Cartas para Steve Rogers

Quando realmente viramos amigos

Querido Steve,

Você tem razão – e essas não são palavras que eu diga com frequência – mas abril é realmente o nosso mês. Nosso primeiro beijo foi em abril, mesmo que não tenha sido para valer, nosso casamento aconteceu em abril, mas a minha coisa favorita nesse mês é nossa filha.

Não, ela não nasceu nesse mês, mas foi nesse mês, há quase nove anos que uma linda bebezinha de quatro meses foi abandonada em nossa porta. Foi nesse mês que conhecemos o verdadeiro amor, porque nós dois sabemos que nunca havíamos amado alguém de forma tão rápida e tão pura, April é tudo para nós dois e isso é uma coisa que nunca iremos discordar.

Por falar em April, acho que vou dar o seu diário para ela. Imagine a reação dela ao saber que o pai escrevia em um lindo caderninho com diversos corações em tons de rosa? O que você acha? Eu acho que ganharia uma excelente companheira de risadas sobre esse assunto, mas também seria uma bela forma de ela conhecer nossa história, e vamos ser sinceros... que história.

Muito bem, vamos ao foco dessa carta: Quando realmente viramos amigos. Eu acredito que tenha sido quando você me salvou daquela explosão, mas não vamos nos apressar, tanta coisa importante aconteceu antes disso, não é mesmo? Afinal foram dois anos para que essa amizade fosse desenvolvida até chegarmos ao ponto principal.

Apesar de estar mais próximos, eu ainda tinha os meus medos, minhas ressalvas e principalmente minhas desconfianças. Não deixo as pessoas entrarem com tanta facilidade em minha vida, mas você conseguiu quebrar cada uma das minhas barreiras e olha que algumas delas eu achava que era impossível. Durante os dois anos que marcam o dia em que nos conhecemos até o dia em que viramos amigos de verdade, nós desenvolvemos uma amizade superficial. Era confortável para ambos os lados, era o suficiente para não nos sentirmos solitários, entretanto parecia que não era o suficiente para nossos corações iludidos que entenderam primeiro que a gente o que realmente estava acontecendo.

Okay, essa parte final ficou muito melosa. O que você está fazendo comigo soldado? Não sabe que eu tenho uma reputação a zelar?

Em 2014 nós ficamos mais próximos, em 2014 nós fugimos juntos e enfrentamos a morte mais algumas vezes – como se já não fizéssemos isso o tempo todo no trabalho. O que importa é que essa aproximação gerou uma atração e esse seu jeito tímido não ajudava em nada no meu problema. Eu desejava você, mas sabia que nós iríamos querer coisas diferentes. Claramente, Steve Rogers não era o cara com quem se transa uma vez ou mantém uma relação de sexo casual, você tinha essa aparência e esse jeito de quem desejava algo mais, algo que eu não poderia dar.

Então, a solução que eu encontrei foi tentar te arrumar um encontro, ou melhor, encontros, no plural. Eu sei que escondo bem meus sentimentos, mas meu Deus Steve você é muito lesado às vezes. Como não reparou que eu estava interessada? E outra coisa, como não percebeu que eu só te arrumava encontros com mulheres que eu sabia que você não ia gostar?

Eu fazia isso, porque gostava do depois, ansiava pela parte em que o seu encontro terminava e você aparecia no meu apartamento com um pote de sorvete para dividirmos enquanto assistíamos alguma besteira na televisão, ou simplesmente jogávamos conversa fora. Eu não estava apaixonada, sabia disso, mas já não era mais só amizade e isso me deixava desolada. Sei que sou bonita, tenho plena noção do que sou capaz de causar nas pessoas, mas jamais imaginaria que te veria apaixonado por mim. Em minha mente os olhares que às vezes escapavam eram somente uma atração superficial, assim como a minha lógica, e apesar de estar tentada a ceder ao desejo, eu amava a amizade e conexão que estávamos construindo. Para mim ela era mais importante do que uma simples noite movida pelo desejo e a bebida, porque eu claramente teria que ter bebido para ter me entregado aos meus instintos primitivos.