10. O traje esquecido

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Se Penny já tinha um carinho especial por Gustavo desde a primeira vez que se falaram, sua admiração por ele aumentou muito depois daquela revelação. Embora a notícia a tivesse realmente pego de surpresa, só de imaginar o quanto ele tinha se esforçado para lhe contar o seu maior segredo sem exigir nada em troca já era suficiente para que os seus sentimentos por ele se tornassem ainda mais fortes; afinal de contas, ele só tinha feito isso para que ela não se magoasse, porque já tinha percebido o quanto ela estava envolvida.

Penny não tinha como não se comover; ela mesma foi encarregada de providenciar uma hospedagem para Gustavo e Rita nos arredores de Hogsmeade, e de despachar para eles uma carta informando o dia e horário da partida do Expresso de Hogwarts, que seria justamente no início da Lua cheia...

Mesmo acreditando que Gustavo pudesse fazer alguma coisa para contornar a situação, ela não se admirou quando o exemplar do Profeta Diário de sábado foi distribuído sem qualquer foto na matéria sobre a chegada das delegações de Beauxbatons e Durmstrang. No domingo de manhã, Penny recebeu uma coruja de Hogsmeade, e ficou emocionada ao ver uma carta escrita pelo próprio Gustavo:

Penny,

Cheguei a Hogwarts na sexta, mas infelizmente não pude acompanhar a chegada das delegações; digamos que não tenha sido uma das minhas melhores noites. Mas acho que não vai haver problemas para o jornal; o Cálice de Fogo acabou sorteando um campeão a mais para Hogwarts e agora a Rita não fala sobre outra coisa. Ela está muito animada com o que pode acontecer; não vou entrar em detalhes pois sei que o Ben sempre mantém você informada sobre tudo. A propósito, encontrei a minha irmã aqui; ela me contou que foi selecionada para a Lufa-lufa.

Desculpe por escrever assim, mas eu estava precisando mesmo conversar com você. Eu realmente gostaria que você pensasse a respeito do que eu falei, espero sinceramente não ter lhe assustado da última vez que conversamos. Mande-me a resposta se você ainda estiver interessada em falar comigo; caso contrário, eu vou entender, não se preocupe, eu só quero o melhor para nós dois.

Com carinho, Gustavo.

Ela terminou de ler a carta e a apertou em seu peito; estava decididamente apaixonada por ele. Por que ele tinha que ser um lobisomem, por quê? A vontade que ela tinha era estar com Gustavo ali, e poder abraçá-lo naquele mesmo momento...

Penny teve que guardar a carta rapidamente ao ouvir a voz de seu pai; ao contrário dela, o sr. Clearwater parecia nervoso e apressado.

— Era só o que me faltava! Esse moleque não toma jeito mesmo!

— Algum problema, pai? — perguntou Penny, dirigindo-se para onde o seu pai estava: o quarto de Ben.

— Acabei de descobrir que o seu irmão se esqueceu de levar o traje a rigor que eu comprei para ele — respondeu o sr. Clearwater, segurando um conjunto de terno e gravata cinza-chumbo e uma camisa azul celeste que havia tirado do guarda-roupas. — O traje faz parte do torneio, estava na lista de materiais! Agora vou ter que dar um jeito de levar isso até ele; será que o correio-coruja dá conta?

— Eu posso fazer isso — disse Penny; uma ideia tinha acabado de surgir em sua mente. — Eu estava mesmo precisando falar com o Ben; posso levar para ele no próximo fim de semana em Hogsmeade, agora em novembro.

— Ótima ideia, filha; faça isso. Não se esqueça de levar os sapatos também.

— Pode deixar comigo, pai — respondeu a garota, e voltou para o seu quarto, sorridente.

Realizada pela possibilidade de se encontrar novamente com Gustavo, ela apanhou uma pena no tinteiro e um pergaminho, e começou a escrever:

Gustavo,

Fiquei surpresa ao receber uma carta sua, é muita gentileza da sua parte me manter informada do que está acontecendo em Hogwarts. O Ben nunca mais me escreveu, ele deve estar atolado de deveres por conta da aproximação dos N.O. M’s. Mas não se preocupe, porque ele nunca manda os detalhes direito.

Eu também estou sentindo a sua falta, mas quanto a isso também não se preocupe; consegui arrumar uma desculpa para ir a Hogsmeade no dia 21 de novembro, que é quando os alunos terão permissão para visitar o povoado. Que tal a gente se encontrar no Três Vassouras?

Espero que você esteja OK, a gente se encontra aí.

Penny.

Ela despachou a correspondência e se deitou na cama, pensativa; era difícil imaginar que Gustavo fosse um monstro ou coisa parecida. Nem de longe. Não era culpa dele que tivesse sido mordido, e ele não merecia ser punido ainda mais por conta disso. Contemplando o teto do quarto, Penny subitamente descobriu que queria sim estar com ele, independentemente de qualquer coisa.

༺༻

As edições do Profeta Diário dos dias que se seguiram confirmaram aquilo que Gustavo afirmou em sua carta: o Cálice de Fogo tinha escolhido, efetivamente, dois campeões para Hogwarts. Entretanto, um deles era Harry Potter e, como Penny bem sabia, ele não tinha idade suficiente para competir.

Apesar disso, ao que tudo indicava, o garoto tinha conseguido novamente driblar as regras e o deixaram participar mesmo assim. Rita Skeeter não ficou para trás; tanto que o seu artigo para o Profeta Diário não foi tanto uma notícia sobre o torneio, mas uma versão extremamente pitoresca da vida de Harry. Quase toda a primeira página da edição de quarta-feira foi ocupada por uma foto dele; havia mais quatro páginas do jornal falando sobre ele, enquanto o outro campeão de Hogwarts sequer foi mencionado.

— Como foi que conseguiram permitir que ele competisse? — Penny indagou, ao ler a matéria em casa na hora do jantar. — Pensei que só os alunos maiores de idade pudessem participar.

— Isso era o que se esperava — concordou o sr. Clearwater. — Mas as regras diziam que o Cálice de Fogo deveria escolher o nome de quem ele julgasse mais digno de representar suas escolas; resta saber como o garoto fez para conseguir enganar um objeto mágico tão poderoso para aceitar a inscrição dele.

— Para mim, essa história está muito mal contada — retorquiu Penny. — Deveria haver apenas um campeão para cada escola; não interessa se um Cálice maluco sorteou o nome de um aluno que claramente sabotou as regras. Ele deveria ser punido, isso sim. Ou será que resolveram puni-lo o fazendo participar do torneio? Porque pelo que eu entendi o negócio não é tão fácil assim, teve gente que até já morreu nesses campeonatos, não é isso? Ou estou enganada?

— Isso foi em torneios anteriores — disse o sr. Clearwater. — Por conta das mortes, o torneio ficou suspenso por quase um século; as provas exigiam que os campeões enfrentassem dementadores, lobisomens, essas coisas. Espero que sejam mais prudentes desta vez.

Penny sentiu um calafrio; tinha acabado de se deparar com o seu velho dilema: seu pai. Ela sabia muito bem que ele jamais iria permitir que ela namorasse um lobisomem.

Sem saber o que fazer, ela passou as semanas que se seguiram convivendo com um conflito interno em sua mente, vendo-se obrigada a decidir se realmente estaria disposta a enfrentar tudo para ficar com Gustavo, mesmo sabendo do que a aguardava pela frente.

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