Capítulo Vinte e Sete

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Eu não fugi.

Na manhã seguinte a luta, acordei exatamente no mesmo lugar que, pouco a pouco, estava começando a parecer familiar para mim. Nos braços de Blake. Mas, ao contrário de todas as outras vezes que tinha acordado assim, eu não tentei sair de fininho, escondida, para evitar a proximidade. A intimidade em acordar ao lado de alguém, especialmente depois de tudo o que computou para que estivéssemos nessa posição.

-Você ficou. - A voz rouca de Blake interrompeu os meus pensamentos.

Apertei os olhos e me obriguei a virar dessa vez.

Ele estava exatamente como tinha imaginado mil vezes na manhã passada, quando me recusei a olhar. Cabelos bagunçados, sorriso preguiçoso nos lábios, barba por fazer.

-Eu disse que ia. - Falei, simplesmente.

-É, você disse.

Ficamos em silêncio por um tempinho. Como se soubéssemos que no momento em que colocássemos palavras no meio disso, perceberíamos que todas as coisas que ficaram por dizer ontem, todas as explicações e conversas difíceis arruinariam o momento de calmaria que tínhamos criado.

Então não falamos nada. Não conversamos sobre o que houve. Não acabamos aos gritos e com lágrimas nos olhos.

Em vez disso, ele chegou mais perto e me puxou para mais perto também. Seus braços se apertaram mais ao meu redor, cada parte do meu corpo tocando o seu. Senti sua pele contra a minha, irradiando calor e me incendiando por dentro. Senti os seus lábios exigentes no meu pescoço percorrendo cada centímetro até encontrarem os meus. Senti o êxtase e a urgência atrás daquele toque.

Ele não era apressado, ia a seu próprio passo, como se tivéssemos todo o tempo do mundo. Aqui dentro do quarto não existiam compromissos ou pessoas esperando por nós. Não existiam segredos, barreiras, ou qualquer coisa que se pusesse no caminho. Não existia tristeza também, culpa ou qualquer outro sentimento que pudesse estragar aquele momento. Blake me beijava como se tudo de ruim pudesse ir embora, simplesmente ser apagado das nossas memórias. Ele tinha gosto de recomeço. E isso era a única coisa que eu queria, mas pensava que não podia ter.

Horas mais tarde, era exatamente nisso o que estava pensando no jantar com meu pai, Elliot, os Maxfield e Vivienne.

-Você parece meio área. - Vivienne disse baixinho no meu ouvido, no meio da discursão de Bennett e meu pai sobre futebol americano. - Está tudo bem?

Olhei para ela e pisquei duas vezes, me obrigando a organizar os meus pensamentos e colocar a cabeça onde deveria estar.

-Claro. - Disse. - Só estou um pouco distraída.

-Algo importante? - Perguntou com um sorriso e eu balancei a cabeça. - Alguém importante, então. Bom saber.

Com todos os anos que trabalhava comigo, Vivienne havia aprendido a ler as minhas expressões melhor que qualquer pessoa. Ela sempre sabia quando eu estava concentrada demais, ocupada preocupada demais, ocupada demais para atender alguém, sabia quais ligações transferir e para quem dizer que eu não estava disponível. Ela sabia quando eu precisava de um café para continuar funcionando propriamente ou quando tinha que sair do escritório para esfriar a cabeça. Sendo minha assistente e a minha melhor amiga, também sabia quando eu estava mentindo, quando estava escondendo alguma coisa, quando estava genuinamente distraída com nada em especial, ou quando a minha cabeça estava em outro lugar completamente por algum motivo.

Não adiantava nem negar.

-É uma longa história. - Falei.

-Que bom que temos a tarde inteira juntas amanhã, então.

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