20. A primeira noite

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— O meu pai está louco — disse Penny paralisada, sentando-se na poltrona que geralmente era ocupada pelo sr. Clearwater. — Qual é o problema dele? Por que foi que ele fez isso?

Gustavo olhou para Penny sem saber o que dizer; assim como ela, também estava custando entender o que havia acontecido.

— Aonde é que ele foi?

— Hogwarts — ela disse, com as mãos trêmulas. — Disse que foi contratado como Professor de História da Magia. Mas ele não p-p-podia ter feito isso… O que é que nós vamos fazer?

— Penny... isso é mesmo muito ruim? — Gustavo perguntou hesitante.

— Claro que é! Você sabe como funciona o Voto Perpétuo; ou você o cumpre, ou você morre! Agora você vai ter que ficar aqui para sempre; inclusive hoje, que é noite de Lua cheia!

O rapaz prendeu a respiração, sentindo finalmente o peso do que havia feito. Como poderia ter jurado proteger Penny, sendo ele mesmo uma ameaça?

— Eu sinto muito, eu não devia ter aceitado — ele disse relutante. — Eu só não quis contrariar o seu pai; foi a primeira vez que ele confiou em mim, e eu não sabia o que fazer... E, além disso, eu não tenho mais onde ficar — completou, num tom de voz bem baixo.

Penny levantou agoniada, andando de um lado para outro da sala com as mãos à cabeça. As palavras da sra. Branstone martelavam na mente de Gustavo, e faziam seu peito doer como se tivesse sido rasgado por presas afiadas:

Será que você não entende? Essa moça pode dizer que não se importa agora porque não assimilou as coisas ainda, mas um dia ela vai se dar conta de tudo, e o que vai acontecer?

— Tem que haver um jeito de desfazer isso — a voz chorosa de Penny o despertou.

— Eu tomei a Poção do Acônito a semana inteira. Confie em mim; a minha mãe é uma ótima preparadora de poções, a melhor que eu conheço.

— Mas você não pode se esconder aqui, Gustavo! — Penny exclamou aflita. — Eu não sei como lidar com essa situação…

— Eu não posso sair daqui, Penny; eu jurei ao seu pai que lhe faria companhia.

— Pois vamos ter que arrumar um jeito de quebrar o juramento antes que algo pior aconteça!

— Não existe magia capaz de quebrar um Voto Perpétuo; a menos que eu o descumprisse...

Penny cobriu o rosto com as mãos, incrédula. Gustavo sentia como se o seu coração tivesse sido arrancado do peito, e ele tivesse sido abandonado para sangrar até a morte. Ele sentia todo o peso da culpa pelo que havia acontecido recair sobre si. Com muita relutância, conseguiu juntar coragem para falar:

— Vamos escrever para ele, Penny; vamos contar tudo... Você pode dizer que não sabia de nada; tenho certeza de que ele não vai permitir que eu fique aqui se descobrir a verdade...

— Mas, e você, Gustavo? — retorquiu Penny, as lágrimas agora escorrendo de seus olhos sem que ela pudesse contê-las. — O que vai ser da sua vida se isso acontecer?

— Eu vou embora — respondeu ele, esforçando-se para não chorar também. — Nem que eu tenha que morrer. Você não é obrigada a carregar comigo essa maldição pelo resto da vida.

Penny não respondeu; ela respirou fundo tentando se acalmar, o silêncio parecia subir em espirais. Por fim, enxugou as lágrimas e tomou fôlego antes de conseguir falar:

— Existe algum jeito de quebrar o voto sem que você morra ou a gente tenha que se separar para sempre?

— Não — respondeu Gustavo. — Você ouviu o seu pai, sou obrigado a lhe fazer companhia enquanto ele não estiver aqui.

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