Você estava machucado

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Querido Steve, 

no dia em que mudei o visual de quase todo mundo - Sam se recusou a me deixar chegar perto do cabelo dele - nós tivemos um momento divertido vendo aquele seu drama e toda a votação para você deixar a barba crescer ou não, mas esse momento divertido não apagava toda a dor e o quanto estávamos despedaçados.

Eu, sinceramente, achei que depois de tudo pelo que passei durante toda minha vida, e devido ao estado em que nos encontrávamos, nada poderia me machucar mais, pelo menos não de forma tão profunda e dolorosa.

Mas estava enganada, ver você quebrado, sofrendo e se perdendo dentro de si mesmo, era muito pior. Inclusive, fez eu me questionar quantas vezes um coração poderia se partir... 

Estava preocupada com você, a cada vez que era ignorada, a cada vez que encontrava seu olhar perdido, era como se eu estivesse vendo todos os momentos em que entrei em crises existenciais bem diante dos meus olhos, mas parecia machucar muito mais agora que era você nessa situação e não o contrário. 

Sentei ao lado da porta de seu quarto, no chão do corredor, decidida a ficar de vigília naquela noite para o caso de você voltar a ter pesadelos, queria ajudar de alguma forma, da mesma forma como você sempre me ajudava a superar meus medos. Com a cabeça escorada na parede, lembro-me como tomei um susto ao escutar os passos no quarto antes tão silencioso, e fiquei de pé em um salto assim que escutei a movimentação na fechadura da porta. 

Esperei que você a abrisse, ensaiei um discurso mentalmente justificando minha presença ali, ou talvez eu simplesmente te abraçasse. Iria te apertar em meus braços, deixar que você chorasse e dizer que estaria ali sempre que precisasse de mim, que você não precisava passar por tudo aquilo sozinho, mas isso não aconteceu porque a porta não foi aberta. Após mais alguns barulhos e movimentação pelo comodo do outro lado, o silencio voltou a recair sobre o ambiente. Um silencio preocupante e que eu não podia ignorar dessa vez.

Abri a porta e encontrei você encarando a parede com o uniforme do Capitão América no chão longe, enquanto a chave do quarto ainda pendia em seus dedos. Entendi um pouco do que poderia estar passando pela sua cabeça e chamei por seu nome gentilmente, mas seu olhar continuava vidrado, como se o tempo estivesse parado diante de mim. Nenhuma reação sua era esboçada além das lágrimas que banhavam seu rosto e na verdade, você não dava sinais nem de que havia me escutado, bem ali realmente achei que havia falhado com meu namorado. Achei que tinha te dado tanto espaço, que agora era tarde demais, me culpei por não ter te procurado mais cedo e levei a mão ao peito, aliviada, quando finalmente seu olhar encontrou o meu. 

Era como se eu tivesse te acordado de um transe, sua primeira preocupação foi que tivesse me acordado, aquilo me fez querer te socar e me bater também. Como podia ficar tão preocupado com os outros e nem ao menos entender que dessa vez era você quem precisava de ajuda? Foi horrível perceber que você nem ao menos havia percebido que estava chorando, sem nem ao menos pensar duas vezes aproximei-me e enxuguei seu rosto molhado, fazendo um carinho no processo, de forma gentil. 

Perguntei o que tinha acontecido, mas tudo o que recebi foi um balançar de cabeça enquanto você sentava na cama novamente. Suspirei ao perceber seus olhos opacos, sem sentimento algum brilhando neles, os olhos azuis que sempre estavam tão vivos e eram tão expressivos, se encontravam agora vazios. 

Fui até o seu uniforme e quando o peguei percebi o pequeno rasgo perto da estrela, um símbolo que havia trago tanta esperança para as pessoas no passado, o símbolo que representava o herói que tantas vezes havia lutado pelo mundo e que esse mesmo mundo havia virado as costas. O símbolo do Capitão América, o símbolo da imaculada perfeição. 

Quando questionei o que você estava tentando fazer recebi uma resposta dessa vez, apesar de não ser algo completo, já era alguma coisa. "Não vejo mais sentido ter a estrela no meio. Queria tirá-la", foi o que você me disse e percebi na forma como ainda não conseguia me encarar, que era de todo o simbolismo que eu falei anteriormente que você queria se livrar. Talvez a raiva, a frustração e a mágoa viessem crescendo tanto que você não sabia como se livrar, então fiz a única coisa que podia para te ajudar naquele momento, peguei um kit de costura e uma tesoura. 

Entreguei o que tinha trago comigo, mas você simplesmente não sabia o que fazer, era como se existisse uma parte ali dentro que não queria, ou não tinha coragem, para retirar a estrela, para deixar aquela parte tão importante da sua vida ir embora. Para ajudar essa parte, resolvi fazer o que você sempre faz comigo... Estendi minha mão e ofereci para fazermos isso juntos. 

Apesar de ter feito a maior parte do trabalho, mandava você ir retirando aos poucos a estrela com a mão, deixando assim alguns arranhões na lateral, mas não parecia te incomodar. Quando terminamos e observamos nosso trabalho imperfeito, estendi-lhe a estrela e você ficou relutante em aceitá-la, foi essa hesitação que me fez puxá-lo para o banheiro e juntos vimos aquele símbolo que marcou gerações desaparecer descarga abaixo. 

Abracei você por trás, descansando minha cabeça em suas costas e passando meus braços em volta de sua cintura. "A estrela nunca definiu quem você era Steve", foi o que sussurrei em seu ouvido, porém não acho que fui escutada, sua mente estava muito longe, provavelmente absorvendo o que havíamos acabado de fazer. Não importava para mim, o que me deixava mais aliviada, é que pelo menos por aquele breve momento, eu consegui ver algo brilhar em seus olhos, consegui ver aquele breve momento de paz se apoderar de seu corpo, mesmo que por um milésimo de segundo, não importava. Significava que você ainda estava ali, que não era só uma concha vazia, meu Steven Grant Rogers ainda estava ali e eu lutaria todos os dias para mante-lo bem e ao meu lado. 

Dormimos juntos naquela noite e em todas as outras que se seguiram, não conversamos sobre o que nos atormentava, ou ainda sobre o que havíamos feito com o uniforme, muito menos sobre o que faríamos agora, para onde iríamos em seguida. Nós só nos perdemos nos braços um do outro e levamos a vida, até a próxima fuga ser necessária. 

 Feriado sempre bagunça minha cabeça, eu não lembrava que hoje era quinta, sorte foi a Ana que mandou mensagem avisando

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Feriado sempre bagunça minha cabeça, eu não lembrava que hoje era quinta, sorte foi a Ana que mandou mensagem avisando.

Antes tarde do que nunca, né?

Até terça gente, bjs 💛

Cartas para Steve RogersOnde histórias criam vida. Descubra agora