Sobre Aniversários

93 18 6
                                    

Querido Steve, 

Novamente nós estávamos sem rumo, sabíamos que precisávamos abandonar o quinjet, já que o mesmo poderia ser rastreado, sabíamos que Ross não desistiria fácil e não estava muito aberto para conversas. A ligação da Hill foi um ponto crucial para nossa fuga, principalmente porque através dela conseguimos não só dinheiro para que pudéssemos ficar um pouco mais confortáveis, como também nos permitiu contactar Yelena de forma segura. 

Um plano havia sido rapidamente estabelecido, assim como nossa nova rota de fuga. Iríamos pegar um dos barcos da Natcor e entrar nele não foi complicado graças a minha credencial da S.H.I.E.L.D. Tudo estava indo muito bem, perfeitamente de acordo com o plano. Yelena já havia levado o quinjet para que Melina o analisasse, nós estávamos em segurança no navio, espremidos feito sardinhas em latadas naquela pequena cabine, mas vivos.

Deixamos a cama de casal para Wanda e Sam, assim eles poderiam descansar mais, os dois não estavam nada bem, tanto pelos recentes descobrimentos de que haviam usado o cartão de crédito em Convenas e Arenillas, tornando possível que Ross nos rastreasse, como também o balanço do navio não era algo que estivessem acostumados, tornando-os basicamente duas crianças manhosas e enjoadas que não conseguiam nem levantar da cama. 

Daquela vez nós dois não dividíamos a mesma cama, eu dormi na de solteiro enquanto você ficou com o colchão velho. Era estranho não dormir ao seu lado, não sentir seus braços me envolverem durante a noite ou somente o calor do seu corpo próximo do meu, e mais estranho ainda era admitir aquilo para mim mesma, admitir que aparentemente eu já não dormia com a mesma facilidade de sempre se você não estivesse comigo. 

Durante a ligação com a Hill, acredito que se lembra dela claramente de forma que vou deixá-la de fora dessa carta, uma coisa que eu não costumava revelar acabou vindo a tona: a data do meu aniversário. 

Você ficou visivelmente chateado por descobrir isso pelos lábios de outra pessoa e não por mim, mas conseguimos resolver muito bem, com uma conversa simples e sincera. Eu já te disse anos atrás como não gostava de comemorar meus aniversários, porque a cada ano que completava viva para mim era um tormento e não um motivo de celebração. 

Nunca gostei de ser o centro das atenções, desde pequenininha preferia passar despercebida, infelizmente essa era uma característica que a sala vermelha apreciava e que só fez com que eu fosse ainda mais preciosa para eles. 

Uma espiã é muito difícil de parar quando ela descobre o que a torna única. 

O último aniversário que eu havia realmente celebrado foi com Alexei, Melina e Yelena, na época em que minha família ainda era... ainda era de verdade. Uma época simples onde mentiras não haviam sido reveladas e onde eu podia ser só uma criança comum, como todas as outras. Sem treinamentos rígidos em busca da perfeição, sem lavagens cerebral, sem algemas na hora de dormir, sem ter que matar estranhos, ou ainda alguma colega que teve a infelicidade de se machucar ou tentar fugir. 

Pode soar repetitivo, sempre que tenho um problema em minha vida acabar voltando para essa parte do meu passado, mas é de lá que vieram todos os traumas contra os quais lutei, e ainda luto, todos os dias. 

Clint tentava me fazer comemorar meu aniversário, nós saíamos para beber, às vezes Hill e junto, entretanto, não aceitava que parabéns fossem dados, desejos de felicitações e muito menos presentes. Éramos somente um grupo de amigos saindo para se divertir um pouco. Aquilo não tinha nada haver comigo ou meu aniversário. 

E então, ali estávamos eu, você, Wanda e Sam, em um navio nos escondendo do governo, finalmente havíamos saído da cabine apertada e era quase madrugada do dia 08 de julho de 2016. Era quase meu aniversário e mais uma vez queria fingir que não percebia a data, entretanto, daquela vez as coisas pareciam mais complicadas. 

Cartas para Steve RogersOnde histórias criam vida. Descubra agora