Capítulo Quarenta e Dois

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A casa estava um caos.

A decoração era simples e antiga. O papel de parede estava descascando por efeito do tempo e das infiltrações que tomavam conta de vários pedaços. Os móveis eram velhos, machados em alguns cantos, gastos em outros. O piso de madeira rangia sob os pés, assim como as janelas ao se moverem com a brisa vinda do lado de fora.

Fotos emolduravam a subida da escada, a maioria de Stormi com um homem que não deveria ser muito mais velho que o meu pai. Eles tinham os mesmos olhos castanhos claros e o mesmo cabelo escuto. Procurei fotos da mãe dela, mas não tinha.

Essa deve ser a casa do pai dela, pensei. Ainda que, pelo que ela me disse, ele ainda estava na clínica em Nova Jersey.

Na sala, Stormi e Cash recolhiam os pedaços de vidro do chão, e não havia nenhum sinal de Blake.

-Ele está no banho. - Cash disse, jogando a última garrafa no saco de lixo preto.

Pela primeira vez desde que nos conhecemos, Cash parecia no limite. Mesmo em Atlantic City, ele manteve a calma, fez as suas brincadeiras e agiu como se tudo não passasse de uma grande piada. Hoje, ele parecia ser capaz de arrancar a cabeça de Blake com as próprias mãos.

Assenti, sem saber direito o que dizer. Ainda estava procurando um bom motivo para estar aqui, em primeiro lugar.

-Você deveria ir pra casa. - Cash continuou, dessa vez olhando pra mim. - E, se puder, deveria levar a Storm-Storm daqui também.

Stormi ainda estava quieta, com o olhar distante e quebrado. Agora que o lixo já tinha sido recolhido e nenhum outro dano parece ter sido feito na casa, ela — que parecia estar funcionando em piloto automático — não tinha nenhuma reação.

-Não seja ridículo. - Ela disse, com a voz controlada. - Nós já passamos por isso. E vamos continuar passando por isso. É pelo Blake.

Cash bufou.

-Ele não tem o direito de fazer isso com você. - Ele insistiu, com raiva.

-Você é duro demais com ele. - Stormi falou. - O Blake é...

-Grande o suficiente para assumir responsabilidade pelos seus atos. - Mars interveio. - E é lugar dele fazer isso, Cash, não seu. Todos nós conhecemos Blake o suficiente para saber que ele está lá em cima se afogando na própria culpa. É isso que ele faz. Deixem que ele o faça. Deixem que ele sinta. Stormi tem que parar de trata-lo como uma criança indefesa e Cash tem que parar de tratar Stormi como uma criança indefesa. Nós vamos passar por isso juntos, do mesmo jeito que passamos por todo o resto. E vamos fazer sem duvidar que todos nós somos fortes o suficiente para isso.

A sala ficou em silêncio depois disso. E o eco das palavras de Mars foi tudo o que ouvimos durante muito tempo.

Cash se sentou no sofá, com Stormi encolhida em seu colo. Mars se ofereceu para sentar no chão e me ofereceu o lugar na poltrona, mas, de uma hora para a outra, a sala pareceu abafada demais. Eu não queria ir embora, mas também não conseguia ficar aqui dentro.

Refiz o caminho até a porta dos fundos e abri uma frecha dela, para sentir a brisa de verão. Por sorte, naquela noite, o tempo não estava seco, ou quente demais, e resolvi aproveitar para me sentar nos degraus que davam para o quintal dos fundos.

Fechei os olhos e deixei o vento soprar os meus cabelos para trás. E por um segundo, me fiz acreditar que todos os eventos dessa noite poderiam ser soprados junto. A exaustão começou a bater pouco a pouco, a adrenalina abaixando e os olhos quase pesados demais para ficarem abertos. Queria conseguir dormir ali mesmo, deitada nos degraus. Talvez assim pudesse postergar o resto dessa noite até amanhã de manhã. E é claro que não tive nem cinco minutos inteiros até que ouvisse o barulho da porta abrindo atrás de mim.

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