Capítulo Dezenove

11 1 0
                                    

Uma semana depois que voltei para Nova York, recebi um e-mail da minha mãe dizendo que eu deveria ir até a sua casa tomar chá.

Olhei para as palavras curtas na tela do computador e me perguntei se só agora ela tinha descoberto que eu estava de volta, ou se precisou de uma semana inteira para planejar o sermão que iria me dar.

Eleanor,

Soube que estava de volta.

Venha até o Dakota tomar chá.

17h.

Não se atrase.

-Elara Heyward

Era o que o e-mail dizia.

Foi um convite incomum, já que eu não gostava muito de chá — ou da minha mãe — mas, com certeza não foi uma surpresa que Elara esperasse que a minha agenda estivesse a sua disposição — ela sempre achou que o mundo girava ao seu redor —, ou por ainda assinar com o nome Heyward — ainda que ela e meu pai estivessem separados desde que ela decidiu fugir para Bora Bora por dois meses com o personal trainer, quando Elliot e eu tínhamos 5 anos —, nem mesmo pelo e-mail frio e distante, depois de seis meses sem notícias — ela nunca foi boa em demonstrar os sentimentos.

Aquela era Elara Heyward.

E agora, sentada em uma poltrona no centro da casa totalmente impessoal, rodeada pelos móveis e tapetes caros estava ela, vestindo um terninho branco e sapatos Louboutins da mesma cor, com os cabelos pretos presos em um coque impecável no topo da cabeça.

-Você está atrasada. - Foi a primeira coisa que ela disse, sem tirar os olhos do jornal em suas mãos.

Revirei os olhos.

-Pode parecer chocante, mas a agenda do mundo inteiro não gira ao redor da sua, Elara. - Era como ela pedia que nós a chamássemos.

Me sentei na poltrona na sua frente e neguei com a cabeça quando sua assistente me ofereceu o chá.

-Esse sarcasmo todo não é educado, Eleanor.

Resisti ao impulso de ir embora.

Ontem a noite, depois que Blake me deixou em casa, Elliot estava me esperando, sentado no sofá da sala, usando os óculos de leitura e fingindo ler o livro que enfeitava mesa de centro, mas não perguntou onde ou com quem eu estava.

Subindo as escadas até meu quarto, suspirei de alívio.

Há aquela altura, não conseguia imaginar de onde tiraria forças para explicar o que tinha acontecido. Elliot e Jace eram melhores amigos, assim como eu e Mason. E talvez, pelo fato de que já tinha perdido o meu melhor amigo, não contei para o meu irmão o que tinha acontecido entre mim e Jace. Elliot não precisava perder o dele.

Na manhã seguinte, sentado na mesa de café da manhã do Lodge's Pub, em vez de falar sobre a noite passada, Elliot me mostrou a tela do celular, com o e-mail de Elara, seguido um longo sermão sobre não poder culpa-la por ter desistido de sua carreira na maternidade quando ainda éramos crianças.

Elliot sempre teve um coração grande demais para o seu próprio bem.

-Por favor, Lena. Por mim. Da uma chance. Ele tinha dito.

-Bom, imagino que você não tenha me chamado aqui para comentar sobre a minha educação. - Comentei, entrelaçando as mãos no colo, sobre o vestido bandagem vermelho, e mantive a postura firme e ereta, como se estivesse em uma reunião, ao invés de um chá com a minha mãe.

Elara, cuja postura estava sempre tão impecável quanto as roupas, dobrou o jornal e o pousou em cima da mesa.

- Ouvi que você não está mais com Jace. - Apertei os punhos. - Poderia por favor me dizer que você fez para aquele garoto maravilhoso terminar com você, Eleanor?

-Ele me traiu, Elara. - Disse, com um suspiro cansado.

-Você deveria ter ido para a Califórnia, como eu disse. - Falou, como se o que Jace fez tivesse sido culpa minha. - O que você vai fazer agora? Não é como se fosse ficar mais nova. Seis meses de férias e o que tem feito? - Ela olhou para as minhas roupas. - Trabalhando, eu imagino.

-Eu tenho vinte e quatro anos. E nem todas nós queremos viver da pensão do ex-marido, não é? - Soltei.

Ouvi o barulho de suas unhas vermelhas baterem umas contra as outras.

-Não seja amarga, querida. Só ganho o que é meu por direito.

Senti o sangue ferver.

-Um pouco presunçoso vindo de alguém que era garçonete antes do papai te encontrar. Uma grande mudança, não acha? Do Harlem para o Upper East Side. Realmente impressionante.

Ela deixou a xícara que estava segurando, cair ruidosamente na mesa de centro e fiquei surpresa pela porcelana não ter quebrado.

-Olha o tom, Eleanor. Eu sou a sua mãe.

Respirei fundo.

Pra dentro.

Pra fora.

E pensei em Elliot.

Ele me devia uma.

-Por que não me diz o real motivo por eu estar aqui? Imagino que não tenha sido para fazer o discurso de "eu sou a sua mãe", já que você está vinte e quatro anos atrasada nesse departamento.

-Chamei você aqui porque quero vender o apartamento. Quero sair da cidade, ir para Los Angeles, talvez Miami, algum lugar perto da praia...

Ela continuou a falar sobre as casas "fabulosas" que seu corretor havia encontrado no litoral, e sobre as milhares de ligações e a fila de espera de pessoas interessadas em comprar o apartamento, e em algum momento o meu cérebro desligou.

Aquele apartamento tinha sido a primeira coisa que meu pai comprou para a nossa família quando a Heyward Holdings passou a fazer sucesso. Meu irmão e eu nascemos ali e ficamos até o divórcio, quando Elara concordou que abriria mão de nós, se meu pai abrisse mão do apartamento. Não existia uma razão para que papai não a expulsasse agora que éramos adultos, assim como não tinha obrigação de continuar dando rios de dinheiro para ela todo mês, mas ele sempre dizia que fazia porque ela era a nossa mãe e isso era a coisa certa a fazer.

Se fechasse os olhos, ainda conseguia me lembrar de correr pelos corredores com Elliot, Mason e Jace. Dos jantares que fazíamos no jardim de inverno nos fundos com os Maxfield. Nós éramos uma família e isso era o que aquele lugar significava.

-De qualquer forma, - A voz de Elara me trouxe de volta. - seu irmão e seu pai já concordaram, só preciso da sua assinatura.

-Não.

-E você pode... Espera aí, você disse não? - Ela se interrompeu.

Mantive o rosto calmo.

-Isso mesmo, Elara. Eu disse não.

Ela se levantou, o barulho dos saltos ecoando na sala.

-Você não pode fazer isso. Por que está fazendo isso? - Então começou a andar em círculos, como uma lunática. - Eu sempre fiz tudo por você! Sacrifiquei a minha juventude e a minha beleza por você! Nunca te disse um "não"! Você não pode fazer isso. - Repetiu.

Me levantei também, pegando a minha bolsa no chão e andei em direção a porta.

Chega. Eu não toleraria mais isso.

-Eu posso fazer isso porque essa casa também é minha. E eu vou fazer isso porque você é egoísta e ingrata.

Quando cheguei até a porta, me virei mais uma vez pra ela:

-Tchau, Elara.

Bati a porta atrás de mim e desci os degraus da entrada, irritada de um jeito que só ela poderia me deixar. 

Encontro você nas EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora