Capítulo Nove

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Alguns meses atrás, a imagem do meu pai correndo pela portaria do prédio, usando a blusa abotoada errado para fora da calça e um par de meias no lugar dos sapatos, teria feito com que me jogasse no chão e rolasse de tanto rir. Seus cabelos pretos estavam bagunçados e a lente esquerda dos óculos tinha marcas de dedo, como se ele tivesse acabado de coloca-los as pressas antes de voar para fora do prédio.

Me perguntei se ele teve tempo de se olhar no espelho e ver o caos em que se encontrava, mas desconfio que, ao ver as minhas mensagens no celular, apenas parou tudo o que estava fazendo e correu até aqui.

-Ellie! –Ele disse, me rodopiando no ar como se eu ainda fosse uma criança.

Descansei a cabeça em seus ombros e me deixei tomar pela familiaridade. Mesmo bagunçados, seus cabelos ainda estavam úmidos, com o cheiro do shampoo mentolado e colônia Versace.

-Senti sua falta, pai. - Disse.

Ele me colocou no chão e deu um beijo na minha testa.

-Também senti sua falta, garotinha. - Ele respondeu.

Sorri.

Eu estava um caos, com roupas que tinha colocado de qualquer jeito depois da noite de ontem, cabelos bagunçados, olheiras mal escondidas pela camada fina de maquiagem e sentia a minha pele colando por baixo da camiseta, mas corri em sua direção e me joguei nos seus braços mesmo assim.

Ir para Port Townsend teve mais impacto sobre mim do que podia admitir. Foi bom estar distante um pouco e tirar um tempo para me afastar das memórias de Nova York, mas, ao mesmo tempo, me fez perceber o quanto eu sentia falta de tudo lá.

A casa estava do mesmo jeito que eu lembrava.

A decoração branca com tons pastel, a claridade entrando pelos vidros espalhados, as fotos espalhadas nas paredes de viagens que fazíamos quando Elliot e eu éramos menores e os livros empilhados na biblioteca.

Tudo era igual e ao mesmo tempo tudo era tão... Diferente.

Talvez eu que estivesse diferente. Pensei, parando de frente para uma foto de Elliot e eu na praia.

Nós devíamos ter uns quatro ou cinco anos, os dois com o mesmo cabelo preto, os mesmos olhos azuis e as roupas sempre da mesma cor.

-Onde está Elliot? - Perguntei para o meu pai e virei para trás.

Ele estava afastado, quase na porta, imóveis um do lado do outro, como se, de repente, tivesse medo de se mover.

-Ele teve que resolver algumas coisas da Fundação na Filadélfia, mas vai estar de volta amanhã. - Disse, tão pausadamente que senti como se fosse desistir de falar a qualquer momento.

Andei na direção dele.

-Eu não vou quebrar, você sabe. - Falei, tomando sua mão.

Esperei que ele dissesse alguma coisa, mas quando continuou tenso, em silêncio, respirei fundo e continuei:

-Está tudo bem, eu juro. - Insisti. - O que aconteceu... Antes... Não vai acontecer de novo.

-Você gostou de lá? - Ele soltou, como se estivesse soltando ar preso ao invés de palavras.

Assenti, com um sorriso.

-E está tudo bem agora. - Meu pai concluiu.

-Sim. - Confirmei. - Está tudo bem agora.

Sem perceber, subimos as escadas até chegarmos ao terraço, no último andar da casa.

Se o Lodge's era o meu lugar especial com Mason, o terraço da nossa casa era o meu lugar especial com o meu pai. Quando eu era pequena, era lá que eu me escondia e lá que o ele sempre me encontrava.

Encontro você nas EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora