Um mês depois
Seul, Coreia do Sul - 18:55 p.m.
JaneDesde a última vez que fui parar com Jungkook naquele galpão horrendo, nada de estranho aconteceu. Continuava presa nesta casa, Jungkook continuava trabalhando todo santo dia, e os meninos também. Notei que a vida de criminoso, além de fugir dos inimigos, envolvia ganhar dinheiro com drogas, armas e prostitutas.
No meu dia a dia, eu seguia a mesma rotina. Levantava às dez, tomava café, assistia um pouco de TV porque não estou morta, almoçava e fazia academia. Quando Taehyung estava em casa à tarde, eu acabava treinando tiro ao alvo com ele, mas isso não acontecia sempre.
A casa estava uma correria, parecia que os meninos iam fazer alguma coisa, um trabalho importante. Observava eles andarem com armas de um lado para o outro, como baratas tontas, querendo saber o que realmente iam aprontar desta vez.
Me permiti explorar a casa também. Descobri que havia salas secretas e um último andar ao qual Jungkook não permitia que ninguém subisse.Depois daquele dia, fiquei com medo dele, mas já tinha entendido que essa era a natureza dele. Tudo que precisava fazer era permanecer aqui até o contrato acabar e finalmente estaria livre.
Adentrei o quarto de Jungkook, procurando-o enquanto os meninos resolviam outras coisas no andar de baixo.Queria pedir dinheiro para ir ao shopping. Esta casa era tão grande que qualquer coisa te entretinha, mas ainda assim era chato não sair. Só ver aquelas paredes brancas com quadros esquisitos, bem a cara do Jungkook.
O quarto dele definitivamente era o maior da casa. A cama era enorme e as janelas também. O chão era de carpete e percebi que Jungkook gostava de espelhos, já que tinha uma parede inteira deles. As paredes eram pretas, algo que nunca imaginei ser tão bonito. A TV em frente à cama podia claramente servir como tela de cinema.
Andei mais para frente, encontrando o closet. Era menor e mais comum, exceto pela coleção de botas pretas quase idênticas dele. Um papel no chão voou com o vento do ar-condicionado. Fui até ele e o peguei. Era uma foto. Uma foto de uma criança de uns três anos com uma mulher.
Certamente Jungkook e sua mãe. A aparência dos dois era demasiadamente parecida.
— Mas que merda está fazendo aqui? ― Me virei completamente assustada, dando de cara com um Jungkook seminu, com uma toalha na cintura e uma expressão raivosa.Apesar de engasgar com minha própria saliva, não me permiti ficar nervosa.
— Essa é a sua mãe? ― Jungkook disfarçou a cara de surpresa e puxou a foto da minha mão com força.
— Você estava mexendo nas minhas coisas? ― O tom de Jungkook mudou drasticamente. Assim como sua feição, seu nariz franziu e sua boca tremeu por um breve segundo. Percebi que ele odiava falar sobre família.
— Ela estava no chão, Jungkook. Por que toda essa grosseria? Pode me contar qualquer coisa que quiser ― eu não o julgaria. Posso achá-lo uma péssima pessoa, mas não sei as suas origens. Não sei o que o transformou nisso. E não sou Deus para condená- lo.— Jane, saia do meu quarto. Agora! ― Ele se virou de costas e percebi seu punho esbranquiçado pelo aperto forte das mãos.
— Jungkook, por que você é assim? Eu sei que você já sofreu muito na vida e... ― Eu tinha, sim, interesse na vida dele. Não estava interessada nele ou querendo alguma coisa. Na verdade, só queria saber o que tanto houve de ruim na sua infância que lhe traz traumas e picos de raiva assim. Só sabia o básico que TaeHoseokg tinha me contado; fora isso, não sabia detalhes.
— Sai do meu quarto, porra! ― Ele gritou e, na mesma hora, concordei.
Meu medo sobre ele certamente tinha diminuído, mas isso não alterava o fato de que ele andava com uma arma e poderia me matar a qualquer momento. Ao passar em frente ao quarto de Taehyung, vi o seu computador aberto.Não deveria fazer isso, mas estava curiosa demais. Sentei-me na cadeira confortável, sem me importar com a porta entreaberta. Entrei no site de pesquisa e comecei a escrever: "O que leva uma pessoa a ter picos de raiva intensos?"
— Pode estar mais relacionado à instabilidade afetiva, descontrole dos sentimentos e emoções, do que à falta de regulação do controle de impulsos. Esse descontrole pode ser um fator de risco para agressividade ― li em voz alta. ― Muitas vezes, a impulsividade pode estar relacionada a traumas passados, como pai agressivo ou uma situação que o deixou completamente vulnerável, fazendo o indivíduo entrar na defensiva.
Era isso. Exatamente isso. Jungkook não deixava ninguém comentar ou continuar falando quando o assunto era família. Ele já tinha sofrido pela mãe doente e pelo pai que não ligava para ele. A rejeição é um dos fatores.
Continuei a ler alguns artigos e comentários sobre o assunto, inclusive em como se pode fazer para solucionar e melhorar isso.A maioria dizia para ir a um psicólogo ou a um psiquiatra, mas Jungkook riria de mim e ainda me mandaria à merda. Ele nunca aceitaria que tem algo ou alguma doença, ainda mais sendo tão incompreensível do jeito que é.
Fechei o computador, refletindo sobre o que tinha lido. Precisava encontrar uma maneira de ajudar Jungkook, mas sem que ele percebesse. Talvez, com o tempo, ele pudesse se abrir mais. Até lá, eu teria que ser paciente e cuidadosa. Afinal, estávamos todos jogando um jogo perigoso, e qualquer movimento errado poderia ser fatal.
Seul, Coreia do Sul - 19:05 p.m.
Jungkook
Assim que Jane saiu do quarto, taquei um tênis no espelho, rachando uma pequena parte. Mas o que ela estava fazendo aqui?
Por que tinha que encontrar essa foto? Por que tinha que fazer tantas perguntas? Essa foto certamente caiu de uma das minhas caixas, onde guardo diversas coisas que me trazem lembranças, a maioria boas. As ruins
aparecem sempre nos meus pesadelos. Eu precisava me arrumar, vestir a roupa e ir direto para a boate, pois haviam chegado novas garotas para a venda. Contudo, não consegui deixar de lembrar daquela foto.
De quando eu ainda era feliz.
FLASHBACK JUNGKOOK ON
Eu corria animadamente pelo parque com um aviãozinho de papel.
Meus pais me acompanhavam pela primeira vez, e eu não podia estar mais feliz.
Os olhei de longe e sorri ao vê-los se beijarem. Outras crianças achariam isso nojento, mas eu queria ser igual a eles quando crescesse. Ter um bom emprego, uma esposa que me amasse imensamente e um filho fofo.
Voltei a brincar com o aviãozinho e corri até minha mãe.
— Omma, venha brincar comigo! ― Pulei alegre ao ver ela se levantar do banco contente.
Minha mãe corria comigo enquanto brincávamos de diversas brincadeiras ao mesmo tempo, como pega-pega e esconde-esconde. Meu pai gravava tudo de longe com sua câmera.
Câmeras. Eu gostava delas. Elas sempre capturavam momentos únicos dos quais você se lembraria para sempre, como este agora. Papai sempre fazia questão de fotografar e gravar quando estávamos em família. Ele me ensinou a tirar fotos da mamãe enquanto cozinhava.
— Vem, filho, o papai vai tirar uma foto ― corri para o lado dela, abraçando-a com meus braços pequenos e sorrindo para a foto.
Fizemos muitas poses; certamente, papai ficaria com inveja de não ter saído conosco.
FLASHBACK JUNGKOOK OFF
Preferia que essas lembranças sempre viessem à tona, mas apenas as piores, aquelas que me fizeram ser quem sou hoje, apareciam. Diariamente, a cada minuto que passava.
— Jungkook, os caras já estão ligando. Disseram que vão embora se não chegarmos logo ― escutei a voz de Taehyung ao longe.Meu trabalho era apresentar as mulheres para os velhos rabugentos e deixá-los aproveitar o quanto quisessem; ao fim do dia, elas seriam contratadas por eles.
— Manda ele ir se foder! Acha que está trabalhando com quem? Se eu quiser chegar lá amanhã, eu chego, porra! ― Gritei.
Terminei de vestir a roupa completamente preta, colocando correntes, anéis e pulseiras, sem esquecer do meu Rolex. Desci as escadas rapidamente, vendo alguns seguranças fazerem a troca de ronda. Jane não estava na sala, o que era estranho, já que nesse horário ela sempre assistia TV. Neguei com a cabeça, afastando o pensamento, e voltei a encarar meu Porsche preto.
Por que diabos eu estava prestando tanta atenção na rotina dela?
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DANGER | Livro I • JJK
FanfictionNuma vida torbulenta Jane se vê em uma encruzilhada, a morte de sua avó vem num momento repentino onde a faz ter que tomar uma decisão. Continuar em seu país natal ou ir ao outro lado do mundo morar com seu pai e tentar uma nova vida. Entre desavenç...