Resolvendo as Coisas

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Querido Steve, 

eu sei, você provavelmente acha que teria uma carta sobre Dhaka, mas não tem. Tentei escrever sobre o que aconteceu em Dhaka, e após sairmos da cidade, durante muito tempo e nunca conseguia, não chegava a lugar algum e a suposta carta sempre acabava muito rabiscada ou simplesmente jogada pelo chão.  

As coisas que aconteceram e as coisas que dissemos infelizmente ficarão guardadas em nossa memória para sempre e apesar de falar sobre outros tempos ruins do nosso relacionamento, esse foi realmente o pior de todos e não é algo que eu gosto de relembrar, muito menos no que deve ser o seu presente de aniversário de casamento. Então, resolvi pular Dhaka, por livre e espontânea vontade, não quero ter que escrever sobre o período em que só sabíamos brigar o tempo todo. 

Agora que esclareci esse detalhe, podemos passar para Maripasoula, na Guiana Francesa, América do Sul. Bem, quando chegamos lá não estávamos sendo a melhor das companhias, inclusive coitados do Sam e da Wanda que tiveram que nos aturar durante o tempo todo. Infelizmente, nós dois sabemos ser extremamente teimosos, rancorosos e orgulhosos, e isso não ajudava em nada a situação atual. Era um clima muito esquisito sem aquela cumplicidade de sempre, sem os olhares trocados e os beijos roubados.

Percebi que apesar de pouco tempo, não sabia mais como agir sem ser sua namorada, e não, não significava que eu dependia de você para viver como em uma relação tóxica onde o casal não sabe simplesmente ter o próprio espaço, era mais no sentido de eu não querer viver sem você (isso acontece até hoje caso tenha curiosidade em saber). Esse fato só fazia minha raiva aumentar, por que meu Deus quem você pensava que era para me deixar com raiva de você e de mim mesma, tudo ao mesmo tempo? Claro que eu não era a única revoltada e isso é que piorava as coisas, nenhum dos dois estava bem para simplesmente pedir desculpas e muito menos para disfarçar o que estava sentindo naquele momento, só queríamos deixar bem claro todo o ódio que fervia em nossas veias. 

Quando pousamos na comuna francesa, já que a Guiana Francesa não é independente ainda, pudemos observar um pouco a paisagem e no local onde deixamos o quinjet cabia muito bem a expressão do "é tudo mato". A população do local era com certeza muito diversificada, além dos ribeirinhos (que são a maioria), também existiam índios, brasileiros e haitianos, entre outros grupos, justificando toda essa diversidade que poderíamos observar melhor nos próximos dias. 

O primeiro problema que encontramos foi assim que chegamos em um minúsculo e simples hotel, nem sei se pode ser chamado de hotel mesmo, mas precisávamos dividir os quartos e com isso vinha o fato de que nós não aguentávamos nem olhar um na cara do outro, imagina dividir um quarto. Felizmente, Wanda decidiu por conta própria que eu ficaria com ela, enquanto você e Sam dividiriam outro quarto, como ninguém reclamou ficou por isso mesmo. 

Eu pensei que dividir um quarto com Wanda seria fácil como aconteceu na Rússia, estava terrivelmente enganada, pois se naquela vez a bruxinha simplesmente se fechava na dela, agora que pegou intimidade resolveu esfregar na minha cara como eu e você éramos dois idiotas orgulhosos que estavam sendo estúpidos por não simplesmente sentar e conversar. Ela estava errada? Não. Eu queria ouvir isso naquele momento? Com certeza não. 

Aproveitei que ela e Sam saíram para jantar - eu achei que você também iria, mas descobri depois que isso não aconteceu - resolvi tomar um banho e tentar organizar meus pensamentos - somos mais parecidos do que parece afinal de contas, considerando que você fez a mesma coisa. A mão que eu usei para socar o espelho (é estranho escrever uma carta sem contar todos os fatos anteriores, mas eu acho que você ainda lembra do que aconteceu, se não lembra vá ler seu diário) ainda latejava de dor, e apesar de saber que deveria fazer um curativo, a dor me lembrava do que tinha acontecido, me lembrava o porque de ter parado naquele ponto e... a dor me fazia mais forte. 

Depois que voltou do jantar, Maximoff voltou ainda mais inspirada e com mais um discurso sobre nosso relacionamento, como estávamos tornando as coisas difíceis para todo mundo, considerando que toda aquela raiva acabava os afetando e eles também ficavam tristes em nos ver naquela situação, já que eram os "fãs número 1", segundo ela própria, de "romanogers", aparentemente era assim que os dois nos chamavam quando não estávamos por perto, uma mistura um pouco estranha - mas bonitinha - dos nossos sobrenomes. Toda a fala dela me fez perceber que eu precisava tomar uma atitude, um de nós precisava dar o primeiro passo e se fosse eu que tivesse que fazer isso, tudo bem. Eu já te amava o suficiente para perceber que não queria passar mais tempo longe de você. 

Acontece que decidir fazer isso, planejar o que dizer e chegar e falar de fato, eram coisas completamente diferentes. 

Fiquei sabendo da aposta que Wanda perdeu para Sam, e me diverti muito com o mal humor dela ao ter que sair para correr, escutei do outro lado da porta do meu quarto sua voz brincando com os meninos, e meu coração se apertou de saudade. Então, depois que as vozes sumiram, percebi que era agora ou nunca - nunca é uma palavra muito forte, mas era como eu me sentia naquele momento. Entrei no quarto e depois de alguns segundos de um silencio constrangedor, nós dois dissemos "me desculpe" ao mesmo tempo. 

Sim, eu tinha decidido tomar a atitude de te procurar, mas era muito difícil, então quando você concordou em começar a conversa, fiquei imensamente aliviada. Claro que tive um mini ataque cardíaco quando você simplesmente ajoelhou diante de mim, ainda bem que seu bom senso estava intacto e eu adorei ouvir um "ainda" depois que me disse não estar me propondo casamento. 

A conversa que deveria ter acontecido a dias atrás finalmente veio, sem adagas e veneno sendo jorrado, somente duas pessoas, um casal, tentando consertar os próprios erros. Nós dois choramos e pedimos desculpas pela forma como nos magoamos, parte de mim ainda dizia quão péssima eu era por ter te magoado, mas outra parte sabia que não era justo comigo mesma se nós dois estávamos errados. Você sabe que minha cabeça é meio complicada. 

Naquele dia prometemos algo que sustentamos até hoje e que junto com nosso amor é a base do nosso casamento (muito bem sucedido, obrigada), prometemos resolver nossas diferenças de uma forma madura, conversando e não brigando. Expusemos tudo que vinha nos incomodando e conversamos sobre Sam e Wanda fazerem mais coisas sozinhos, foi complicado e uma longa conversa, e de alguma forma nós acabamos no assunto sobre filhos. 

Nós brincamos sobre como não queríamos filhos, tirando o fato óbvio que eu não posso engravidar, começamos a falar sobre como a vida teria trabalho em nos tornar pais, já que nem ao menos estaríamos procurando por isso. "Vai ter que ser como mágica e num dia inesperado", foram as minhas exatas palavras. 

E quem diria que era exatamente isso que o destino havia preparado para nós, uma linda bebezinha hipotética que se transformou em verdade e na maior alegria de nossas vidas. 

 As cartas voltaram e a gente está quase entrando na minha parte preferida da fic

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As cartas voltaram e a gente está quase entrando na minha parte preferida da fic.

Até terça, com a Ana ❤

Cartas para Steve RogersOnde histórias criam vida. Descubra agora