DANGER | Livro I • JJK

𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 𝖛𝖎𝖓𝖙𝖊 𝖊 𝖔𝖎𝖙𝖔

Cinco dias depois
Seul, Coréia do Sul – 22:40 p.m.
Jane

Virei-me para o outro lado da cama na tentativa de encontrar o sono, porém a lembrança do homem desconhecido apalpando meus seios persistia, atormentando-me pelo segundo dia consecutivo e impedindo-me de descansar adequadamente.

Era uma sensação desagradável, que se repetia incessantemente como uma cena de filme indesejada.

As mãos ásperas, rechonchudas e veiadas pareciam ecoar em minha mente, como se fossem um grande pesadelo do qual eu não conseguia me libertar.

Não posso manter uma fachada de força eternamente.

Também tenho minhas inseguranças e imperfeições. Muitas vezes, durante discussões com outras pessoas, sinto o desejo de fugir para um banheiro e desabar em lágrimas.

O medo de ser mulher na sociedade atual é avassalador, superando até mesmo o temor de ataques de tubarão em um ano inteiro. Enquanto estatísticas indicam que uma em cada dez pessoas sofre ataques de tubarão em meses ou até mesmo anos, uma em cada cinco mulheres é vítima de abuso a cada minuto.

Embora essa comparação possa parecer exagerada, ela ressalta a limitação de nossos medos a eventos tangíveis e a proximidade de ameaças reais.

É irônico como, pela milésima vez, me pergunto por que isso está acontecendo em minha vida. Embora tenha experimentado momentos felizes, a maior parte do tempo é marcada por eventos negativos que deixam cicatrizes profundas.

E eu odeio cicatrizes, pois elas se transformam em problemas persistentes em nossa mente.

Jungkook respeitou meu espaço desde aquele incidente e não voltou a tocar no assunto, pelo qual sou grata. Talvez ignorar o ocorrido pudesse melhorar as coisas, mas sei que essa não é a verdade.
Minha refeição estava sobre o criado-mudo, mas ainda não encontrei coragem para levantar e comer ao menos as frutas cortadas ali.

Nos últimos dias, tenho notado uma mudança até mesmo em minha relação com Jungkook. Por algum motivo, meu coração acelera sempre que conversamos, e sinto uma estranha familiaridade, como se estivesse revivendo um sentimento que experimentei anos atrás, quando namorava Marcus.
Não quero admitir que estou apaixonada por ele.

Valorizo nossa amizade, e até mesmo nossa única experiência íntima me faz falta. No entanto, sei que não é algo que durará para sempre e que não vale a pena prosseguir.

É algo fora de questão, especialmente porque Jungkook não é o tipo de homem para se envolver em um relacionamento exclusivo.

Jungkook não possui a estabilidade emocional necessária para um relacionamento, com seus ciúmes possessivos e o peso do trabalho que carrega diariamente.

Ouvi a porta se abrir e resmunguei novamente, consciente de que amanhã teria mais um treino com Jungkook, e este era meu único dia livre até lá. Decidi permanecer deitada, envolta em cobertas, debaixo do ar-condicionado, tentando recuperar-me das imagens perturbadoras.

Ver Jungkook espancar o homem não foi suficiente para aliviar minha mente. Aquela imagem também se repetia, deixando-me perplexa com a bipolaridade dele. Às vezes, ele conversava comigo sobre seus traumas passados e ria das minhas piadas sem graça, e em outros momentos, parecia um serial killer sanguinário.