Polonia e mudanças no visual

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Querido Steve, 

Lubartów não trouxe exatamente muitas lembranças maravilhosas, mas também pudera, na situação em que estávamos, complicado mesmo era conseguir formar esse tipo de memória, principalmente agora que enfrentávamos pela primeira vez de verdade esse negócio de fugir entre países. Não poderíamos mais ficar parados e não podíamos ser reconhecidos, medidas precisavam ser tomadas. 

A casa que T'Challa nos arrumou era grande, até demais para quatro pessoas, azul e no meio do nada. Sem contato com possíveis poloneses curiosos que pudessem reconhecer os novos habitantes temporários de seu país, e infelizmente isso também era algo decepcionante. Passamos boa parte da nossa vida, alguns mais que os outros, lutando para proteger as pessoas, para fazer do mundo um lugar melhor e agora nós precisávamos nos esconder das mesmas pessoas que prometemos salvar. 

Era desgastante, era confuso e estava te destruindo. 

Eu sabia a sensação de ser odiada, considerada uma vilã e por mais que tudo aquilo me machucasse, não era nada comparado com o que você sentia. Pela primeira vez em muito tempo, você não era mais o herói que as pessoas se vangloriavam, toda o povo pelo qual você um dia lutou desesperadamente havia se voltado contra o herói deles e mesmo que essas palavras não tivessem saído de seus lábios, eu conseguia perceber as engrenagens de sua mente trabalhando durante aquele doloroso período de silencio. 

A casa possuía quatro quartos e achei que iríamos dividir um deles, mas em vez disso você simplesmente colocou minhas coisas em um dos comodos antes de bater a porta e seguir para outro. Devo dizer que magoou um pouco, realmente achei que iríamos ficar juntos, era a primeira vez que estávamos realmente assumidos como casal, mas empurrei aquela magoa para dentro e te dei o espaço que você precisava. Acho que nenhum de nós era exatamente o melhor exemplo de simpatia naquele momento. 

Eu estava desesperada por respostas, eu estava desesperada sem saber qual destino minha família tinha levado, estava exausta de cuidar de todo mundo e da viagem de última hora, e claramente você estava tão cansado quanto eu, nós estávamos sofrendo, mas fazendo isso sozinhos, separados, quando tudo o que eu queria era que você me abraçasse e me dissesse de novo que nós iríamos conseguir passar por aquilo. 

No terceiro dia que mantínhamos aquela greve de silencio e aquele muro erguido entre a gente, como se fossemos dois desconhecidos e não namorados companheiros de equipe que estavam fugindo juntos, enfim, a comida acabou e eu decidi ir até o centro da cidade comprar alguma coisa. Primeiro porque eu era mais rápida e mais apta a passar despercebida, segundo porque precisava de um tempo longe de toda aquela tensão. 

Enquanto estava pegando algumas coisas, vi algumas tintas de cabelo e pensei que talvez fosse a hora de vocês darem uma pequena mudada no visual também. Peguei um tom de loiro mais escuro que o seu e suspirei com uma tinta que tinha um tom muito parecido com meu cabelo ruivo, sentia falta dele e mesmo que tivesse mudado por um motivo racional peguei a tinta e coloquei junto com as outras coisas. Estava usando o kit de disfarce básico que conhecíamos, óculos escuros e deixei o boné de lado para não levantar tanta suspeita assim.

Quando cheguei em casa expliquei basicamente o óbvio: precisávamos de um disfarce, o que gerou uma pequena discussão entre nós, pelo simples fato de que você não queria mudar, era sempre assim, odiava mudanças e se frustrava quando as drásticas aconteciam. Eu não deixei passar a oportunidade de te alfinetar com relação a isso, mas sabia que era eu quem tinha razão. 

"Não era uma questão de querer e sim de precisar", todos os nossos dias vinham se resumindo a essa frase e era uma droga. 

 Saí da cozinha irritada naquele dia, ainda lembro de como agarrei Wanda pela mão, arrastando-a escadas acima. Coitada, já ficou tantas vezes no meio de nós durante essas brigas. Bati a porta do banheiro com tanta força que agradeci mentalmente por não termos vizinhos. 

A ideia era pintar o cabelo dela de loiro, como o meu, simplesmente descolorir, mas quando me virei para preparar as coisas, ela acabou vendo a tinta ruiva. Admiti que comprei por impulso, expliquei porque não permaneci ruiva, e dei o assunto por encerrado, mas a bruxinha tinha outros planos. "Talvez eu possa atraí-los se acharem que sou você", juro que quando essas palavras saíram da boca de Wanda virei minha cabeça tão rápido que senti meu pescoço estalar. 

"Não acho que eles esperariam por um reconhecimento detalhado se atacassem de longe e eu poderia me defender melhor que você com meus poderes, já que o alvo momentâneo agora é você", ela se encolheu após dizer aquelas palavras e eu não sabia o que fazer, ninguém nunca tinha feito algo assim para me proteger e mesmo depois de eu reclamar e dizer que não iria deixar que ela fizesse algo assim por mim, Wanda fez questão de me lembrar como já era adulta e mandava em si mesma. Então foi assim que nossa bruxinha virou a nova ruiva do time. O engraçado, é que ela preferiu manter aquilo só entre nós duas, e como você não estava falando comigo mesmo, dei de ombros e concordei, era a vida dela afinal. 

A sua reação e a de Sam foram as melhores possíveis, todo o escândalo exaltando a beleza dela de forma que as bochechas dela ficaram levemente vermelhas, era engraçado ver Wanda com vergonha e ela não admitia, mas deveria sim saber que o ruivo caiu muito bem nela. Quando você sorriu para mim, não pude evitar sorrir de volta, o que era péssimo considerando que deveria estar com raiva. 

Eu sei que não tinha exatamente direito de cultivar esse sentimento, mas odiava como você o tempo todo me dava aquele discurso de "não precisa passar por isso sozinha, estou aqui com você, pode me contar sobre tudo", porém quando era o contrário você também não se abria comigo, se fechava em sua dor e diferentemente de mim, não conseguia nem disfarçar. E eu odiava o quanto ficava preocupada, eu sentia raiva porque queria cuidar de você, queria te abraçar e dormir ao seu lado deixando os malditos pesadelos para trás. 

Te chamei para o banheiro e o olhar assustado em seu rosto devo dizer que me divertiu um pouco, quando você chegou estava tão tenso que nem ao menos precisei te olhar para saber o quão receoso se encontrava. Você perguntou se estávamos bem, lembra? Foi a primeira vez que admitimos que tinha algo errado, mas não era entre nós dois e sim algo interno, mais pessoal. 

Estávamos quebrados. 

O seu nervosismo com a ideia de ficar ruivo era muito engraçado e quando eu perguntei se confiava em mim, você nem pensou duas vezes antes de confirmar. Eu não ia pedir que você fechasse os olhos, mas resolvi te torturar um pouquinho e não deixei que visse em que eu estava trabalhando. Ia deixar o seu drama te consumir por mais um tempinho antes de te mostrar o resultado e na verdade ainda deixei Wanda e Sam verem primeiro. 

Realizei dois desejos pessoais naquele dia, desmanchei aquele topete, deixando seu cabelo mais escuro também com a tinta e ainda consegui vencer uma votação que dizia que você teria que deixar crescer a barba e eu sei que naquela época você realmente odiava isso, mas felizmente se acostumou com ela ao longo dos anos. 

Porque Steve Rogers, você de barba é uma verdadeira perdição.  

quanto mais essa história avança, mais ansiosa eu fico para que vocês vejam o que vem por aí

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quanto mais essa história avança, mais ansiosa eu fico para que vocês vejam o que vem por aí. 

Até terça gente, beijos


Cartas para Steve RogersOnde histórias criam vida. Descubra agora