Capítulo Trinta e Nove

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Encontro você nas estrelas.

Era o que estava gravado na parte de dentro do anel dourado guardado na caixa vermelha da Cartier que tirei da sacola que Jace tinha me dado, junto com a carta, o bolo de chocolate do Serendipity, uma vela e um isqueiro com as iniciais de Mason gravadas. E na mesma hora, quando notei que a caixa estava gasta demais para ser nova e o anel era grande demais para o meu dedo, percebi que era o anel dele.

Fechei os olhos e, apertando o anel com toda a força que eu tinha, me deixei voltar para aquele dia, do lado de fora do Lodge's. Pensei que se tentasse o suficiente, quase poderia sentir as gotas de chuva escorrendo pela saia do vestido que eu usava, o asfalto molhado contra os meus pés, o barulho do trânsito e da tempestade, os passos hesitantes de Mason quando o puxei daquela marquise, e os seus braços apertados ao meu redor, me rodopiando no ar.

Abri os olhos e vi a forma do anel marcada na palma da minha mão.

Parte de mim quis joga-lo no mar. Que se dane "aprender a amar de novo". Eu não queria amar de novo. Não queria outra pessoa. O que ele achava? Que ter a porcaria do anel dele iria fazer isso tudo mais fácil? Ia simplesmente me fazer esquecer o que significava amar alguém pra depois ter esse alguém tirado de mim? Eu o amei. Amei o irmão dele. E onde tudo isso me levou? O que tinha sobrado? Algumas cartas? Um bolo de aniversário? Uma quantidade infinita de lembranças que não conseguiam sequer passar pela minha cabeça sem que eu tivesse vontade de beber uma garrafa inteira de qualquer bebida que me fizesse dormente primeiro?

Amar alguém dói. Da trabalho. Amar alguém exige tudo o que você tem, tudo o que você é. E perder esse alguém... Perder esse alguém não dói nem um pouco menos que perder uma parte de você. Você perde uma parte de você. E às vezes você a recupera, e às vezes não. E talvez existam dores piores, mas, sinceramente, nesse momento, não consigo pensar em muitas.

Coloquei a vela enfiada na fatia da torta — ainda que tivesse perdido totalmente o meu apetite — e a acendi com o isqueiro, deixando-a queimar por um tempo até descobrir o que eu deveria fazer. O anel continuava pousado no parapeito, a vela continuava queimando e tudo o que eu conseguia fazer era observar o fogo.

-Eu não consigo fazer isso sem você. - Deixei escapar, com a voz embargada, olhando mais uma vez para o céu. - Eu não quero fazer isso sem você.

Soprei a vela, vendo a fumaça se dissipando no ar, mas não saí dali. Não guardei o bolo, nem o joguei no chão. Não coloquei o anel, nem o lancei no mar. Só fiquei parada, vendo as ondas irem e virem, me concentrando em respirar, manter o coração batendo e todas as outras coisas que deveriam ser involuntárias, mas estavam se provando ser bem difíceis nesse momento. E foi só quando ouvi o barulho de sapatos batendo contra a madeira do deck que me obriguei a me mexer.

Não sabia quanto tempo fazia desde que Jace tinha ido embora, ou se ainda tinham convidados na festa, e tentei de verdade não me sentir culpada por desejar que não fosse Charlotte ou Vivienne vindo atrás de mim. Elas trabalharam duro demais nessa festa, nesse dia, e provavelmente em todos os dias nos últimos sete meses para manterem tudo em ordem.

-Eles não tinham bolo suficiente lá na festa? - Blake disse, atrás de mim.

Antes que precisasse me virar, ele se apoiou no parapeito do meu lado.

Olhei de relance para o bolo, com a vela queimada na ponta, e sorri.

-Não igual a esse.

Ele não respondeu. Ao invés disso, ficou parado, me observando, como se estivesse testando o terreno. Não conseguia ver o meu reflexo, mas não imaginava nada menos que uma bagunça de cachos embaraçados, maquiagem borrada e olhos inchados, por isso não pude culpa-lo exatamente por estar sendo cuidadoso.

Encontro você nas EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora