Capítulo Quatro

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A primeira coisa que eu senti foram as folhas de papel pesando uma tonelada na minha mão.

Eles sabiam. Todos eles sabiam o que estava acontecendo e esconderam isso de mim.

Passei os olhos mais uma vez pelas palavras rabiscadas em preto, a caligrafia que eu reconheceria em qualquer lugar do mundo, e então senti a garganta fechando, as pernas bambas e um bolo se formando no estômago. Não consegui dar mais de cinco passos antes que me apoiasse em uma árvore e vomitasse tudo o que tinha bebido na noite anterior.

O cemitério estava frio e vazio. Os flocos de neve caíam em cima de mim e do lugar onde eu havia despejado a mistura de vodka, uísque e seja lá mais o que eu tomei até apagar, criando uma bagunça.

Eu precisava ir embora daqui.

Obriguei as minhas pernas a se moverem, se afastarem daquele lugar e não olhar para trás enquanto fizesse. Era egoísta, mas sabia que não conseguiria sair se olhasse.

Ele ficaria decepcionado. Uma voz ecoou na minha mente.

Balancei a cabeça, como se isso pudesse abafar aquela voz, e, quando não funcionou, tirei da bolsa um frasco prateado reluzente. Dei um gole longo e demorado no líquido, deixando o gosto e o cheiro pungente do álcool apagar o vestígio de tudo o que eu tinha vomitado antes. Eu estava curando uma ressaca com mais bebida.

Bebi o suficiente para conseguir ignorar o lugar ao meu redor. Ignorei as lápides e o que elas significavam. Ignorei o vento frio e a dificuldade de andar com os saltos no chão coberto de neve. Ignorei a minha consciência me dizendo que devia parar. Ignorei as lágrimas que ameaçavam a vir todas as vezes que me lembrava da razão para eu estar naquele lugar. Ignorei as folhas de papel dobradas no bolso do meu casaco. Bebi o suficiente para ignorar isso tudo e forçar as minhas pernas cambaleantes a sair daquele lugar. E quando escapei daquele cenário sujo e melancólico, entrei em um táxi e não olhei para trás.

Você não precisa olhar. Mason não está lá. Disse para mim mesma, uma última vez. Mason não está mais em lugar nenhum.

Não sei exatamente quanto tempo demorou até que o motorista limpasse a garganta, avisando que já tínhamos chegado ao destino, nem em que parte da viagem eu havia dito que queria vir para cá, mas quando vi a figura imponente da Heyward Tower, soube que aquele era único lugar que eu queria estar.

Saí trêmula e bêbada do carro, com as pernas vacilando e os sapatos instáveis tocando o chão sem o menor jeito, e andei até os prédios.

Todo mundo sabia o que tinha acontecido e o clima ali dentro parecia mais frio que do lado de fora.

Uma matéria na capa do The New York Times estampava o rosto de Mason na edição daquela manhã. Fotos tiradas de Charlotte e Bennett saindo do hospital, junto comigo e com meu pai e Elliot estavam em todos os sites de fofoca, assim como a nota oficial do hospital e o depoimento de pessoas que estavam no Lodge's naquela noite.

Com os grandes óculos escuros sobre os olhos e o batom vermelho ainda intacto, qualquer um poderia achar que aquele era só mais um dia normal. E, por mais que tivesse entrado marchando pela recepção como se fosse mesmo, aquele estava longe de ser um dia normal para qualquer um de nós.

Evitei todos os olhares direcionados a mim e atravessei os corredores até o elevador com a cabeça erguida e os passos controlados para não tropeçar.

O último andar — onde ficava o meu escritório, assim como o do meu pai e o de Elliot — estava completamente vazio. Passei pelas salas fechadas deles e de suas secretarias, que provavelmente estavam de folga, e então parei na minha porta.

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