𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 𝖛𝖎𝖓𝖙𝖊 𝖊 𝖉𝖔𝖎𝖘

10.2K 865 207
                                    

Seul, Coréia do Sul – 00:40 a.m.
Jane


Acordei sentindo um frio vindo da varanda aberta. Me virei, espreguiçando-me, e percebi que aquele quarto não era o meu; era o de Jungkook. Os tons escuros não deixavam dúvidas.

Senti uma fisgada na coxa e retirei o cobertor preto, vendo a ferida levemente amarelada por conta de algum remédio e a sutura bem-feita. Ele realmente tinha jeito para isso. Ficaria com uma cicatriz grande na coxa, mas, no momento, isso parecia insignificante.

Percebi que estava apenas de calcinha. Custei a pensar que algo poderia ter acontecido entre nós novamente, mas descartei a hipótese. Ele não faria isso comigo enquanto eu estivesse completamente grogue. A camisa que eu usava também era masculina.

Perguntei-me quando ele tinha ficado tão atencioso.

Observei a lua, tentando criar coragem para descer e comer algo na cozinha. Minha mãe e eu costumávamos olhar as estrelas, era uma rotina que parecia desestressá- la toda vez que chegava do trabalho. Quando papai não estava, era sempre um momento de paz sem brigas ou discussões desnecessárias.

Queria que minha família ainda estivesse aqui, que minha avó estivesse bem e que minha mãe não tivesse falecido naquele maldito acidente. É complicado você dizer que está sozinho. Meu pai não faz questão nenhuma da minha companhia. Tudo que eu tinha ficou no Brasil. Tá, minha vida aqui não era das piores.

Contudo, eu ainda podia morrer a qualquer momento, não tinha com quem contar e não sabia o que seria de mim depois de todo esse tempo.

Dou conselhos a criminosos!

Sei que Jungkook também não é a pessoa mais ruim do planeta e acredito que haja salvação para pessoas como ele. Ele deve ter sofrido muito na vida, e entrar nesse mundo deve ter sido o caminho mais fácil para conseguir dinheiro e poder. No entanto, também não posso dizer que ele é santo e não merece penalidade.

Certamente, depois de toda a humilhação e rejeição que ele teve, a sede de crescer e ter liberdade para agir de certas formas, como assassinar alguém, simplesmente o dominou. Escutei a porta do quarto abrir.

Continuei a olhar para a lua até sentir meu corpo ser descoberto. Olhei para o lado, vendo Areum com uma bandeja. Havia gases, remédios e ataduras.

— Boa noite — ela disse, colocando as luvas.

Confesso que sempre a achei uma grande mulher, apesar de todo esse seu ciúme desnecessário em relação a Jungkook.

— Boa noite — respondi, sentindo o gel frio em contato com minha coxa. Arrepiei-me. — Você está me surpreendendo.

— É, eu sei. Na verdade, você deve me achar uma idiota por ter ciúmes de algo que não é mais meu — disse ela.
— Quero pedir desculpas por isso. Meu temperamento é forte, assim como o do Jungkook. Desde que chegou aqui, pensei que iria fazer algo para nos prejudicar, já que seu pai não é flor que se cheire. Contudo, depois de tudo que observei, vi que na verdade você é uma vítima, assim como eu fui.

Ela não olhava para mim enquanto falava, mas podia perceber suas bochechas coradas pela luz acesa. Não guardo rancor nenhum dela, mas confesso que bateu curiosidade de saber a sua história.

— Vou falar isso para você, mas é coisa que apenas o meu irmão sabe — disse em relação a Namjoon. — Vivíamos em extrema pobreza no subúrbio de Daegu, tínhamos que trabalhar para conseguir por comida em casa. A única forma que encontrei de ganhar dinheiro rápido foi me entregando aos homens mais velhos, tinha treze quando comecei a fazer isso, eles pagavam 20 dólares na época e a maioria era casado. Nosso pai nunca estava em casa e além disso minha mãe faleceu quando estava de resguardo após ter me tido. O Namjoon aos dezesseis anos começou a fazer venda de drogas para conseguir mais dinheiro e de forma mais rápida. Quando fiz dezesseis conheci o Jungkook — ela passou a atadura por volta de toda a minha coxa para não arriscar machucar mais. — Eu era adolescente imatura, na época ele estava começando na máfia, tinha brigas com seu pai e foi aí que ele chamou Namjoon para fazer parte da sua equipe e também ser um chefe da segurança.

— Eu realmente sinto muito por tudo isso que você passou, não posso imaginar o quão horrível deve ter sido — disse completamente abalada, cada um ali tinha uma história diferente, uma história diferente e completamente marcante.
Sinceramente podia se entender o porquê de estarem aqui e desta forma hoje.

— Me deixe terminar — concordei vendo ela retirar as luvas e se sentar de joelhos, agora olhando nos meus olhos. — Quando vi Jungkook pela primeira vez, jurei ter sido amor à primeira vista. Ele nos ajudou e isso consequentemente me deu mais esperanças de que aquilo podia dar certo entre nós. Eu me aproximei dele, ele também se aproximou de mim e acredito eu que ele também tenha me amado, mas por um curto período de tempo. Não namoramos a sério, mas vivíamos em um relacionamento sabe? Não houve pedido de namoro ou todas estas baboseiras — ela suspirou. — Com o tempo eu fui amadurecendo e percebendo que tudo que a gente teve se baseou em sexo, não havia conversa, sentimento, amor, era algo simplesmente carnal. Definitivamente paramos de ter algo quando ele começou a transar com diversas mulheres todos os dias, isso aconteceu quando ele abriu a primeira boate.

— Entendo, eu sei bem como é isso. Você criou uma dependência neste namoro, achando que estava nas mil maravilhas satisfazendo ele quando na verdade você só ia se afundando mais — comentei abalada.

— Exatamente. Eu sempre fui assim em relação a ele, tenho um pouco de ciúme e de vez em quando acabo ultrapassando o limite — ela pegou minhas mãos e sorri tentando aconchegar ela. — Então me desculpe por ter agido como uma vadia em relação a você.
Sorri sentindo meu coração ficar quentinho, que bom que Areum tinha tomado esta iniciativa.

— É claro que te perdoo, não guardo rancor algum de você e você tem o direito de ficar incomodada, afinal eu cheguei na sua casa do nada como a esposa do seu ex — solto uma risada e escuto ela sorrir também.

— Isso era algo que ficava me intrigando e que não tinha coragem para falar, mas agora até me sinto mais leve — riu ela.

Acho que agora eu tinha uma nova amiga. Quer dizer, ao menos outra mulher para conversar nesta casa.


Seul, Coréia do Sul – 00:55 a.m.
Jungkook

Amarraram ele bem? — Perguntei, encarando o loiro que me fitava com seriedade. Suas artimanhas eram conhecidas, então não permitiria que nada de ruim acontecesse comigo nesta situação tão favorável.

— Sim, senhor — respondeu Namjoon.
Me aproximei do sujeito, encarando-o nos olhos enquanto segurava um taco de baseball.

— Você é tão burro assim para tentar entrar pela porta da frente? — Questionei, ouvindo as risadas dos outros.

— Não sou burro, Jungkook. Esse era exatamente o plano, você me pegar — retrucou ele. Arqueei a sobrancelha, passando os lábios pelo lado interno da bochecha. Deveria imaginar que ele jogaria o mesmo jogo que eu.

— Será mesmo ou você só está tentando reverter a situação, Park? — Dei a volta na cadeira em que ele estava sentado.

— Por que eu mentiria? Yoongi disse que você faria exatamente isso, ficaria me bajulando e me bateria até eu falar alguma coisa. Além disso, ele mandou um recado para você — soltou uma risada nasal, mostrando audácia. — Disse que sábado terá um racha no Pico Gang e que quer muito conhecer sua esposa.

Meus punhos se fecharam na mesma hora em que Jane foi mencionada.

— O que eu vou ganhar com isso? — Voltei a ficar frente a frente com ele.

Meus dedos coçavam para bater naquele rosto com o taco, mas esperaria a hora certa. Se Min Yoongi achava que poderia fazer um plano idiota assim e que seu fiel escudeiro não sairia machucado, estava muito enganado.

— Vale o território Fulk, você sabe muito bem onde é e o que é — ele sabia. E como sabia.

Fulk era a área mais desejada por todos os criminosos sul-coreanos, e até mesmo pelos do norte. Uma área militar vazia e estratégica para ataques, onde havia bombas, armas e até mesmo túneis subterrâneos.

Definitivamente, eu teria que ganhar essa corrida. Ter o território Fulk era o mesmo que conquistar um território na antiga União Soviética, completamente impossível e proibitivo.

E significava mais poder.

E mais poder significava mais dinheiro e mais aliados.

DANGER | Livro I • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora