Cartas para Steve Rogers

Flashback I

Pov Natasha Romanoff

Fecho os olhos quando o vento frio bate em meu rosto, sorrio fracamente ao perceber que mesmo sem dar importância eu sentia sim falta do meu país de origem. Encaro o céu sobre minha cabeça, a neve havia dado uma trégua e já não caía a dias, repenso toda a conversa que havia tido com Wanda e Yelena, foi bom finalmente poder falar sobre tudo aquilo, um peso saiu de meus ombros ao perceber que naquele momento eu não precisava estar bem, podia estar tão confusa e quebrada quanto todos os outros. 

Sinto aquele quentinho no coração ao perceber que finalmente aceitei Yelena como minha irmã novamente, aceitei que eu a amava e era digna de ser amada de volta. Sem permissão alguma, outra lembrança aparece em minha mente, a cara que Steve fez quando o chamei de namorado, ficaria para sempre guardada em minha memória. O sorriso dele era a coisa mais pura e encantadora que eu já havia visto. 

Sabia que deveria descer, que deveria falar com Melina e Alexei, que deveria explicar para Steve quem eram aquelas pessoas e qual parte da minha vida eles ocupavam, mas precisava ficar triste por mais um tempo, não queria ficar bem agora, não me sentia pronta para isso. Eu amava o soldado, sabia disso, queria passar o resto da minha vida ao lado dele, e ainda me assustava essa coisa de amar tanto alguém assim. 

O único que eu havia chegado perto de amar havia sido James, mas era algo totalmente diferente, gostávamos um do outro devido ao desespero por sentir alguma coisa, qualquer que fosse, e mesmo assim não havia comparação com o tamanho do amor que eu sentia por Steve, era de uma magnitude que não sabia como explicar, e só por isso, eu sabia que iria eventualmente conversar, pelo menos com ele, sobre meu passado, ou uma parte mínima dele. Não queria falar sobre tudo, sobre as férias na Rússia, sobre... todas as mortes, sobre como eu era conhecida como "diabo" e se alguém me via chegar sabia que não havia escapatória, sua morte era certa. 

- Vou contar algum dia, mas agora não - prometo a mim mesma, escondendo o rosto entre as mãos. 

Estava exausta, era muito difícil manter a pose de que estava bem e ser forte o tempo todo era complicado, entretanto Steve estava tão mal, se sentia tão culpado, que não conseguiria colocar o peso de mais isso nas costas dele. Seria mais fácil se fosse menos gente na casa, para onde eu olhava tinha alguém com os olhos em mim e isso não facilitava as coisas. Não queria parecer desesperada para meus amigos, queria ser o porto seguro deles, a âncora que os mantinha estáveis... Não queria tirar deles a esperança de que um dia, tudo ia ficar bem.

Encolho-me dentro do casaco que estava usando, tinha quase o dobro do meu tamanho e pertencia ao meu aparentemente mais novo namorado. Era reconfortante sentir o cheiro dele, parecia que ele estava ali comigo, me acalentando, da mesma forma que eu sei que faria assim que me visse.

Tudo estava quieto demais e essa quietude me colocou em estado de alerta. Esperei por mais um tempo, para ver se escutava alguma coisa e me assusto ao sentir algo vibrando dentro do bolso interno do casaco. Retiro um celular lá de dentro, o mesmo era de um modelo mais antigo daqueles celulares flip e tremia em minhas mãos.

Prendo a respiração assim que abro a tampa e vejo o nome "Stark" na tela. Então, lembro que Steve contou sobre o celular que havia deixado para nosso amigo e companheiro de equipe, para o caso de ele precisar de ajuda ou algo parecido.

Mesmo que ainda estivesse chocada demais, aperto o botão e aceito a chamada. O silêncio do outro lado da linha me fez duvidar de que o aparelho estava em pleno funcionamento, até conferi se a chamada realmente havia sido aceita, mas a respiração pesada e hesitante que ouvi, me fez perceber que era quase arrependimento que ele sentia por estar ligando.

Ele acha que está falando com Steve, o pensamento passa pela minha mente e resolvo acabar com o seu tormento.

- Tony? - pergunto, temendo que o mesmo ficasse ainda mais irritado por ouvir a minha voz.