Alguns meses atrás, a imagem do meu pai correndo pela portaria do prédio, usando a blusa abotoada errado para fora da calça e um par de meias no lugar dos sapatos, teria feito com que me jogasse no chão e rolasse de tanto rir. Seus cabelos pretos estavam bagunçados e a lente esquerda dos óculos tinha marcas de dedo, como se ele tivesse acabado de coloca-los as pressas antes de voar para fora do prédio.
Me perguntei se ele teve tempo de se olhar no espelho e ver o caos em que se encontrava, mas desconfio que, ao ver as minhas mensagens no celular, apenas parou tudo o que estava fazendo e correu até aqui.
-Ellie! –Ele disse, me rodopiando no ar como se eu ainda fosse uma criança.
Descansei a cabeça em seus ombros e me deixei tomar pela familiaridade. Mesmo bagunçados, seus cabelos ainda estavam úmidos, com o cheiro do shampoo mentolado e colônia Versace.
-Senti sua falta, pai. - Disse.
Ele me colocou no chão e deu um beijo na minha testa.
-Também senti sua falta, garotinha. - Ele respondeu.
Sorri.
Eu estava um caos, com roupas que tinha colocado de qualquer jeito depois da noite de ontem, cabelos bagunçados, olheiras mal escondidas pela camada fina de maquiagem e sentia a minha pele colando por baixo da camiseta, mas corri em sua direção e me joguei nos seus braços mesmo assim.
Ir para Port Townsend teve mais impacto sobre mim do que podia admitir. Foi bom estar distante um pouco e tirar um tempo para me afastar das memórias de Nova York, mas, ao mesmo tempo, me fez perceber o quanto eu sentia falta de tudo lá.
A casa estava do mesmo jeito que eu lembrava.
A decoração branca com tons pastel, a claridade entrando pelos vidros espalhados, as fotos espalhadas nas paredes de viagens que fazíamos quando Elliot e eu éramos menores e os livros empilhados na biblioteca.
Tudo era igual e ao mesmo tempo tudo era tão... Diferente.
Talvez eu que estivesse diferente. Pensei, parando de frente para uma foto de Elliot e eu na praia.
Nós devíamos ter uns quatro ou cinco anos, os dois com o mesmo cabelo preto, os mesmos olhos azuis e as roupas sempre da mesma cor.
-Onde está Elliot? - Perguntei para o meu pai e virei para trás.
Ele estava afastado, quase na porta, imóveis um do lado do outro, como se, de repente, tivesse medo de se mover.
-Ele teve que resolver algumas coisas da Fundação na Filadélfia, mas vai estar de volta amanhã. - Disse, tão pausadamente que senti como se fosse desistir de falar a qualquer momento.
Andei na direção dele.
-Eu não vou quebrar, você sabe. - Falei, tomando sua mão.
Esperei que ele dissesse alguma coisa, mas quando continuou tenso, em silêncio, respirei fundo e continuei:
-Está tudo bem, eu juro. - Insisti. - O que aconteceu... Antes... Não vai acontecer de novo.
-Você gostou de lá? - Ele soltou, como se estivesse soltando ar preso ao invés de palavras.
Assenti, com um sorriso.
-E está tudo bem agora. - Meu pai concluiu.
-Sim. - Confirmei. - Está tudo bem agora.
Sem perceber, subimos as escadas até chegarmos ao terraço, no último andar da casa.
Se o Lodge's era o meu lugar especial com Mason, o terraço da nossa casa era o meu lugar especial com o meu pai. Quando eu era pequena, era lá que eu me escondia e lá que o ele sempre me encontrava.
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Encontro você nas Estrelas
Romance"Eles disseram que tinha que parar. As bebidas. As apostas. Os amigos. Disseram que me dariam um tempo para provar que conseguiria me virar, que poderia continuar trabalhando, porque era o que ele queria que eu fizesse. Mas eu me perdi. Apostei...