Capítulo Cinquenta e Um

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-Droga.

Xinguei baixinho quando o cheiro de queimado se espalhou pela cozinha. Corri até o fogão desnecessariamente complicado de Blake e suspirei frustrada quando vi a bagunça preta da massa das panquecas queimando na frigideira.

Já era de manhã quando Blake voltou a dormir depois da discussão que tivemos, que aparentemente tinha resultado em uma relação que ainda não tínhamos tido tempo de rotular, mas eu não consegui pegar no sono.

Então, eu me lembrei da carta que estava na minha bolsa.

No momento em que li o que estava escrito no verso do envelope, assim como Jace, eu já tinha plena certeza de como me sentia. Acho que eu já sabia disso antes também, mas, estando longe de Blake parecia mais fácil de ignorar.

Hoje, no entanto, depois de ler a carta "para o dia que você se apaixonar", soube que não tinha mais como fugir.

Depois disso, ao invés de passar horas na cama pensando demais em tudo o que aconteceu e, especialmente, em tudo o que ainda iria acontecer, resolvi que levantar e preparar alguma coisa de café da manhã seria uma tarefa bem menos complicada.

E precisaram exatamente de uma hora, três videos no youtube e dois dos livros de culinária de Lucy, para perceber que ficar na cama e pedir comida por delivery teria sido indiscutivelmente mais fácil.

Demorou alguns segundos até que eu conseguisse desligar o fogão, e joguei as panquecas no lixo e a panela na pia antes que o detector de fumaça apitasse e piorasse mais ainda a situação.

-Então é isso? Eu digo que te amo e você tenta incendiar o meu apartamento?

É claro que ele estaria aqui, parado atrás de mim, com a mão na boca, abafando as risadas ao ver a confusão em que estava sua cozinha. Seus cabelos estavam mais bagunçados que o normal, e só agora, com a luz do dia, podia ver as olheiras profundas e escuras embaixo de seus olhos. Senti um pequeno aperto no coração ao lembrar o que Stormi tinha dito sobre ele estar dormindo no escritório, mas passou rapidamente quando ele se aproximou da lata de lixo e nem se deu ao trabalho de esconder as gargalhadas ao ver o que eu tinha feito.

-Não tem graça! - Falei, fechando a tampa da lata de lixo com força e empurrado ele para fora do caminho. - E, tecnicamente, você não disse que me ama.

Saí da cozinha, batendo a porta, e na mesma hora ouvi seus passos atrás de mim.

Ele segurou o meu pulso e me puxou até que estivéssemos frente a frente.

-Na verdade tem sim. Mas foi legal da sua parte. - Falou, rindo. Então seu olhar ficou sério, e ele prendeu um cacho atrás da minha orelha. - E eu amo. Muito.

Se eu tinha qualquer intenção de continuar fingindo estar com raiva por ele ter rido da minha tentativa completamente falhada de cozinhar, tinha ido embora no segundo em que ele se inclinou e fechou todo o espaço entre nós. Faltou muito pouco para que eu não conseguisse resistir a necessidade que sentia em dizer aquilo de volta, mas na mesma hora, as minhas mãos viajaram por seu torço até descansarem firmes em seu pescoço, e, quando ficou difícil demais encontrar um meio termo para equilibrar a nossa diferença de altura, ele me levantou e as minhas pernas se enrolaram ao redor de sua cintura. O jeito como o meu corpo reagia ao dele era natural, um se movendo em função do outro, um respondendo ao outro de um jeito tão fácil, que me fez perceber que talvez eu não precisasse dizer nada. Ele sabia.

-Mesmo que você não saiba cozinhar. - Ele murmurou, com os lábios colados nos meus, o que me fez empurra-lo de novo. - Ei! É a intenção que vale.

-Que bom que pensa assim, porque você provavelmente teria morrido se comesse isso.

Ele riu.

-Vem, eu vou fazer alguma coisa pra gente.

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