Capítulo Vinte e Cinco

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A primeira coisa que eu vi foi a marca de sangue na parede.

Era como um filme em câmera lenta, como se o meu cérebro não conseguisse assimilar tudo o que estava acontecendo de uma vez só. Primeiro foram as marcas na parede, o sangue escuro em forma de soco escorrendo até quase chegar no chão. Depois foram os sons, a respiração pesada dele e os punhos descobertos batendo repetidamente no saco de pancadas. Então, foi o cheiro, o suor e o metálico do sangue se misturando no ar espesso.

Não sei quanto tempo passou até que saísse do transe e percebesse que aquele andar era, na verdade, um tipo de academia de lutas. Havia tatames e sacos de pancada, até mesmo um pequeno ringue no meio da sala. E no centro de tudo, estava Blake.

Suas mãos estavam inchadas, as juntas do dedo estavam roxas e ensanguentadas, suor escorria do cabelo até o torço. E seus olhos pareciam sem vida. De longe, era como se ele fosse um robô, fazendo movimentos repetidos. Não havia uma ruga de dor em seu rosto, não havia um barulho reprimido enquanto ele socava e socava e socava até a exaustão.

Eu sabia que era ele. Eram os mesmos cabelos pretos, os mesmos olhos verdes e as mesmas tatuagens — me dei até o trabalho de verificar a tatuagem em números romanos no peito esquerdo. O aniversário da irmã dele. Tudo naquela pessoa na minha frente era exatamente como Blake, mas, ainda assim, era como se fosse outra pessoa completamente diferente.

-Blake... - Deixei um suspiro escapar.

Não sabia se ele já tinha notado a minha presença e, para falar a verdade, parte de mim tinha medo do que ele poderia fazer se notasse, mas tinha corrido atrás dele por um motivo. Tinha arriscado e vindo até aqui porque a outra parte de mim precisava saber se ele estava bem, independente do medo.

Ele nem piscou. Seus golpes continuaram no saco de pancadas como se eu não estivesse aqui.

-Blake! - Disse, dessa vez mais alto.

Nada. Nem uma reação.

Dane-se.

Dei os passos mais largos que conseguia e subi no ringue com dificuldade. Tomei coragem, passei pelas cordas e me coloquei o mais perto possível sem que estivesse diretamente na frente do saco.

-Blake Vice, já chega! - Falei, com a voz firme.

Demorou um segundo para que seus olhos desviassem do saco para mim, mas pelo menos algo na forma como disse, fez com que seus punhos descansassem do lado do corpo e o saco girou de um lado para o outro, até se estabelecer parado no eixo.

-Eleanor? O que você está fazendo aqui? - Sua voz era cortada pela respiração ofegante. E foi como se, pouco a pouco, ele estivesse recuperando a consciência.

-O que você está fazendo aqui? - Devolvi. - E que merda toda é essa?

Ele olhou em volta da academia, seus olhos fazendo o mesmo caminho que os meus fizeram agora a pouco.

Porta. Parede. Sangue. Ringue. Sangue. Saco de pancada. Sangue.

Por fim, olhou para os punhos e xingou baixinho.

-Você não deveria estar aqui. - Falou, ainda parecendo perdido.

-E você deveria? A luta não foi o suficiente? O nariz quebrado do Luke não foi o suficiente? Você precisava vir aqui e se destruir também? - As palavras saíam de mim e o atingiam como adagas. O que está acontecendo, Blake?

Ele virou de costas e começou a andar em direção a saída, como se nada tivesse acontecido.

-Não é da sua conta, Eleanor.

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