forma devido as procedimentos da sala vermelha, mas aquela cicatriz, por menor que fosse, carregava um peso imenso. A esterilização forçada pela qual eles submetiam todas as garotas... Só, tiravam tudo fora como se não fosse nada, sua vida não era sua, seu futuro não existia a menos que você fosse uma "boa garota" e seguisse as regras. 

Provavelmente as pessoas não veriam essas marcas, talvez só pensassem que eu passei por um acidente muito feio, porém o fato de saber como elas surgiram, era algo que ainda me assombrava.

Quando disse para você os motivos para não querer usar o biquíni, esperei ouvir várias coisas: o discurso motivacional chato, o discurso para me convencer de quão linda eu era e talvez o silêncio reconfortante de um simples abraço. Tudo o que não esperava ouvir eram as palavras "daqui a pouco eu volto" sendo seguidas de você entrando no banho e me deixando ali, sentada na cama e sozinha. 

Achei que tivesse te deixado chateado de alguma forma, se era pelo biquíni ou pelo modo como alterei meu tom de voz, eu não sabia. Resolvi que só ia deitar, conversaria com você pela manhã, quando talvez tivesse colocado os pensamentos em ordem, pensei que eu até pudesse usar o biquíni se fosse para te agradar (e bem aqui eu peço perdão para todas as mulheres do mundo e ao feminismo que tanto defendo). 

Porém, assim que saiu do banho, já vestido, você deitou na cama e passou o braço em torno de mim, cruzando os nossos dedos daquela forma que me passava confiança. Ouvir você dizer que não se importava com o fato de que eu vestisse aquela peça de roupa ou não, pareceu mais importante do que deveria, e de repente me senti boba por tudo aquilo. Era óbvio que você não ia se importar, não se eu não estivesse confortável com isso, sempre foi assim. 

Nada importava para você desde que eu estivesse bem. Foi assim que concordou em esconder um relacionamento, foi assim que salvou minha vida quando aquele míssel quase nos explodiu, foi assim quando achou que minha família era um grupo de invasores que poderiam colocar nossas vidas em risco.

Seu universo sempre girou em proteger os outros e se colocar em segunda opção, e era péssimo que uma das suas principais qualidades também fosse um de seus maiores defeitos. Percebendo isso eu tomei uma decisão, no dia seguinte eu compraria a droga daquele biquíni, por você e por mim.

Afinal de contas, eu era Natasha Romanoff, a Viúva Negra e uma vingadora, já tinha enfrentado alienígenas, meus próprios amigos e mentido para o deus da mentira. Nada, muito menos a porcaria de um pedaço de pano, teria aquele tipo de poder sobre mim.

Eu sabia quem eu era, fodam-se as malditas cicatrizes, que as pessoas olhassem se quisessem, eu era poderosa o bastante para sustentá-las, todas essas marcas mostravam quem eu era e por onde eu havia passado, tinha que ter alguma importância, certo?

Eu sabia quem eu era, fodam-se as malditas cicatrizes, que as pessoas olhassem se quisessem, eu era poderosa o bastante para sustentá-las, todas essas marcas mostravam quem eu era e por onde eu havia passado, tinha que ter alguma importância, certo?

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Mais uma carta para vocês, até terça com a Ana ❤

Cartas para Steve RogersOnde histórias criam vida. Descubra agora