E quem dera que a realidade fosse simples assim.
Levando os últimos meses em consideração, podia dizer que já estava relativamente bem acostumada em acordar do lado de uma pessoa. E, apesar de ter sido estranho no começo ignorar todos os impulsos que eu tinha de ir embora, pouco a pouco Blake foi derrubando tijolo por tijolo do muro de autopreservação que eu tinha construído até que eu estivesse genuinamente confortável com aquilo.
Hoje, no entanto, a sensação era diferente.
Por causa de seus hábitos noturnos inconstantes, ele quase sempre já estava desperto quando eu acordava, com os olhos azuis escuros me olhando intensamente, ou os dedos distraídos brincando com a ponta do meu cabelo. Mas, naquela manhã, o som da respiração pesada e o peso do braço em cima da minha barriga foi tudo o que notei quando acordei.
Mantive os olhos propositalmente fechados, na esperança de que pudesse voltar a dormir antes que o meu cérebro tivesse tempo de recapitular tudo o que tinha acontecido na noite passada. Não funcionou, é claro. E quando a escuridão do quarto deu lugar aos flashes de mim e Stormi no Lodge's, o barulho do ar condicionado foi substituído pelo som dos copos de vidro arrastados pelo balcão, e as lembranças das manhãs com Blake se transformaram em imagens de Jace e eu no banco de trás do táxi, me obriguei a abrir os olhos e encarar a realidade.
A primeira coisa que notei foi o braço pesado que atravessava o meu corpo — e, mais especificamente, o fato de que não tinha uma tatuagem se quer embaixo dos pelos loiros. E, quando tive certeza absoluta que não havia qualquer possibilidade de ser Blake ali do meu lado, tomei coragem e levantei o edredom apenas o suficiente para procurar, sem sucesso, qualquer vestígio de que continuava usando as roupas de ontem.
Merda. Merda. Merda. Merda.
-Merda.
Repeti tantas vezes isso na cabeça que pensei ter dito em voz alta, mas, de repente, o braço foi tirado de cima de mim e grandes olhos verdes e confusos me encararam, e percebi que eu não tinha dito nada. Jace disse.
-É. - Respondi, porque, sinceramente, não tinha muito mais o que dizer. Então o silêncio longo e desconfortável que pairou entre nós dois ficou pesado demais para ser deixado desse jeito. - Jace eu...
-Não. - Ele me interrompeu. - Não fala nada.
Ele se mexeu nos lençóis e ficou de costas para mim quando se sentou na extremidade da cama e pôs os pés no chão.
-Onde você vai? - Me peguei perguntando, ainda que não conseguisse esconder o alivio de não mais ter o seu olhar tenso pesando em mim.
-Para casa. - Ele respondeu, ainda de costas. - Antes que a gente faça mais alguma coisa que se arrependa mais tarde.
Meio tarde demais para isso. Quis dizer, mas não disse.
O que aconteceu foi tão culpa minha quanto dele, e, mesmo que quisesse acreditar que fosse, não seria justo. Comigo ou com ele. Nós estávamos bêbados. Foi bagunçado e estúpido e não deveria ter acontecido. Mas aconteceu, e agora me restava apenas engolir as palavras e deixar que ele se levantasse, virando para o outro lado no segundo em que o edredom foi jogado para o lado e sua cueca boxer azul marinho se tornasse um ponto de cor no quarto branco.
Ele foi até o banheiro, batendo a porta atrás de si — provavelmente com mais força do que pretendia — e me encolhi nos lençóis brancos, esperando que a culpa me corroesse lentamente. Depois de tudo, acho que era o mínimo que eu merecia por me colocar naquela situação de novo.
-Eu sinto muito. - Acabei dizendo, quando ele apareceu de volta, vestido e arrumado.
-Por ter dormido comigo ou por ter me usado como rebote enquanto fazia isso? - Jace perguntou, com a voz arrastada e cansada, como se a última coisa que quisesse fazer era ter essa conversa.
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Encontro você nas Estrelas
Romance"Eles disseram que tinha que parar. As bebidas. As apostas. Os amigos. Disseram que me dariam um tempo para provar que conseguiria me virar, que poderia continuar trabalhando, porque era o que ele queria que eu fizesse. Mas eu me perdi. Apostei...