Capítulo Cinco

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Seis meses.

Existe uma lista interminável de coisas que você pode fazer em seis meses. Você pode viajar pela Europa de trem, pode pular de paraquedas na Nova Zelândia e participar de um filme amador em Bollywood. Você pode ver as 7 Maravilhas do Mundo, nadar com golfinhos no México e perder seu dinheiro todo em um cassino em Las Vegas. Porque, aparentemente seis meses é o que as pessoas chamam de "tempo suficiente". É quando as elas não se sentem mais culpadas por não estarem tão tristes assim, quando não se sentem mal por não dizerem mais que sentem muito quando te encontram na rua, ou quando não se preocupam mais em perguntar como você está. É quando elas podem parar de te olhar com pena. Seis meses depois é tempo suficiente para não se sentirem culpadas por sorrir de novo, por não chorarem todas as vezes que falam o nome dele, por conseguirem levantar todos os dias de manhã sem que ele ocupe cada pensamento na sua cabeça e por não se lembrarem de todas as coisas que você nunca poderia esquecer, por não se lembrarem exatamente da cor dos seus olhos, do tom da sua voz ou do cheiro das suas roupas. É o tempo para ficar bem de novo.

E é isso que todo mundo quer ouvir.

Que está tudo bem. Que você está bem.

Mesmo que não consiga mais chegar perto de uma fonte. Mesmo que ainda pare na porta da casa dele e fique olhando por vários minutos, esperando que ele vá sair a qualquer momento. Mesmo que você saiba que ele nunca mais vai sair. Mesmo que você ainda sonhe com ele e tenha dificuldade para dormir em noites de tempestade. Mesmo que você constantemente se pergunte o que está fazendo com a sua vida e porque aconteceu com ele e não com você. Mesmo que você sinta tanta, tanta falta, que seu coração pareça que vai rasgar.

Ninguém quer saber se você ainda consegue escutar o som de seus discos, ou sentir seus dedos no piano, que a voz dele ainda ecoa na sua cabeça, e que a sua mão nunca mais encaixar em nenhuma outra. As pessoas não sabem disso. Não se lembram disso. E não querem lembrar. Porque em seis meses elas sabem que ele se foi. E em seis meses é quando esperam que você siga em frente com a sua vida, que volte a ser quem era antes.

Eles disseram que tinha que parar.

As bebidas. As apostas. Os amigos.

Disseram que me dariam um tempo para provar que conseguiria me virar, que poderia continuar trabalhando, porque era o que ele queria que eu fizesse.

Mas eu me perdi.

Apostei metade do dinheiro que ganhei naquele mês e bebi o resto.

Eu implodi. E deixei que os outros lidassem com os estragos que os meus cacos fizeram neles.

Ninguém falava sobre as vezes em que eu chegava tão bêbada no escritório que precisava que Hannah, a secretária que estava substituindo Vivienne, praticamente me carregasse até a minha sala — lugar onde eu não fazia absolutamente nada além de beber mais e ignorar a pilha de papeis que se acumulavam na minha mesa — mas que ainda assim me recusava a sair. Do mesmo jeito que ninguém falava sobre todos os vidros e móveis que Bennett Maxfield quebrou nas semanas seguintes ao funeral. Ou de como Charlotte Maxfield parecia um fantasma todas as vezes que era vista fora de casa. Nem de como Jace voltou para a Califórnia poucos dias depois como se nada tivesse acontecido — o que não me surpreendeu, já que fugir quando as coisas ficavam difíceis era a especialidade dele.

Nós estávamos caindo aos pedaços.

E três semanas depois que Mason morreu, tudo saiu de controle e eu fugi.

Port Townsend era uma cidade pequena, há duas horas de balsa de Seattle e há quase cinco quilômetros de distância de Manhattan. Ainda assim, era onde ficava o endereço escrito no topo do envelope da carta que Mason tinha escrito.

Encontro você nas EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora