Cartas para Steve Rogers

O mais puro caos

Querido Steve, 

nós mal saímos da Colômbia e eu já estava com saudades do que havíamos vivido por lá, tanto dos nossos momentos a dois, com certeza queria voltar para aquele jantar e o chalé, mas as memórias em grupo que criamos haviam sido igualmente maravilhosas. Entretanto, as "férias" haviam acabado e tinha chegado a hora de voltar para a realidade, foi com esse pensamento que acabamos na cidade de Arenillas, no Equador. 

Arenillas é um cantão, da província El Oro, lá nós voltamos com a ideia do trabalho voluntário que havíamos feito em Maripasoula. Não era como se realmente estivéssemos nos escondendo, mas era algo mais discreto e em geral as pessoas concordavam em manter o sigilo, outro fator é que sempre mudávamos de instituição, algumas vezes eram asilos, outras orfanatos, e assim por diante. Tomávamos cuidado e conseguíamos de alguma forma ajudar pelo menos um pouco. 

Só que toda essa parte você já sabe, então vamos pular para o 04 de julho, dia da independência dos Estados Unidos, o que não era nada perto do fato de ser seu aniversário. Eu não sou uma pessoa fã de aniversários, ou datas comemorativas em geral, mas nesse caso era diferente. A pessoa que eu mais amava no mundo estava completando mais um ano de vida (e que vida longa essa, ainda bem), e apesar da situação nada favorável, lógico que não podia deixar a data passar em branco. 

Você em geral era o último a sair dos lugares que ajudávamos, mesmo sendo contra isso, já que o combinado era sempre permanecermos em dupla, no dia 04 eu aproveitei-me dessa situação e pedi que você fosse comprar um relaxante muscular. 

Havia combinado com Sam e Wanda de fazermos qualquer coisa simples para comemorar o dia, no minúsculo hotel em que estávamos ficando, dessa vez nem quartos separados tínhamos. Enfim, consegui comprar um bolo, umas velinhas minúsculas, e mesmo assim não era quantidade o suficiente para representar sua idade (a vontade de fazer mais piadas com esse número é gigantesca, porém estou tentando me controlar), e Sam insistiu em uns baloes também, segundo ele o lugar precisava de um pouco de cor. 

Praticamente só tivemos tempo de encher os balões e colocar as velas no bolo antes de ouvir a porta sendo aberta, seu sorriso quando percebeu o que havíamos feito derreteu meu coração. Sabia que naquele momento seu aniversário não parecia realmente importante para você, que achou inclusive que tínhamos esquecido, mas era uma data especial que merecia ser comemorada, era o aniversário de uma das nossas pessoas preferidas do mundo todo... Você faz tanto pelas pessoas que ama Steve, nada mais justo do que retribuir um pouco dessa sua devoção. 

Nós estávamos feliz, por mais idiota que parecesse devido a todas as circunstancias, naquele momento tudo estava perfeito... Só que ele acabou. 

Os barulhos característicos de vários carros parando, portas sendo fechadas, além das vozes misturando-se. Sabíamos o que aquilo significava, por mais que não quiséssemos que fosse verdade, Sam confirmou as suspeitas, Ross havia nos achado, e agora corríamos para ter pelo menos uma vantagem na hora da fuga. 

Wanda saiu na frente, a margia escarlate servindo de escudo para nos proteger, as vozes raivosas dos outros hóspedes conforme as portas eram abertas no andar de baixo deixava claro que tempo era uma coisa escassa para nós. Fomos até o prédio, o dispositivo que tinha formou uma espécie de tirolesa, mandei Sam e Wanda primeiro e lógico que você iria querer ficar para trás, só que não podia te deixar fazer isso, não podia arriscar te perder. 

Mais uma vez eu quis dizer que te amava, entretanto se fizesse isso ali, naquele exato momento, não pareceria verdadeiro e sim uma despedida, você não precisava ficar ainda mais desesperado. Coloquei a ponta do seu cinto em você, sem que percebesse e após um beijo muito breve, te empurrei do telhado e ao ter certeza que chegou em segurança do outro lado, saí dali, antes que um de vocês tivesse a brilhante ideia de vir atrás de mim.