𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 𝖛𝖎𝖓𝖙𝖊 𝖊 𝖓𝖔𝖛𝖊

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Seul, Coréia do Sul – 02:01 a.m.
Jane


Jungkook continuava a murmurar incoerências, suas palavras carregadas de frustração e desgosto, enquanto eu contornava a cama pela terceira vez, tentando decifrar a confusão que se desenrolava diante de mim.

O pijama, duas vezes maior que meu corpo, arrastava-se pelo chão enquanto eu o segurava com os calcanhares, minha mão desaparecendo sob o excesso de tecido, transformando-me em uma caricatura infantil. Era uma cena quase cômica, se não estivesse com o coração batendo descompassado no peito. Essa era uma experiência totalmente nova para mim.

— Não aguento mais você, não aguento mais essas suas desculpas — Jungkook disparou, completamente atordoado, enquanto os lençóis da cama se amontoavam em volta dele. Eu vacilei, questionando se deveria ou não me aproximar. Será que devia?

Afinal, não é todo dia que se encontra alguém em uma situação como essa. O que eu deveria fazer?

Por um breve instante, ele se aquietou, embora continuasse a murmurar coisas sem sentido, sua voz ganhando intensidade, longe de ser tranquila. Mas seu corpo permanecia imóvel, apenas a testa franzida em um sinal de desconforto.

Decidi subir na cama novamente, dessa vez com cuidado para não levar um empurrão, afinal, já ouvi histórias de pessoas que sofreram graves ferimentos por quedas assim. Quem garante que não aconteceria o mesmo comigo?

Afaguei seu braço, sentindo-o se contorcer de medo, e o sacudi suavemente, tentando despertá-lo. Ele piscou, mas logo voltou a dormir. Então, deslizei os dedos por seus cabelos, empurrando-os para trás.

— Jungkook, acorda! — Minha voz soou mais alta ao seu ouvido, numa tentativa desesperada de romper com o pesadelo que o aprisionava. — Vamos, Jungkook — insisti, até que finalmente ele despertou, assustado, seus olhos percorrendo o quarto escurecido até me encontrarem.

Sua respiração estava acelerada, e eu pude sentir seu coração disparado sob minha mão em suas costas.

— O que aconteceu? — Ele perguntou, enquanto eu limpava o suor que escorria pelo seu rosto, me aproximando dele.

— Você teve um pesadelo com seu pai — expliquei, minha voz suave na tentativa de confortá-lo. — Não quer falar sobre isso? — Jungkook balançou a cabeça negativamente, parecendo ainda atordoado enquanto seus olhos fixavam-se no vazio, repletos de medo. Suspirei, encarando aqueles olhos assustados, algo raro de se ver.

Amaldiçoando-me mentalmente por minha própria fraqueza, inclinei-me para frente e juntei nossos lábios em um beijo breve, mas reconfortante.

Jungkook pareceu despertar mais completamente quando me deitou no colchão, suas mãos encontrando um lugar ao lado da minha cabeça, enquanto eu acariciava seu rosto, buscando acalmá-lo após o tormento.

Encostei nossos lábios, o beijo era uma dança lenta e intensa, nossas línguas se encontrando em um ritmo que nos deixava ansiar por mais.

Enquanto minhas mãos permaneciam firmemente sobre seus ombros, as dele deslizavam pelas minhas costas, causando um atrito delicioso. Era surpreendente como toda vez que nos beijávamos, era como se uma conexão elétrica percorresse nossos corpos.

O som dos nossos lábios se movendo juntos criava uma atmosfera carregada de desejo, mas ambos sabíamos que não iria além daquilo ali.

Ele ainda se apoiava nos braços, enquanto suas mãos acariciavam minhas costas e desciam brevemente até minhas panturrilhas com uma suavidade contrastante com a aspereza de seus pés. Mesmo assim, senti um arrepio percorrer minha pele.

Quando percebi que ele havia se acalmado e seu coração já não batia tão acelerado, diminuí a intensidade do beijo, finalizando com três selinhos demorados. Nossas testas permaneceram unidas por alguns instantes, enquanto recuperávamos o fôlego e trocávamos olhares cheios de significado.

— Você está bem? — Perguntei, acariciando seus cabelos.

— Estou. Só estou atordoado porque terei que vê-lo amanhã — Jungkook me deu um selinho antes de deitar ao meu lado novamente, deixando claro que se referia ao seu pai.

Virei-me de bruços e apoiei os cotovelos no colchão.

— Como seu pai conseguiu ter uma empresa? — Minha mente ecoava todas as histórias e relatos que Jungkook já havia compartilhado sobre ele. Um pai abusivo, alcoólatra, que só causava dor ao filho e à esposa. Um homem que o fez acreditar que era inútil ao longo de toda a sua vida e que ainda assim seguia sua trajetória como se nada disso importasse.

— Ele herdou do vovô. Foi por causa disso que assinei o contrato de casamento — Jungkook bufou, tenso, e passou o braço por trás da cabeça como apoio. — Eu tenho direito a 40% dos lucros da empresa, que faz parte da herança do meu avô, mas tenho que seguir as regras impostas por ele. Uma delas é que eu preciso estar casado para receber minha parte. Não é pelo dinheiro, entende? É só pela oportunidade de poder tirar algo daquele desgraçado que um dia chamei de pai e, quem sabe, colocar um fim nisso tudo. Eu sei que a empresa cresceu à base de roubo, corrupção e diversos outros problemas. Os problemas do Jungsan são de família, afinal.

Jungsan. Esse era o nome maldito que assombrava as noites de Jungkook. Ou, pelo menos, um deles.

— Você é forte por ainda conseguir olhá-lo nos olhos. Eu já sinto nojo e repulsa só de pensar no meu próprio pai por me colocar nessa situação — desabafei.
Ele me lançou um olhar cujo significado não pude decifrar; não sabia se era dúvida, interesse ou melancolia.

— Teremos que ir lá amanhã — ele voltou a encarar o teto. — Felizmente, já posso receber minha parte e ele quer te conhecer para ter certeza de que me casei — bufou. — Certamente, ele fará milhões de perguntas, então sugiro que inventemos uma história para tudo isso, embora não seja realmente da conta dele — houve uma breve pausa, e eu pude ver seu peito subindo e descendo com mais intensidade. Ele estava cansado. — Você sabe que sou meio que uma figura pública aqui e em outros países, envolvido com ONGs e outros trabalhos que ajudam crianças ou animais. Compareço a alguns eventos importantes. A mídia já noticiou nosso casamento, mas não revelou nada sobre nossa história ou um possível relacionamento.
Como alguém tão ambíguo conseguia causar tanto mal e, ao mesmo tempo, ajudar tantas pessoas? Nunca havia conhecido alguém com um coração tão bipolar quanto o dele.

Confesso que saber disso me deixava orgulhosa e feliz. Feliz por saber que, mesmo ganhando dinheiro ilegalmente, ele tentava fazer a diferença na vida de muitas pessoas, mesmo que tenha sido responsável pelo fim de outras tantas.

Pessoas sem-teto, pessoas que passaram por problemas semelhantes aos dele e que, infelizmente, não receberam o apoio necessário.

— O que podemos inventar? Que nos conhecemos em um restaurante? — Sugeri.

— Não, melhor uma boate. Meu pai sabe que não sou de frequentar lugares chiques — ri com sua sinceridade. — Você pode dizer que estava curtindo com suas amigas e que eu a vi, dançamos juntos e terminamos a noite em um quarto — ele me encarou com um sorriso malicioso.

— Isso era inevitável... Você não consegue ficar sem falar ou pensar em sexo? — Brinquei, voltando a deitar de barriga para cima, coçando minha barriga e, consequentemente, puxando ainda mais a camiseta do meu pijama para cima.

— Não... Acho que, em vez de me tornar um mafioso, eu poderia ter sido um ator pornô — ri com sua fala, sentindo-o cheirar meu pescoço e arrepiando-me.

— Ah, não, Jungkook! — Reclamei. Não era hora para isso. Eram duas da manhã, estávamos exaustos depois do pesadelo, e ele vinha com essa? — Cara, eu só quero dormir. Talvez antes do treino de amanhã, eu possa te dar um agrado — virei-me para o lado oposto, apoiando o queixo nas mãos, até sentir um aperto forte em minha cintura.

— Prefere que eu te amarre na cama e te provoque até você enlouquecer?

DANGER | Livro I • JJKOnde histórias criam vida. Descubra agora