Elliot nunca pintou por cima do desenho de giz de cera que eu fiz na parede do seu quarto quando nós éramos crianças.
Mesmo com as luzes apagadas, ainda conseguia ver os traços coloridos das duas crianças de mãos dadas pintadas em preto e vermelho no espaço bem em cima do criado mudo do lado direito da sua cama.
No dia em que o nosso pai nos contou que Elara tinha ido embora, Elliot e eu nos trancamos no quarto por horas. Não consigo me lembrar de quem foi a decisão de correr até lá, ou quanto tempo passamos chorando até pegarmos no sono lado a lado, com as mãos entrelaçadas, na cama dele. Mas lembro exatamente de acordar horas mais tarde e fazer aquele desenho na parede. Ele não brigou comigo quando viu — ainda que isso provavelmente tenha exigido um grande esforço da sua parte —, não surtou e não tentou apagar. Ao invés disso, ele sorriu. Não foi um grande sorriso e não foi um grande desenho, mas, naquele momento, foi o suficiente.
Ele entendia e eu também.
Já eram quase três da manhã quando tracei as linhas do desenho com a ponta do dedo por um segundo antes de tirar os sapatos e me deitar na cama com cuidado para não acorda-lo, o que era basicamente inútil considerando o quão leve era o seu sono.
-Lena? - Sua voz rouca cortou o silêncio.
-Shh está tudo bem. - Respondi, me acomodando embaixo do edredom.
Demorou um pouco até que ele abrisse os olhos e chegasse para o lado para me dar mais espaço na cama, mas não precisou nem um segundo depois disso para que visse o relógio no criado mudo, logo abaixo do desenho, e sorrisse do mesmo jeito que sorriu naquele dia.
-Feliz aniversário, irmãozinho. - Sussurrei.
Seu braço se esticou até o outro lado do colchão, onde eu estava, me puxou para perto, me envolvendo tão apertado que mal tinha espaço para me mexer e me deu um beijo na testa.
-Feliz aniversário, irmãzinha.
Dezenove anos tinham se passado desde que fiz aquele desenho na parede. E, mesmo com todas as coisas que mudaram durante esse tempo, eu sabia que aquilo nunca mudaria.
Nós estávamos juntos.
***
Quando meu irmão e eu nos recusamos a planejar alguma coisa muito maior do que um jantar em casa com os nossos amigos no dia no nosso aniversário de vinte e cinco anos, Charlotte disse que deveríamos ter no mínimo uma pequena festa, e que fazia questão de organiza-la para nós.
E no inicio, posso dizer que estava redondamente relutante em deixa-la.
Com a data do nascimento do bebê da Vivienne chegando, ela parecia mais ansiosa do que nunca, e talvez a dor de cabeça de organizar uma festa não fosse exatamente o que ela precisava. Charlotte, no entanto, parecia pensar exatamente o contrário, e, como já tinha aprendido ao longo de todos os anos que nos conhecíamos, quando ela colocava uma coisa na cabeça, não haviam muitas pessoas no mundo que fossem capaz de tira-la. Eu certamente não era uma delas.
Em menos de uma semana, recebi um e-mail de Vivienne me pedindo a minha lista de convidados, que basicamente resumia-se em: Stormi, Mars, Cash, Blake, Lucy e Logan. Depois, Charlotte me ligou, avisando que a festa seria na nossa casa nos Hamptons, em vez de na casa de Manhattan, por isso precisaríamos pegar a estrada de manhã cedo para termos tempo de nos arrumarmos.
Quando chegamos na casa, bem no começo da tarde, havia um furacão de pessoas correndo pelo jardim, organizando tendas, arranjos e mesas, o que me fez questionar exatamente o quão pequena era essa festa.
-Ellie? - Ouvi uma batida na porta e logo depois a voz do meu pai.
-Pode entrar. - Falei, sentada na penteadeira do quarto, dando o último retoque na maquiagem ao redor dos olhos.
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Encontro você nas Estrelas
Romance"Eles disseram que tinha que parar. As bebidas. As apostas. Os amigos. Disseram que me dariam um tempo para provar que conseguiria me virar, que poderia continuar trabalhando, porque era o que ele queria que eu fizesse. Mas eu me perdi. Apostei...