𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 𝖖𝖚𝖆𝖙𝖗𝖔

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Ilha de Bora Bora - 13:04 p.m.

 Jane

Ficar parada naquele avião sem ao menos ver um filme me fazia lembrar de coisas que não desejava. A monotonia do voo parecia aguçar ainda mais as memórias dolorosas que insistiam em ressurgir. Era como se as paredes do avião fossem espelhos refletindo os momentos que preferiria esquecer. 

Cada turbulência era como um eco dos tempos turbulentos que vivi ao lado da minha mãe, ausente devido à presença sombria daquele homem drogado que arruinava todos os nossos sonhos.

Recordar minha infância sem a presença amorosa da minha mãe era como reviver um conto de fadas sem o final feliz. Imaginar como teríamos sido felizes juntas se não fosse pela presença tóxica daquele homem, que transformava nossa vida em um pesadelo, era uma tortura constante. 

E a ironia do destino era que sempre parecia haver um homem para estragar tudo. No meu aniversário de cinco anos, ele entrou completamente bêbado.

 A sala estava repleta de parentes e colegas da escola, mas a alegria foi eclipsada pela chegada dele. Seu estado embaraçoso contrastava com a festa cuidadosamente planejada pela minha mãe. A garrafa de cachaça em sua mão era um símbolo de destruição, e seu sorriso sarcástico, um prenúncio de dor. 

Ele não se conteve em estragar a festa; suas palavras ásperas e insultos lançados à minha mãe e a mim transformaram o evento em um trauma que ecoaria por anos. Aquela cena marcou o início de uma espiral descendente em minha vida social. 

Nunca mais consegui confiar em ter amigos naquela escola. 

Somente dois anos depois, tive a chance de começar de novo em um novo colégio, onde ninguém conhecia meu passado marcado pela presença daquele homem. Aquele dia fatídico foi apenas o começo de uma série de eventos que reafirmaram a influência tóxica dele em minha vida. 

Sempre que ele aparecia, a tensão pairava no ar, contaminando até mesmo os momentos mais felizes. 

Sua morte não trouxe alívio imediato; pelo contrário, sua sombra continuava a pairar sobre nós, afastando até mesmo os familiares da minha mãe.


Depois de uma longa viagem de barco, chegamos aos hotéis do complexo à beira- mar. A ostentação e o luxo que nos cercavam eram desconcertantes para alguém como eu, cuja alma humilde e simples não se encaixava naquele cenário de opulência. 

Apesar da beleza deslumbrante do lugar, havia uma discrepância entre a grandiosidade do ambiente e minha própria história marcada pela adversidade.


Enquanto os seguranças conduziam nossas malas para o quarto, eu percorria o corredor dos alojamentos, observando as pessoas ao redor. Todos pareciam tão superficiais quanto Jungkook, cuja expressão séria e postura rígida chamavam a atenção dos desconhecidos.


O alojamento era uma mistura de conforto e desconforto. Enquanto contemplava as amenidades luxuosas ao meu redor, não pude deixar de notar a presença constante de Jungkook e a inevitabilidade de compartilhar o mesmo espaço com ele. 

Sua decisão de não pedir um quarto separado despertou em mim uma mistura de curiosidade e desconfiança, levantando questionamentos sobre suas verdadeiras intenções. Talvez houvesse mais do que parecia à primeira vista, e eu estava determinada a descobrir.


— Vamos até a praia — ele disse, despojando-se de sua camisa preta e tênis. — Lembre-se de que precisamos manter as aparências, podem haver olheiros por aí.

DANGER | Livro I • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora