Capítulo Quarenta e Oito

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Do terraço da casa do meu pai, as coisas pareciam muito menores do que eram de verdade. O celular não pegava lá em cima, o barulho do tumulto que era Nova York não existia, e as pessoas lá embaixo pareciam apenas pontinhos pequenos e insignificantes. E, depois do que aconteceu com Jace, foi para lá que eu fui.

Precisava pensar, colocar a cabeça em ordem, e decidir o que eu queria fazer com a minha vida. A exaustão daquele dia e, consequentemente, do dia anterior, fazia de hoje provavelmente o pior dia de todos para tomar esse tipo de decisão, mas não podia mais me dar ao luxo de continuar fugindo disso.

Me afastar de Blake causou um estrago muito maior do que achei que causaria, especialmente porque estava determinada a acreditar que tudo melhoraria depois disso. Sem o drama, as noites em claro que passava com ele em seu apartamento, e as lutas ilegais que íamos, pensei que teria mais tempo para focar no trabalho e na minha família, mas, depois de quase três semanas, percebi que essas foram as últimas duas coisas que eu fiz, e que não importava quantas vezes chegasse mais cedo que todo mundo no escritório, ou quantas noites passasse em casa com Elliot e meu pai, a minha cabeça não estava lá. E, como já suspeitava, o meu coração também não.

Pulei no meu lugar quando ouvi o barulho da porta se abrindo e relaxei quando meu pai apareceu lá com um pote de sorvete e duas colheres.

-Imaginei que você estivesse aqui. - Disse, e se sentou no sofá do meu lado.

-Por quê?

Ele deu de ombros, me passando a embalagem e uma colher.

-Você parecia triste quando chegou.

-Ah. - Foi tudo o que disse porque não sabia mais se tinha a energia para continuar mentindo.

-Então, quer conversar sobre o que aconteceu ou devo deixa-la aqui sozinha tomando sorvete e sentindo pena de si mesma?

Sorri, mesmo que com pouca vontade.

-É complicado. - Disse.

Ele deu de ombros.

-Eu tenho tempo.

Suspirei.

-Eu estraguei tudo. Ou estragaram tudo. Ou terminei de estragar o que tinham estragado. Não sei direito mais.

Ele pegou uma colherada e parou um instante para saborear o gosto de chocolate e menta antes de tentar de novo:

-Quem mais estragou tudo?

Quase ri do jeito cauteloso e devagar que ele tentava abordar essa situação, como se estivesse falando com uma criancinha e não com uma mulher de vinte e quatro anos.

-Blake. - Disse primeiro. - E Jace. - Completei. - E eu também, eu acho.

-Você está sendo vaga, princesa. - Comentou.

Respirei fundo.

Lá vai.

-Blake e eu terminamos... Seja lá o que tínhamos. - Comecei.

-Eu percebi isso.

-Percebeu?

-Claro que sim. E gostaria de dizer que era só porque você realmente passava as noites em casa e não sumia no meio da noite, ou em qualquer hora do dia, na verdade. Mas era mais do que isso. Não te via feliz desde... Bem, desde Mason. Então ele apareceu na sua vida e de repente você estava feliz de novo, genuinamente feliz, eu quero dizer. Não essa felicidade de mentira que você tem se obrigado a mostrar pra gente. Mas, de uma hora pra outra, você parecia quebrada e infeliz de novo, e eu soube que alguma coisa tinha acontecido.

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